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Campanhas exploratórias na região de La Rioja (Argentina) resultam em novos fósseis, datas e correlações faunísticas no Triássico Superior



Campanhas ocorreram entre 2016 e 2019, envolvendo pesquisadores de diferentes instituições de Argentina e Brasil, com participação de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria

Expedições aconteceram entre 2016 e 2019, com pesquisadores de diferentes universidades. (Foto: arquivo do professor Átila Rosa)

Uma força-tarefa que envolveu diversos pesquisadores de Argentina e Brasil acaba de ter resultados inéditos publicados em artigo na revista Scientific Report, publicação integrante do grupo Nature. Em campanhas exploratórias realizadas entre 2016 e 2019 na região de La Rioja (Argentina) foram exumados mais de 100 novos fósseis de vertebrados, além de resultados importantes para o entendimento da biodiversidade do período do Triássico Superior. O professor do Departamento de Geociências da UFSM, Átila Stock da Rosa, e o pesquisador Rodrigo Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA), foram integrantes das equipes nas campanhas.

A pesquisa começou em maio de 2013, quando seis pesquisadores realizaram uma breve campanha exploratória de 4 dias para a localidade conhecida como Hoyada del Cerro Las Lajas. Neste local emergem rochas da Formação Ischigualasto, uma unidade geológica com rochas que foram depositadas durante parte do Triássico Superior, aproximadamente de 230 a 221 milhões de anos atrás.

Pesquisas em Paleontologia não se centram unicamente na descoberta de novos fósseis em novos locais de exploração. Na realidade, os trabalhos multidisciplinares em localidades já conhecidas, porém pouco exploradas,  podem gerar novas pesquisas. Este é o caso de da região de Rioja, onde os primeiros fósseis foram encontrados pelo paleontólogo José F. Bonaparte e sua equipe em 1962. Porém, o local perdeu notoriedade, sendo omitido em alguns trabalhos científicos e em outros classificados como “pouco fossilífero”. De qualquer forma, as descobertas iniciais e a publicação desses fósseis destacaram a importância da localidade e, portanto, justificou interesse do Grupo de Pesquisa Archosauriforme em iniciar novas explorações em 2013. 

A área era interessante para planejar uma campanha paleontológica mais complexa, envolvendo um corpo de pesquisadores maior. Assim, foram realizadas três novas campanhas, incluindo de 10 a 14 participantes e com duração aproximada de 10 dias, nos meses de abril e maio de 2016, 2017 e 2019. As campanhas foram muito proveitosas e mais de 100 novos fósseis de vertebrados foram exumados e ingressados na Coleção de Paleontologia de Vertebrados CRILAR em Anillaco (La Rioja). Dentre os fósseis, os rincossauros arcossauromorfos são os mais abundantes: são formas herbívoras com crânios robustos com bico, quadrúpedes e medem até 2 metros. Além do registro do rincossauro Hyperodapedon, já conhecido em San Juan, uma nova espécie foi adicionada a este gênero. A presença de nova espécie do gênero Teyumbaita também foi reconhecida pela primeira vez, um rincossauro anteriormente conhecido em rochas do Triássico Superior do Rio Grande do Sul. Entre as descobertas, destacam-se os restos do crânio e esqueleto axial do arcossauriforme Proterochampsa, possivelmente de hábitos semi-aquáticos, como um crocodilo atual, o arcossauro pseudosuchiano Aetosaurorides, mais intimamente relacionado aos crocodilos do que aos pássaros, que possuía uma grande couraça dorsal e ventral sobre o corpo, e um paracrocodilomorfo indeterminado de tamanho pequeno. Por fim, foram encontrados restos de cinodontes, formas relacionadas à linhagem de mamíferos, representadas pelo gênero Exaeretodon, que é uma forma herbívora e quadrúpede, com tamanho semelhante ao de uma anta. 

Biodiversidade no período Triássico Superior: representação de Rincossauro (D), Pisanossaurus (E) e aetossauro (Centro). Ilustraçao de Lucas Fiorelli

Além da busca e extração de fósseis, uma coluna estratigráfica detalhada com mais de 1.000 metros de espessura foi feita da unidade na localidade do estudo. Vários níveis de tufos vulcânicos foram selecionados para procurar zircões (cristais muito pequenos gerados na câmara de magma dos vulcões) para obter datas absolutas (decaimento radiativo U-Pb) dos sedimentos que foram depositados simultaneamente com os fósseis que eles contém. Felizmente, as análises radiométricas deram resultados positivos e revelaram as idades da base (incluindo os níveis fósseis) e o teto da Formação Ischigualasto na Hoyada del Cerro Las Lajas. A datação foi usada para construir um modelo da idade da rocha ao longo da coluna estratigráfica usando métodos estatísticos bayesianos (que levam em consideração as observações e probabilidades anteriores à análise determinada pelo observador).

De maneira complementar, a rocha com o dinossauro Pisanosaurus, encontrado cerca de meio século atrás foi estudada com o objetivo de conhecer sua origem. Além disso, usando fotos e dados históricos do caderno de campo do Dr. Bonaparte sobre a descoberta do pseudosuchiano Venaticosuchus, foi possível estimar os níveis de carga desses espécimes. Em particular, esses estudos serviram para datar com precisão a idade das rochas com Pisanossauro, em 229 milhões de anos atrás. As relações de parentesco do Pisanosaurus e foram reavaliadas e conclui-se que é um dinossauro ornitísquio; como consequência, o Pisanossauro assume especial relevância por ser o mais antigo dinossauro ornitísquio do mundo, precedendo o próximo registro do grupo em aproximadamente 30 milhões de anos.

Toda essa informação – fósseis, datas, perfis estratigráficos, notas históricas, entre outras – permitiu analisar os aspectos paleobiológicos e paleobioestratigráficos da Formação Ischigualasto na Hoyada del Cerro Las Lajas. Entre os resultados mais inovadores, se destacam o reconhecimento de duas Zonas de Associação Faunística, mostrando sua correlação com as associações descritas no setor San Juan da Formação Ischigualasto, bem como com as associações presentes na Sequência Candelária, que ocorre em São Pedro do Sul, Santa Maria, São João do Polêsine e Candelária.

Expedições interdisciplinares

Estes resultados inéditos foram obtidos por uma equipe interdisciplinar de paleontólogos, geólogos, tafônomos e geoquímicos. A equipe é coordenada pela Dra. Julia B. Desojo, do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas – CONICET, e Dr. Lucas E. Fiorelli, do Transferência Tecnológica de La Rioja – CRILAR e CONICET, junto com o Professor Dr. Max Langer da Universidade de São Paulo – Campus Ribeirão Preto, e outros pesquisadores, como o professor Átila Stock da Rosa, da Universidade Federal de Santa Maria e o pesquisador  Rodrigo Müller, do CAPPA, que participou em uma das expedições, e paleontólogos, geólogos e estudantes de várias instituições CONICET,  como Museu Argentino de Ciências Naturais (MACN) de Buenos Aires, Centro de Investigações em Ciências da Terra (CICTERRA) de Córdoba, Centro de Investigações da Geosfera e Biosfera – CIGEOBIO da Universidade Nacional de San Juan, além do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos e da Universidade Estadual Paulista.

Reportagem: Ana Laura Iwai, bolsista da Agência de Notícias da UFSM, com informações do professor Átila Stock da Rosa, do Departamento de Geociências da UFSM
Edição: Davi Pereira

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