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Desertos de notícias brasileiros diminuíram no último ano

Mapeamento feito pelo Atlas da Notícia teve participação de estudantes da UFSM



Cidades que estão localizadas longe de centros urbanos são afetadas de forma negativa pela falta de informações locais, já que, em sua maioria, não têm sediado nenhum veículo jornalístico. Levando isso em conta, em 2017, o Atlas da Notícia começou a mapear esses locais no Brasil, os chamados desertos de notícias. 

O Atlas baseou-se em uma pesquisa já existente nos Estados Unidos – “American’s Growing News Deserts” (“Desertos de Notícias Crescentes da América”, em português) – para mapear quais municípios têm e quais não têm meios de comunicação jornalísticos. Com a verificação dos desertos, é possível analisar quais regiões do Brasil necessitam de um maior incentivo para democratizar informações jornalísticas locais com qualidade.

Descrição da imagem: ilustração de uma mulher jovem em um deserto. Ela está no lado direito da imagem, de pé, em primeiro plano; tem pele branca, olhos escuros, rosto redondo e está com a boca aberta. Tem cabelos lisos, escuros e em corte Channel. Segura um microfone marrom nas mãos, com o desenho de um arco vazado abaixo. Veste blusa branca de manga comprida e usa um boné amarelo queimado. Ao lado esquerdo da imagem, placa marrom e retangular com o texto "Desertos de Notícias e uma flecha", em branco. Ao fundo, montanha de areia laranja com sombras. No lado superior direito, o sol. Na imagem, em moldura, "Rec" e um círculo vermelho.

A quinta edição do mapeamento realizado pelo Atlas da Notícia teve a participação de estudantes do ensino superior, entre eles acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A professora do Departamento de Ciências da Comunicação, Laura Storch, comenta que uma das principais contribuições da Instituição ao projeto está relacionada ao fato de vários alunos serem de regiões consideradas desertos de notícias, o que auxiliou a qualificar as informações obtidas sobre cada localidade.

Os desertos e os quase desertos de notícias  

De acordo com os critérios utilizados pelo Atlas, os municípios considerados desertos de notícias são aqueles que:

  • não têm nenhum veículo jornalístico; 

  • têm meios de comunicação que só republicam conteúdos de outros; 

  • somente têm canais de comunicação vinculados a instituições, como sindicatos, igrejas e prefeituras, que não são considerados  jornalísticos.

Já os quase desertos são cidades que têm um ou dois veículos de comunicação. “Essa classificação intermediária é para apresentar o ecossistema frágil do município. Porque, se um veículo fechar, aquela cidade já vira um deserto”, relata Marcelo Fontoura, coordenador de pesquisa da região sul do Atlas da Notícia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

 

Meios de comunicação ligados a instituições, como prefeituras, muitas vezes são a única fonte de informação em cidades interioranas. A professora Laura explica que, nesses canais de comunicação, existem interesses políticos ou econômicos que podem ser mais “fortes” que o interesse público. Assim, a produção e a circulação de informação fica restrita a favor de um determinado grupo, o que prejudica a opinião coletiva do local.

Resultados da pesquisa

A graduanda em jornalismo na UFSM, Letícia Klüsener, participou do mapeamento de cidades do Rio Grande do Sul. Ela destaca que o processo de apuração para verificar os veículos nos municípios é complexo, pois é difícil classificar um meio de comunicação como jornalístico se o mesmo não apresenta a ética e os critérios de valores-notícia do jornalismo – importância da pauta, de interesse público e ineditismo. “Algumas cidades do interior têm veículos sediados, mas, muitas vezes, eles são semelhantes a blogs, publicam fotos de pessoas em acidentes, por exemplo”, descreve. Segundo o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o profissional precisa respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, por isso imagens explícitas de vítimas ou de indivíduos envolvidos em acidentes vai contra a ética do jornalismo.   

Diante disso, Letícia conta que teve dúvidas sobre cadastrar ou não esses veículos, já que entravam nos critérios estabelecidos: produzem conteúdos jornalísticos originais, não apenas republicam de outros meios; tem certa frequência de publicações e não são relacionados a nenhuma instituição. 

 

Outro fator importante para considerar o meio como jornalístico é se ele não dissemina desinformação. Marcelo destaca que o tamanho do veículo não é relevante: “se existe apenas uma página de Facebook, não tem problema. Adequamos os nossos critérios ao jornalismo do interior, em especial àqueles lugares mais descentralizados”.

De acordo com o último mapeamento, de 2021, a região Sul permanece a segunda região brasileira com mais veículos de comunicação – 3478, ou 25% do total do país. O Rio Grande do Sul foi o que mais perdeu desertos: 58, frente a 31 no Paraná e 12 em Santa Catarina. Além disso, o estado tem o segundo maior número de veículos impressos do país, atrás apenas de São Paulo, e o terceiro maior de emissoras de rádio. Já o Paraná tem o maior número de iniciativas digitais, 457, frente a 348 do Rio Grande do Sul e a 218 de Santa Catarina.

Descrição da imagem: infográfico horizontal e colorido em forma de mapa do Brasil. O mapa está em cores pastéis em tons de laranja. Há uma escala de intensidade de cores, com o título em branco: "Número de veículos". Abaixo, uma escala de cores, que vai de 500 a 2500+. A cor nude tem como elemento associado um triângulo e está ao lado do "500". A cor areia tem como símbolo um losango e está ao lado do "1000". A cor laranja pastel tem como símbolo um quadrado e está ao lado do "1500". A cor laranja tem como símbolo um círculo e está ao lado do "2000". E a cor laranja forte tem como símbolo um espiral e está ao lado do "2500+". No centro esquerdo do infográfico, o mapa do Brasil. Os estados do Acre, Roraima, Amapá, Tocantins, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe está na cor nude com o símbolo do triângulo. Os estados do Amazonas, Rondônia, Pará, Maranhão, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo estão na cor areia e com o símbolo do losango. Os estados do Mato Grosso, Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina estão na cor laranja pastel e com o símbolo quadrado. Os estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul estão na cor laranja e com o símbolo do círculo. E o estado de São Paulo está na cor laranja forte com o símbolo da espiral. No mapa, estão em destaque escrito, na cor cinza sobre fundo branco, os nomes: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No canto superior direito, sobre fundo branco, texto em laranja dividido em 16 linhas: "De acordo com o último mapeamento, de 2021, a região Sul permanece a segunda região brasileira com mais veículos de comunicação - 3478, ou 25% do total do país. O Rio Grande do Sul foi o que mais perdeu desertos: 58, frente a 31 no Paraná e 12 em Santa Catarina. O Estado líder no número de veículos jornalísticos no país continua a ser São Paulo, com 2471 veículos, ou 18% do total. O fundo é cinza escuro.

O Atlas da Notícia identificou uma redução de 9,5% no número de municípios considerados desertos de notícias no Brasil: no cenário atual, são 5 em cada 10 municípios brasileiros. Na quarta edição da pesquisa, o levantamento mostrou que cerca de 34 milhões de brasileiros não têm acesso a qualquer informação jornalística sobre o lugar onde vivem. No Rio Grande do Sul, os municípios de Arroio do Tigre, Bozano e Pinheiro Machado são exemplos de desertos de notícias. 

 

A região Norte do Brasil continua com o maior número de desertos, com 63,1% do seu território sem cobertura jornalística. Do total de 450 cidades nortistas, 284 não têm nenhum veículo local. A região é a maior em extensão territorial do país e segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Altamira, no Pará, é a maior no ranking em unidade territorial também. Por isso, alguns municípios apresentam problemas de locomoção, como locais que só são acessíveis por barcos e cidades pequenas muito descentralizadas. Todos os fatores dificultam a produção e a circulação do jornalismo local na região. 

Descrição da imagem: infográfico horizontal e colorido de um mapa do Brasil. O mapa é dividido em regiões. Na parte inferior direito da imagem, tem uma escala de cores em tons de laranja. Em branco, acima, o título "Número de Veículos". Abaixo, uma escala de cores, que vai de 1500 a 4500. A cor nude tem como elemento associado um triângulo e está ao lado do "1500". A cor areia tem como símbolo um losango e está ao lado do "2000". A cor laranja pastel tem como símbolo um quadrado e está ao lado do "3500". A cor laranja tem como símbolo um círculo e está ao lado do "4000". E a cor laranja forte tem como símbolo um espiral e está ao lado do "4500". O mapa do Brasil está nas cores da escala: a região norte está na cor nude com o símbolo do triângulo. A região nordeste está com a cor laranja pastel com o símbolo do quadrado. A região centro-oeste está na cor areia e com o símbolo do losango. A região sudeste está com a cor laranja escuro e com o símbolo da espiral. E a região Sul está na cor laranja e com o símbolo do círculo. Na parte superior direita, sobre fundo branco, o texto laranja em 14 linhas: "A região Norte do Brasil continua com o maior número de desertos, com 63,1% do seu território sem cobertura jornalística. Do total de 450 cidades nortistas, 284 não têm nenhum veículo local. O número de veículos ativos na região Sudeste chegou a 4628, ou 33,7% dos 13.734 identificados em todo o Brasil em 2021". O fundo é cinza escuro.

A importância do jornalismo local

O mapeamento realizado pelo Atlas permite analisar quais locais precisam de maior atenção. Diversos projetos de jornalismo independente* que vêm surgindo ao longo dos anos contribuem para que comunidades interioranas tenham acesso a informações. A Amazônia Real, fundada pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Freitas, foi criada a partir da observação das duas profissionais que trabalharam vários anos na grande imprensa brasileira, e perceberam a falta de interesse por temas relacionados aos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes e defensores ambientais. 

O projeto é financiado por doações de leitores e parcerias com instituições filantrópicas. Em 2014, criou uma rede de jornalistas, com profissionais remunerados por meio de bolsas de reportagens e fotografia nos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Pará e Tocantins, além de colaboradores no Mato Grosso do Sul, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, um exemplo é o Grupo Matinal Jornalismo. Com sede na cidade de Porto Alegre, é um jornal digital com foco no local que funciona com planos de assinatura para os conteúdos produzidos.

Iniciativas independentes como a da Amazônia Real e do Matinal Jornalismo são novas formas de produzir jornalismo local de qualidade. Marcelo comenta que é preciso diversificar as fontes de renda dos veículos, pois muitos dependem de publicidade ou de instituições, como câmaras de vereadores e prefeituras. O financiamento coletivo, por exemplo, é uma nova maneira de sair da “bolha” do jornalismo tradicional e construir uma independência pautada pelo interesse público. Ademais, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) promove cursos para jornalistas e estudantes a fim de aperfeiçoar, de ensinar técnicas e de desenvolver conteúdos com foco no local. 

 

*conceito que está sendo debatido na área da comunicação.

Expediente:

Reportagem: Eduarda Paz, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ludmilla Naiva, acadêmica de Relações Públicas e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Relações Públicas: Carla Isa Costa;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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