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O envelhecimento e a sociedade atual



Dia 15 de junho é o dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Para discutir sobre a questão do envelhecimento na sociedade atual e os projetos oferecidos pelo CEFD para os idosos, falamos com o professor Marco Aurelio Acosta, diretor do CEFD e um dos coordenadores do Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (NIEATI).

Julia do Carmo: Como surgiu a iniciativa de se trabalhar com idosos no CEFD?

Marco Aurelio Acosta: A ideia originalmente surgiu por parte do professor José Francisco Dias, o Juca, que durante seu trabalho de mestrado se deu conta de que a universidade não formava os nossos alunos para trabalhar com pessoas mais velhas, isso lá no início na década de 1980.  Então a partir de 1984, ele começou com projetos de extensão com acadêmicos voluntários para trabalharem com idosos. Mas a perspectiva foi exatamente essa, de um questionamento da formação em Educação Física, que eu imagino que seja um questionamento que outros cursos podem e devem fazer.

É todo um país que se pensa diferente. Há 40 anos tinha aquele famoso slogan “O Brasil é um país de jovens”. Isso já não funciona hoje. Os idosos estão ocupando cada vez mais espaços e precisam de ações específicas pra eles. A Educação Física teve o mérito de ter começado, ter tido essa percepção através do trabalho do professor Juca e a ideia é que a gente multiplique dentro da universidade e na comunidade esse tipo de olhar.

J.C.: Quais os principais projetos oferecidos pelo NIEATI?

M.A.A: Nossos dois projetos mais conhecidos são o ciclo de cinema e o Acampavida.  O ciclo que está indo para sua 4ª edição, tem como ideia discutir o envelhecimento, pois uma coisa é focar nos velhos, outra é tu pensar nas pessoas de 30, 40 e como eles podem chegar à velhice melhor. Já o Acampavida, que está indo para sua 14º edição no próximo mês de outubro é um evento que celebra dentro da universidade essa preocupação com o envelhecimento. Também temos vários outros projetos de extensão, o mais antigo deles, o Grupo de Atividades Física para pessoas da Terceira Idade, está espalhado nas periferias e em outras cidades. O projeto de idosos com natação também é antigo e hoje atende mais de mil pessoas por semana. Temos ainda projetos no Lar das Vovozinhas e o coral Cantando a Vida, além de outros de extensão e pesquisa. Outra preocupação nossa é a formação de recursos humanos. Além de um evento para isso, existe uma disciplina no bacharelado “Educação Física e Envelhecimento”, que tenta dar a formação especificamente para esse público.

J.C.: E como é trabalhar a ideia de velhice com os jovens? Há a resistência deles em se colocar no papel do outro?

M.A.A: A gurizada tem dificuldade de se imaginar com 60 anos. Eles se imaginam com essa idade as com a vitalidade de 20.  Por isso eu acho interessante fazer eles olharem para os pais e para os avós. Pensarem como eles chegaram até aquela idade, suas limitações e dificuldades.  Talvez para chamar a atenção um pouco para esse idealismo do jovem. Eu faço um trabalho com eles que é uma biografia. Eles tem que entrevistar qualquer pessoa com mais de 60 anos e depois apresentá-la contextualizando com os textos trabalhados em aula. Geralmente, eles acabam pegando um ascendente, um avô, uma avó. E a maioria confessa que na verdade não conhecia muito bem aquela pessoa. Era aquela figura caricata, não sabiam de suas dificuldades financeiras, amorosas, do que tinham passado na vida. Acaba sendo uma aula de humanidade. O que acaba ajudando na mudança de mentalidade do país quanto ao idoso. Porque não é por lei que tu muda um país, é mudando as pessoas.

J.C.: As taxas demográficas mostram que em alguns anos a maioria da população do Brasil será composta por idosos. O senhor acredita que o país está se preparando para essa mudança?

M.A.A: Acredito que a preocupação com essa nova realidade começou na academia para depois chegar à sociedade. Eu percebo hoje que o envelhecimento vem sendo tratado de forma diferente do que era em alguns anos. E é interessante ressaltar que isso ocorreu de forma muito rápida. Esse processo levou um século para acontecer na Europa e, no Brasil, está acontecendo em 30 anos, é algo que muda profundamente com as estruturas sociais e econômicas do país. Mas o Brasil tem dado alguns passos em direção à leitura desse novo momento.

J.C.: E com essa longevidade, os idosos acabam ocupando cada vez mais espaços. Aqui dentro da universidade, principalmente após o REUNI, vários idosos ingressaram na UFSM. Como fica a preparação do professor para essa nova realidade?

M.A.A: A gente tem um projeto bem antigo, de 1992, que se chama Aluno Especial II nessa perspectiva de inserir pessoas com mais de 55 anos, alfabetizadas – esses são os únicos critérios – em disciplinas junto com alunos da graduação. A gente percebeu que isso fazia com que alguns professores se assustassem quando no meio da gurizada de 18, 20 anos, tinha um idoso. Mas acredito que professor é professor para todos, qualquer idade. Eu já tive disciplinas com idosos e era bem interessante. Tinha que mudar um pouco a estratégia, falar mais alto, fazer o idoso sentar perto do professor, coisas simples de serem feitas por qualquer um.

J.C.: Qual a importância que o senhor vê nesses projetos para mudar a mentalidade acerca do papel do idoso?

M.A.A: Ele é importante na medida em que ajuda a mudar a perspectiva que a gente tem, através do conhecimento do outro. Pois quando tu conheces e tu aceitas as diferenças e limitações do outro, tu podes passar a entendê-lo e cuidá-lo. As pesquisas universitárias vêm um pouco nesse sentido de mostrar o diferente e desmistificar algumas coisas que se criaram como tabus e não são verdadeiras.

J.C.: E quais os principais benefícios trazidos a essas pessoas que participam dos projetos?

M.A.A: Podemos dividi-los e dois campos, os psicossociais e os orgânicos. Na minha leitura, os primeiros são mais importantes. Os orgânicos são óbvios, do ponto de vista de retorno da atividade física, como a melhora da capacidade respiratória, flexibilidade, controle de pressão, peso etc. Do ponto de vista dos ganhos psicossociais tu estimulas que as pessoas voltem a ter redes de sociabilidade.  Porque é muito comum as pessoas passarem muito tempo isoladas. O homem no mundo do trabalho e a mulher no ambiente doméstico. Porque hoje, de quem é velho, a grande maioria das mulheres não foi para o mercado de trabalho. Estando em um projeto, tu recompões esse tecido social. Essa pessoa acaba ampliando suas possibilidades e vendo o mundo de forma diferente. Depois, quando ela vai conversar com o filho, o neto, ela deixa de ser aquela figura mítica da avó em casa, tricotando ou do avô aposentado que fica todo o tempo em casa. Muda a relação familiar, a ideia que as outras pessoas fazem do idoso.

J.C.: E qual a relação que podemos fazer entre essa nova mentalidade e o combate à violência contra a pessoa idosa?

M.A.A: Os projetos ajudam nesse sentido, porque eles mexem com o imaginário das pessoas, a compreensão que as pessoas têm sobre o que é o velho. Hoje tu sabe que velho tem voz, tem vez. Tem a delegacia do idoso, tem o estatuto, tem gente que se importa, que faz projetos para ele. Então deixou de ser o fim da linha para ser um período da vida que tem coisas interessantes, como aos 20 ou aos 40.

Repórter:

Julia do Carmo – Acadêmica de Jornalismo.

Edição:

Lucas Durr Missau.

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