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Regime de atividades remotas impõe desafios ao ensino das Artes na UFSM



Desde a suspensão das atividades acadêmicas presenciais na UFSM, o Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE), regulamentado em reunião do CEPE na última segunda-feira (10), tem funcionado para manter o laço entre estudantes e professores durante esse tempo de incertezas. O Centro de Artes e Letras (CAL) conta com cursos que dependem muito do fator presencial para seguirem sua grade curricular. Os estudantes e professores de Artes Cênicas, Dança, Música e Teatro estão buscando formas de trabalhar mesmo com o obstáculo da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Os desafios no ensino da Dança em tempos de distanciamento social

Mônica Borba, professora da Licenciatura em Dança: momento é de testar novas metodologias de ensino dentro e fora da universidade

A acadêmica do curso de Dança-Licenciatura, Luiza Moreira Montanari, conta que todo esse processo está sendo um desafio. As aulas práticas estão sendo realizadas por plataformas online e programadas de forma que não fiquem muito extensas. Luiza relata que que, apesar de ser possível dançar através da tela, o processo é muito cansativo, além do fato de que, em algumas plataformas, não é possível ver todos os participantes. Esta relação mediada se torna um pouco frustrante para aluno e professor, que não têm a mesma partilha do que uma experiência presencial. “Era pra eu estar fazendo estágio supervisionado e sendo monitora da disciplina de jazz dance. Em função disso, estamos adaptando da maneira possível para ficar acessível a todos, mesmo que muitos tenham problema de conexão. E como estudante de licenciatura, faz muita falta ter o contato com as crianças, com os alunos, com as pessoas que criamos vínculos durante esses 3 anos que se passaram. Faz falta o auxílio do professor, colega ao vivo, o toque quando dançávamos juntos”, comenta Luiza.

Uma das cadeiras trabalhadas por Luiza nesse semestre é Processos Pedagógicos em Dança IV, ministrada pela professora Mônica Borba, que desenvolveu em conjunto comos alunos um pequeno experimento em forma de vídeo com a turma. Segundo Mônica, passou-se por um processo de várias etapas para descobrir a melhor forma de trabalhar, respeitando os grupos e disciplinas. Reuniões são feitas mensalmente para buscar as melhores estratégias. As chamadas de vídeo foram uma alternativa para tentar manter o contato da melhor maneira possível, o que foi essencial para o vínculo de grupo. A questão da experiência do ensino remoto tem sido objeto da curiosidade e  também do estudo da turma. Entre os experimentos, há pequenos ensaios e propostas metodológicas teórico-práticas. Há reflexões acerca dos procedimentos para uma aula em uma academia de dança ou escola, onde seria necessário o envio do material com antecedência, além do desafio de elaborar uma metodologia e um direcionamento para essa aula sem o contato físico, olho no olho e o toque.

A turma fez um pequeno exercício de aula como uma maneira de tentar suprir a distância física, que teve a primeira experiência conduzida por Mônica. Após, cada um dos alunos conduzia a aula. “É bem simples, nada elaborado, mas foi a forma que encontramos de unir os fragmentos que cada um tinha trabalhado a partir da letra da música. Em uma das etapas da aula nesse encontro prático teve um momento de criação e cada um traduziu para movimentos o que essa música significava em relação à esse momento. Eu tenho utilizado justamente essa situação como um ponto de reflexão e pensamento pedagógico, tendo em mente que estou formando professores e professoras de dança, então pensamos: o que podemos fazer, o que é possível, qual o limite, as estratégias” conta Mônica. O vídeo conta inclusive com a participação da filha de uma acadêmica, que dança junto de um robô de papelão, que, com o contexto da pandemia, acabou também participando dos encontros online. Depois de cada encontro, Mônica faz uma carta digitada para os alunos em que resume e relembra tudo as discussões e o desenvolvimento das aulas. Todos os alunos têm acesso a esse material e serve de auxílio para aqueles que, por diversos motivos, não conseguiram acompanhar a aula através do REDE.

Processo de adaptação é ainda mais desafiador para os novos estudantes

Daiana Ferreira, estudante de Artes Cênicas, precisou se adaptar à situação de nova aluna em meio à pandemia

De acordo com a professora Mônica, há uma preocupação constante com os alunos que não conseguem ter acesso aos conteúdos disponibilizados. Esta é uma das grandes dificuldades neste momento, pois nem todos têm acesso às plataformas em que as aulas são transmitidas. Seja pelas dificuldades técnicas de conexão ou até mesmo a falta de uma aparelho eletrônico. Daiana Ferreira está no quinto semestre de Artes Cênicas – bacharelado, e conta que está desenvolvendo um projeto de monólogo apenas com o uso do celular, o que é bastante complicado. Ela relata que as cadeiras práticas são difíceis de serem desenvolvidas à distância por serem processos corporais que não podem ser avaliados pela tela do computador ou celular. “Muitos dos meus colegas, assim como eu, não tem uma boa câmera pra filmar, uma internet que não caia a toda hora. É inviável quando a maioria da turma não tem estrutura pra isso. Como você vai fazer um alongamento virtual quando não há espaço em casa?”, questiona.

A experiência de ensino remoto foi uma surpresa ainda maior para quem é calouro na universidade. Em 2020, cerca de 4 mil alunos chegaram nos campi da UFSM e encontraram dificuldades de adaptação ao novo sistema de aulas. Elizabeth Toretto é estudante do primeiro semestre de Teatro – Licenciatura e relata que, apesar da compreensão e apoio dos professores, é muito difícil realizar as atividades por não ainda não possuir uma base. Alguns professores estão adiantando as aulas teóricas, enquanto as práticas estão sendo trabalhadas com exercícios simples de expressão corporal (toque, sensações), seguidas de envio de um relatório . A estudante ainda relata que a  quebra de expectativa está sendo complicada para todos e que alguns colegas de turma desistiram do curso por dificuldades extremas de adaptação.

O ensino da Música no regime de atividades remotas

Bibiana Ferreira, do Bacharelado em Violino da UFSM, se adapta aos estudos em sua residência

 Para os estudantes de música, as aulas também foram modificadas e muitas não estão sendo realizadas. Enquanto alguns estão trabalhando com vídeo conferência e  fazendo aulas ao vivo, outros optaram pela gravação de vídeos. A professora Yara Quercia Vieira ministra as cadeiras de violino e viola em duas das opções do curso de Bacharelado em Música e conta que a aula de instrumento se aproxima muito da orientação na pós-graduação: o atendimento é individual e os assuntos tratados dizem respeito ao desenvolvimento do trabalho específico do aluno. O repertório a ser estudado é individualizado considerando as metas de cada aluno para aquele semestre. A aula acontece como uma performance musical: o aluno toca o que estudou e o professor trabalha a partir do  que o aluno apresenta. Nesse contexto atual, a dinâmica acabou mudando. Os alunos produzem os vídeos e publicam no YouTube ou Google Drive. Depois disso, a professora assiste e faz um comentário por escrito, que é enviado para o aluno. Ela afirma que o lado bom desse sistema é que os alunos costumam preparar bem melhor o conteúdo da aula, pois eles mesmos julgam o que é preciso melhorar antes de enviar.

A gravação favorece o olhar crítico por existir a  possibilidade de ouvir várias vezes e melhor organizar as explicações e recomendações. Além disso, algumas das explicações escritas vão acompanhadas de vídeos em que ela apresenta demonstrações ao instrumento com trechos bem específicos, apenas como ilustração, para suprir a falta da explicação ao vivo. Porém, nem tudo pode ser ensinado a distância. “Se considerarmos que os músicos instrumentistas são como atletas, a parte física do treinamento precisa de supervisão constante. O ensino de algumas técnicas requer o olhar cuidadoso e a garantia de que não se corre nenhum risco, e precisam ser ensinadas com cautela e supervisão. Além disso, as disciplinas que requerem ensaios coletivos (música de câmara, recitais e orquestras) estão inviabilizadas”, afirma. 

Muitos alunos estão enfrentando o último semestre com essas novas adaptações. Bibiana Turchiello Ferreira está no último semestre de Música – Bacharelado em Violino e a única cadeira prática que está sendo desenvolvida é Instrumento, ministrada pela professora Yara. Como seria realizado um recital de final de curso, as partituras e peças estudadas estão sendo enviadas por vídeo para a avaliação e retorno. “Está sendo proveitoso em alguns sentidos, mas as disciplinas que não estou tendo os professores precisarão recuperar depois. De cinco disciplinas, estou trabalhando apenas duas. Fica a incerteza de quando vou conseguir me formar”, relata.

Resolução sobre o REDE regulamenta atividades e redefine calendário

De acordo com a resolução aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), foram regulamentadas todas as ações desenvolvidas através do REDE, como aulas remotas e práticas, eventos, encontros, bancas, formaturas, estágios, entre outros. Todas as atividades do segundo semestre serão, via de regra, através deste regime. A resolução também estabelece que as disciplinas que tiveram seus conteúdos e avaliações concluídas em 2020/1 deverão ter seus discentes com situação individual encerrada. Os estudantes que não acompanharam o primeiro semestre, poderão regulamentar sua situação na recuperação presencial, que terá, ao menos, 15 semanas de atividades.  Já o calendário aponta para o fechamento parcial no primeiro semestre na modalidade REDE em 4 de outubro; o segundo semestre, de 19 de outubro a 13 de fevereiro de 2021.

Reportagem: Vitória Parise, acadêmica de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Davi Pereira
Imagens: arquivos pessoais dos entrevistados

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