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Descobertos os mais antigos fósseis de seres multicelulares da América do Sul

De longe, parecem bolhas achatadas brotando da rocha. Vistas de perto, as centenas de discos de tamanhos variados que estampam as placas de arenito encontradas na Formação Cerro Negro, no interior da Argentina, apresentam detalhes que só os corpos de seres vivos possuem: curvas suaves e bordas frondosas, que lembram as de águas-vivas. Descobertas no ano passado por pesquisadores brasileiros e argentinos, rochas de 560 milhões de anos guardam o registro mais antigo da existência de seres multicelulares na América do Sul. Os pequenos discos, com diâmetro variando de 6 centímetros (cm) a 16 cm, correspondem, no entanto, a fósseis de organismos do gênero Aspidella. Essa é a primeira vez que fósseis desse tipo são encontrados nessa região do planeta, relatam os pesquisadores em artigo publicado em 27 de julho na revista Scientific Reports.



De longe, parecem bolhas achatadas brotando da rocha. Vistas de perto, as centenas de discos de tamanhos variados que estampam as placas de arenito encontradas na Formação Cerro Negro, no interior da Argentina, apresentam detalhes que só os corpos de seres vivos possuem: curvas suaves e bordas frondosas, que lembram as de águas-vivas. Descobertas no ano passado por pesquisadores brasileiros e argentinos, rochas de 560 milhões de anos guardam o registro mais antigo da existência de seres multicelulares na América do Sul. Os pequenos discos, com diâmetro variando de 6 centímetros (cm) a 16 cm, correspondem, no entanto, a fósseis de organismos do gênero Aspidella. Essa é a primeira vez que fósseis desse tipo são encontrados nessa região do planeta, relatam os pesquisadores em artigo publicado em 27 de julho na revista Scientific Reports.

As Aspidella foram um dos primeiros organismos multicelulares marinhos a surgir na Terra. Seus fósseis já haviam sido encontrados em quase todos os continentes, exceto na Antártida. O fato de agora terem sido achados também na América do Sul indica que essa região do continente teria sido banhada no passado por um mar raso, que cobriu vastas extensões do que hoje é o Brasil, a Argentina e a África.

“Fósseis desses organismos de corpo mole ocorrem em rochas da mesma idade no Canadá, na Grã-Bretanha, na Rússia, na Namíbia e na Austrália”, explica o geólogo Lucas Warren, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Ele coordenou a pesquisa em parceria com a sedimentóloga Júlia Arrouy e o paleontólogo Daniel Poiré, ambos do Centro de Investigações Geológicas de La Plata, Argentina.

Conhecidos desde o século XIX, os fósseis de Aspidella estão entre os mais antigos e abundantes da chamada biota de Ediacara, formada por organismos marinhos cujos corpos, embora relativamente simples, representaram a primeira grande diversidade de formas macroscópicas de vida na Terra. Antes de esses organismos surgirem, os mares do planeta eram habitados apenas por seres unicelulares, como as bactérias, ou colônias formadas por células de funções variadas.

“A biota de Ediacara marca a primeira grande expansão da diversidade dos organismos multicelulares”, esclarece Marcello Simões, paleontólogo da Unesp, campus de Botucatu, que colaborou no estudo. “Ainda não sabemos por que essa biota se extinguiu nem qual é exatamente a sua relação com os filos de animais modernos.”

Ao certo, sabe-se apenas que a biota de Ediacara prevaleceu nos oceanos do planeta de 580 milhões a 542 milhões de anos atrás, entre o final do período geológico Ediacarano e o início do Cambriano. A maioria dessa biota, entretanto, aparentemente foi extinta no começo do Cambriano, quando uma diversidade de espécies ainda maior surgiu e originou animais anatomicamente mais complexos, entre eles os ancestrais dos atuais insetos e vertebrados.

“Há certa polêmica na literatura científica sobre a natureza das Aspidella”, conta a paleontóloga Fernanda Quaglio, da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, colaboradora de Warren no estudo. Alguns pesquisadores defendem que a forma de disco desses organismos não representa o fóssil de um animal completo, mas de apenas uma parte dele. O disco seria a base de sustentação para uma estrutura filtradora de água do mar em forma de pena, como a de organismos relacionados ao gênero Charniodiscus, já encontrados em outros sítios paleontológicos, mas ainda não em Cerro Negro. Para outros pesquisadores, as Aspidella nada teriam a ver com os Charniodiscus. Em vez disso, teriam sido colônias de fungos ou representariam ainda evidência de formas de vida muito mais simples.

Independentemente da verdadeira natureza dos seres encontrados em Cerro Negro, Warren vê essa descoberta como mais uma evidência de como eram os continentes há cerca de 550 milhões de anos. No cenário apresentado em 2014 por Warren e outros geólogos, uma grande porção das massas continentais que originariam o supercontinente Gondwana, do qual surgiram os blocos rochosos mais antigos que formam a América do Sul, a África, a Antártida e a Austrália, eram cobertas por um mar raso, com poucas dezenas de metros de profundidade, parte de um oceano batizado de Clymene. “Não existe nenhum mar parecido hoje”, afirma Warren. “Possivelmente o Clymene cobriria com água salgada uma área continental tão extensa quanto a Antártida.”

“Fósseis desses organismos de corpo mole ocorrem em rochas da mesma idade no Canadá, na Grã-Bretanha, na Rússia, na Namíbia e na Austrália”, explica o geólogo Lucas Warren, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Ele coordenou a pesquisa em parceria com a sedimentóloga Júlia Arrouy e o paleontólogo Daniel Poiré, ambos do Centro de Investigações Geológicas de La Plata, Argentina.

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