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A Ética como compreensão do outro

Pesquisador da UFSM investiga as implicações da afetividade na moralidade humana a partir da obra de Wilhelm Dilthey



Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações, da ONU, existem hoje no mundo cerca de 244 milhões de migrantes, cerca de 3,3% da população mundial. A questão das migrações é considerada uma crise sem precedentes, porque a presença desses contingentes humanos em lugares e culturas distintas implica em processos muito complicados de adaptação – econômica e social. Mas será que a filosofia pode ter algo a nos dizer sobre o tema?

 

O professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSM Ricardo Bins di Napoli se aproximou desse debate a partir de uma extensa pesquisa sobre a Ética na obra do filósofo alemão Wilhelm Dilthey. Publicado pela Editora UFSM, o livro Ética & Compreensão: a psicologia, a hermenêutica e a ética de Wilhelm Dilthey foi lançado em 2017. Dilthey viveu entre 1833 e 1911, contribuiu com a fundamentação das Ciências Humanas e inspirou o trabalho de diversos pesquisadores importantes, como Max Weber – considerado um dos clássicos da Sociologia. Napoli lembra que, “curiosamente, a Ética foi a parte menos estudada da obra de Dilthey”. Para o filósofo alemão, as ações humanas são envolvidas por aspectos afetivos, de forma que a moralidade humana é definida através da compreensão e da simpatia. “Se, por exemplo, analisarmos a realidade dos conflitos interétnicos europeus atuais, parece-me que princípios racionais universais têm relativa eficácia para orientar a ação humana, porque o ódio contra o estrangeiro presente em conflitos sociais atuais não pode ser afastado simplesmente por uma imposição interna do indivíduo. A lei moral, oriunda da razão, pode obrigar a vontade, o corpo, mas não o ‘coração’, ou seja, a afetividade”, explica Napoli.

 

O filósofo Ernildo Stein, que assina a apresentação do livro, explica que a Ética de Dilthey, estruturada a partir da noção de “compreensão”, pode ser tomada como uma contraposição às concepções dominantes da época – das éticas racionalistas e positivistas: “Temos que ter presente que o século 19 foi envolvido com a Ética kantiana baseada na razão. E como continuação reinou o neokantismo na Alemanha, durante a primeira metade do século 20. A filosofia moral de Kant, no continente europeu, insiste no império da razão e serviu de modelo de grande parte do debate sobre a ética”.  Stein ainda lembra que o conceito central de Dilthey é o conceito de vida, que “traz para a ética uma concepção alimentada pela psicologia, pela antropologia, o que implica em trazer para a ética a experiência, a consciência, toda a estrutura dos elementos históricos em que se fundam a cultura e a sociedade”. Nesse contexto, o desenvolvimento moral de uma sociedade inclui mais do que a razão: são as escolhas dos indivíduos que definirão a sua realização “espiritual”. Além do pensar, entram em cena o sentir e o querer, a busca pela felicidade e a avaliação sobre o que é útil.

 

Para Dilthey, portanto, não seria a razão que comandaria nosso mundo de relações. “A existência humana é passível de ser apreendida apenas quando se toma a vida humana a partir de sua totalidade vivida”, explica Napoli. Ao sugerir a “compreensão” como uma categoria filosófica para o estudo da Ética, Dilthey sugere que as relações sociais se formam a partir de uma historicidade, que antecipa e funda o entendimento entre indivíduos. Para ele, não há Ética sem compreensão.

 

Reportagem: Laura Storch 

Diagramação: Giana Bonilla 

Ilustração: Pollyana Santoro

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