Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Catalisador do desenvolvimento local

UFSM contribui para a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Defesa e Segurança



 

“Cidade Cultura” para alguns, “Cidade Universitária” para outros. Os adjetivos para caracterizar Santa Maria são diversos e muitos têm origem em sua história. No meio militar, o município é conhecido como a “Capital dos Blindados”, por abrigar regimentos importantes em nível nacional, como a 6ª Brigada de Infantaria Blindada e o Centro de Instrução de Blindados, ambos subordinados à 3ª Divisão de Exército. Além disso, o município possui o segundo maior contingente militar brasileiro, com instituições vinculadas tanto ao Exército quanto à Aeronáutica.

 

O ambiente formado na cidade é propício para que a relação entre as Forças Armadas e UFSM se desenvolva — tanto para o avanço tecnológico, como também para a colaboração em estratégias que impulsionam a economia local. Foi a partir dessa constatação que agentes da cidade se movimentaram, desde 2013, para se articular em torno do setor. A Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm) buscou as demandas militares para instituir na região o Polo de Defesa e Segurança. A partir dessa iniciativa, foram necessários dois anos até o reconhecimento, pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, do polo como um Arranjo Produtivo Local (APL).

 

 

O POLO DE DEFESA E SEGURANÇA

 

Todo esse desenvolvimento só foi possível a partir de iniciativas como o movimento A Santa Maria que queremos, que promoveu, em 2009, um encontro entre representantes da população santa-mariense, como professores, trabalhadores, empresários, militares, políticos, religiosos e representantes do poder público, para a construção de uma visão a longo prazo para o município. O resultado dessa mobilização foi a criação, em 2011, da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm), projetada para dar continuidade ao processo de planejamento estratégico, como também para viabilizar projetos de interesse do município. Entre os membros da Agência, estão os comandantes de organizações militares com sede em Santa Maria, representações empresariais, do governo municipal e das instituições de ensino superior, como a UFSM.

 

Em 2012, depois de promover reuniões em fóruns temáticos, a ADESM apresentou um documento, o Caderno de Propostas, em que reconhece, dentre outras potencialidades, o Polo de Defesa como um vetor de competitividade local. De acordo com o superintendente executivo da ADESM, Diogo de Gregori: “A partir da Estratégia Nacional de Defesa, Santa Maria vem aproveitando esta vocação militar em favor do desenvolvimento da região e do Estado.”

 

Em 2015, cerca de 15% do faturamento anual das 19 empresas vinculadas ao Polo estavam relacionados ao setor de Defesa e Segurança, o que demonstra o potencial de investimento nessa área. A ambição dos envolvidos é o reconhecimento internacional, até 2030, de Santa Maria como um Polo de Defesa. Os primeiros passos foram dados.

Tal projeto começa a ser delineado com a organização do Seminário Internacional de Defesa (SEMINDE), que aproxima todas as partes interessadas no setor. O evento, que já teve duas edições, em 2014 e 2015, reuniu lideranças nacionais e internacionais da área de Defesa e Segurança. A terceira edição do Seminário vai acontecer em novembro de 2017 e deve contar com a exposição de produtos do setor em uma Mostra Tecnológica. Neste ano, também ocorre, pela primeira vez, o SEMINDE Acadêmico, em que trabalhos científicos voltados ao setor serão apresentados em Grupos de Trabalho e em uma mostra de Iniciação Científica.

 

RELAÇÕES DA UFSM E AS FORÇAS ARMADAS

 

O amadurecimento do Polo se deve tanto à interação entre as empresas especializadas quanto à cooperação com os centros de ensino. Para Gregori, que também é o gestor do APL, a UFSM é bastante presente nas ações desenvolvidas pela governança do arranjo produtivo, e também possui papel fundamental no incentivo de trabalhos de conclusão de curso na área. “As pesquisas em Defesa e Segurança, realizadas pelo Grupo de Estudos em Capacidade Estatal, Segurança e Defesa/GECAP, do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), também auxiliam na inteligência comercial”, observa o superintendente.

 

O GECAP é coordenado pelo professor Igor Castellano da Silva, do Departamento de Economia e Relações Internacionais, e é um dos principais elos de comunicação da Universidade com o APL, já que estabelece contato direto com os militares que participam das atividades. Esse foi o caso do Coronel Piraju Borowski Mendes, chefe do Estado-Maior da 3ª Divisão de Exército (3ª DE) entre 2014 e 2016, que conheceu o professor Castellano em um encontro do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde o primeiro contato, a intenção de aproximação ficou clara. “Identificamos nosso interesse em aproximarmos nossas instituições e juntos construirmos conhecimento na área de defesa, contribuindo para desenvolver uma mentalidade de defesa no Brasil. Passei a integrar o GECAP e alguns outros militares igualmente interessados também o fizeram”,conta o Coronel Borowski.

 

O GECAP possui projetos de extensão como o Café Defesa, em que profissionais do ramo discutem temas relacionados à defesa e segurança. Uma importante característica do Café Defesa é a presença de militares, tanto como ouvintes quanto como palestrantes, explicando como a própria instituição percebe sua importância. Desde 2015, acontecem debates relacionados ao papel do Exército no século 21, como também sobre a rede de estudos estratégicos do Exército e seus pilares no Sul e em Santa Maria. Para Castellano, a Universidade deve ser o lugar para que o diálogo com a sociedade civil seja estabelecido.

 

Além das atividades de extensão, o grupo também produz pesquisas relacionadas ao tema. A parceria se fortaleceu a ponto de militares serem convidados para bancas de defesa de trabalhos de conclusão do curso. Além disso, de acordo com o Coronel Borowski, o Exército pode contribuir com relação à logística de pesquisas científicas. “O General Theóphilo, antigo Comandante Militar da Amazônia e atual Comandante Logístico do Exército, apresentou a possibilidade de apoiar com hospedagem e transporte os pesquisadores interessados em estudar questões da Amazônia”, ressalta.

 

Os estudantes também se beneficiam com o desenvolvimento de pesquisas relacionadas aos assuntos de defesa, especialmente pela proximidade com empresas e instituições militares. Para o bacharel em Relações Internacionais (RI) pela UFSM, Augusto César Dall’Agnol, ter participado dos projetos de pesquisa e extensão fez com que ele sentisse vontade de trabalhar em empresas de iniciativa privada relacionadas à segurança e defesa. Na opinião de Dall’Agnol, “hoje, nos eventos regionais e nacionais de Relações Internacionais, o curso de RI da UFSM está indissociavelmente ligado à pesquisa de segurança e defesa.”.

 

 

SANTA MARIA E SUA IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA AO LONGO DO TEMPO

 

A posição geográfica de Santa Maria fez com que o município se tornasse importante ponto estratégico na geopolítica portuguesa. Com o passar do tempo, outros fatores foram demarcando a presença militar no município, como investigou a geógrafa Márcia Kaipers Machado, em 2008, em sua dissertação de mestrado A presença do exército e da aeronáutica na organização espacial de Santa Maria-RS

 

 

O surgimento de Santa Maria

 

A cidade surgiu nos campos que ficavam no caminho das tropas espanholas e portuguesas em direção às Missões e também permitiam o acesso para os fortes de Santa Tecla, Montevidéu e Sacramento. Um acampamento militar se estabeleceu no lugar onde hoje se localiza Santa Maria, uma tática comum usada pelos colonizadores após o precedente aberto na assinatura do Tratado de Madrid, que definia que a terra pertencia a quem a ocupasse.

 

28º Batalhão de Estrangeiros em Santa Maria

 

Durante a Guerra da Cisplatina, o 28º Batalhão de Estrangeiros se deslocou até a região. Com o fim do conflito, muitos ex-combatentes, a maioria de origem alemã, se estabeleceram por aqui. Os novos moradores trouxeram habilidades e conhecimentos que dinamizaram a economia local. Além disso, em 1833, por lei imperial foi estabelecida na cidade uma unidade da Guarda Nacional, que tinha como objetivo manter a ordem nas províncias.

 

Ferrovia

 

O tronco ferroviário estabelecido no Rio Grande do Sul obedeceu a interesses estratégicos de defesa do território nacional, ligando a capital, Porto Alegre, a Uruguaiana, fronteira oeste do estado. A cidade de Santa Maria acabou sendo um ponto de ligação do eixo leste-oeste do estado, porque para ir de um extremo ao outro era preciso passar pelo município.

 

Início do século 20

 

Surgiu a 3ª Brigada Estratégica, hoje 3ª Divisão de Exército, e o 7º Regimento de Infantaria, hoje 6ª Brigada de Infantaria Blindada, que contribuíram para a expansão da malha urbana, já que por estarem localizados em áreas mais afastadas do centro da cidade, era preciso investimento em infraestrutura — como energia, serviços de saneamento básico e transporte — para atender os quartéis.

 

De 1915 a 1939

 

Nesse período de acelerada expansão urbana no sentido leste-oeste, quatro unidades militares foram construídas na cidade: o Hospital Militar de Santa Maria, atual Hospital de Guarnição, o Armazém Marechal Floriano, que depois se transformou no Depósito de Subsistência de Santa Maria, o 5º Regimento de Artilharia Montada, uma das unidades mais antigas nacionalmente, e o Parque de Aviação Militar, extinto posteriormente, mas que contribuiu para a construção da Base Aérea.

 

De 1940 a 1959

 

No contexto da 2ª Guerra Mundial, o papel estratégico de Santa Maria começou a emergir com a instalação de unidades militares com funções de apoio e organização das tropas que chegavam à cidade vindas do centro do país. Foram instalados o 3º Batalhão de Carros de Combate, atual 29ª Batalhão de Infantaria Blindada, e a 4ª Companhia Especial de Manutenção, hoje

4º Batalhão de Logística. Além disso, a construção do Parque Regional de Motomecanização contribuiu para a expansão da região oeste.

 

De 1960 a 1979

 

A Base Aérea de Santa Maria foi fundada em 1970 e, com a instalação da UFSM uma década antes, a região se desenvolveu e a mancha urbana se expandiu. Além disso, a construção do Círculo Militar como um espaço para o lazer dos militares e suas famílias contribuiu para que a cidade se tornasse mais atrativa para quem vinha para cá.

 

De 1980 a 2005

 

O município recebeu mais unidades militares, como o 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, a 6ª Companhia de Engenharia de Combate e o 1º Regimento de Carros de Combate Centro de Instrução de Blindados, que reforçam o papel da cidade como polo militar. Na década de 1990, a construção do Colégio Militar de Santa Maria e do Hotel de Trânsito foram importantes pelo reconhecimento das necessidades do grande contingente que se desloca para cá em função do Exército.

 

Repórter: Luan Moraes Romero

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-2741

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes