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Plataformas digitais e reconfigurações da pesquisa em Comunicação

por Jenifer Cappellari



As plataformas digitais são assunto frequentemente abordado nas pesquisas em Comunicação desde sua emergência e vem sendo observadas por um viés mais crítico nos últimos anos. Com a proposição da “plataformização” enquanto processo (Poell et al., 2019) ou de uma sociedade atravessada pelas plataformas (van Dijk et al., 2018), passa-se a entender o fenômeno como estruturador de práticas em diferentes esferas, mas principalmente nas que dizem respeito à comunicação e sociabilidade.

Pela estrutura de funcionamento das plataformas digitais, sustentada pela exploração de dados e pelo uso de algoritmos, comportamentos e emoções são mais facilmente identificáveis e contabilizáveis do que em ambientes que não incorporam a lógica plataformizada. Converter ações abstratas e subjetivas em dados quantitativos nunca foi tão comum, resultando em uma quantidade de dados disponíveis incomparável a qualquer outro momento histórico.

Para além de grande retorno econômico para as empresas que o controlam, o fenômeno provoca um movimento que tenta dar aos dados gerados nas plataformas aplicações na pesquisa científica. A abundância, variedade, facilidade de rastreio e acesso aos dados se destaca em relação a métodos manuais, ou não digitais, de coleta de dados para pesquisas. As plataformas, então, ganham espaço enquanto meios para otimizar os processos científicos, ampliar o corpus e facilitar o acesso aos dados.

Essa virada no processo científico é tão significativa que autores chegam a apontar “o fim da teoria” (Anderson, 2008), evidenciando que a gigantesca quantidade de dados disponíveis digitalmente seria suficiente para identificar e prever fenômenos sociais, dispensando a necessidade de elaborações epistemológicas e reflexivas. A simples correlação entre dados seria o bastante para analisar os fenômenos de interesse da ciência.

Sem ir tão longe é possível, ao menos, identificar reconfigurações nos processos e práticas científicas a partir da consolidação do fenômeno da plataformização e da incidência das lógicas de plataforma sobre os métodos e processos científicos. O CrowdTangle é um exemplo de ferramenta desenvolvida pela empresa Meta, mantenedora do Facebook, do Instagram e do Whatsapp, dentre outras plataformas e serviços de tecnologia e comunicação. Ele serve para monitorar publicações e interações nas plataformas da empresa e em outros sites, coletando e oferecendo visualização de dados em detalhe e em tempo real para jornalistas e pesquisadores com acesso autorizado pela empresa. A utilização do CrowdTangle como ferramenta para coleta de dados de pesquisas científicas é uma ação crescente, pelo menos nas pesquisas que dizem respeito a temáticas da Comunicação.

Com isso em vista, eu e a Professora Laura Storch, coordenadora do EJor, produzimos um artigo que possibilitou identificar questões de reflexão que versam, principalmente, sobre a qualidade dos dados explorados através da ferramenta, que são inicialmente pensados para uso comercial; questões éticas da pesquisa sobre ações, emoções e comportamentos humanos, ainda que convertidos em dados; ações de propriedade das plataformas, já que o que se permite ao pesquisador ver e explorar na ferramenta é resultado de decisões corporativas; e ainda, relacionado a este, se pode apontar a instabilidade na estrutura dos dados, que podem ser reposicionados ou removidos por decisão da empresa. No texto, analisamos principalmente 5 aspectos de artigos publicados em comunicação entre 2017 e 2021 e que utilizaram o CrowdTangle: a temática das pesquisas, os objetos de estudo, o tipo ou a natureza dos dados coletados através da ferramenta, a utilização de instrumentos híbridos de coleta ou o uso exclusivo do CrowdTangle e, por fim, se os autores dos textos analisados fizeram algum tipo de consideração sobre a plataforma utilizada, mencionando possibilidades ou limitações.

Nesse sentido, o trabalho aponta a observação das plataformas como campos de investigação, mais do que ferramentas de pesquisa. Ainda, é possível perceber um cruzamento entre as pesquisas realizadas a partir dos dados extraídos das plataformas digitais e o próprio processo de plataformização. As lógicas desse fenômeno incidem sobre o desenho das pesquisas, delimita a possibilidade de observação a partir do tipo de dados ofertado à investigação e orienta, principalmente, o tipo de problema que se pode levantar e responder pelos processos científicos pautados em dados controlados por plataformas.

Na próxima semana, o artigo com resultados dessa investigação, intitulado “CrowdTangle como instrumento de coleta de dados: plataformas digitais e reconfigurações da pesquisa em comunicação”, de autoria de Laura Storch e Jenifer Cappellari, será apresentado, durante o XVI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), que acontece em Buenos Aires. O texto compõe o Grupo de Trabalho 9, que vai discutir Teorias e Metodologias da Pesquisa em Comunicação. O evento ocorre de 26 a 30 de setembro e o artigo será publicado em anais posteriormente.

Para saber mais sobre o evento, acesse: https://www.alaic.org.

Referências:

ANDERSON, Chris. The end of theory: The data deluge makes the scientific method obsolete. Wired magazine, v. 16, n. 7, p. 16-07, 2008.

POELL, Thomas; NIEBORG, David; VAN DIJCK, José. Platformisation. Internet Policy Review, v. 8, n. 4, p. 1-13, 2019.

VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society: Public values in a connective world. Oxford University Press, 2018.

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