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Na busca por inclusão

Pesquisadora investiga a relação entre a acessibilidade e as estratégias pedagógicas no ensino superior



O debate sobre a adoção das cotas como forma de diminuir as desigualdades sociais no ingresso das universidades federais teve grande repercussão no Brasil há alguns anos. Através do sistema de ações afirmativas existente desde 2007, a UFSM esteve entre as pioneiras e já reservava vagas específicas para alunos afro-brasileiros, indígenas, pessoas com deficiências e egressos do sistema público de ensino. Essas medidas se ampliaram, e a Universidade ainda se adapta para atender esses alunos.

 

Na dissertação da pesquisadora Jéssica Bortolazzo, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação em 2015, colocou-se em discussão o modo como o ensino superior acolhe os alunos com deficiência, já que eles necessitam tanto de acessibilidade aos diferentes espaços físicos, como também precisam de acompanhamento psicopedagógico. “A aproximação com os estudantes foi inicialmente através de e-mail, por informações fornecidas pela Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED) da UFSM. Depois, busquei ir ao ambiente que fosse melhor a cada um dos que retornaram o contato inicial para fazer a entrevista”, conta Jéssica.

 

Os trechos do diário de campo e das entrevistas realizadas pela pesquisadora dão voz a esses alunos.

 

Estudante 1

Faz Direito, tem 31 anos, ficou com problemas na perna devido a um acidente de carro.

 

A estudante foi bem receptiva, e iniciou contando como a sua vida era corrida. […] Foi bem insistente ao falar que se sentia humilhada por ter que ficar todo momento falando de sua perna para ter acesso aos seus direitos. Ela pareceu sentir-se incomodada com as situações que passou, e por algumas que ainda passa, com uma certa ‘raiva’ por valorizarem mais uns tipos de problemas em detrimento de outros, sendo que sua deficiência não precisa estar aparente para que ela tenha o devido acesso que merece. Pesquisadora

 

“O coordenador do curso sabe o aluno que é deficiente. Tem que procurar saber e perguntar se [o aluno] precisa de alguma coisa. Eu tinha que ser cega, estar numa cadeira de rodas, ou de muleta, para ele saber? Não. […] Parece que tem que chegar numa cadeira de rodas ou tem que estar pedindo. Eu acho assim: eles sabem que têm [alunos com deficiência] e ficam omissos.” Estudante 1

 

 

“Falta essa comunicação no Restaurante Universitário (RU), porque nem todo deficiente é físico aparente. No RU, deveriam dar uma credencial [para os deficientes]. ‘O fulano passa na frente porque é prioritário.’. Seria bem mais fácil para os deficientes, porque não precisam ficar dando explicação.” Estudante 1

“Os professores são ótimos! São bons! Tem professor que eu acho que sabe que tu tem [deficiência]. Tem uma professora que eu disse: ‘Ah! Vou chegar atrasada’. E ela: ‘Tudo bem, pode chegar atrasada, só não deixa de vir na aula’. Ela notou que eu tenho o problema na perna. E uma outra também [notou]: ‘Ah! Tu tem uma coisa na tua perna.'” Estudante 1

 

 

Estudante 2

Faz Medicina, tem 23 anos, ficou paraplégico por ter sofrido um acidente de carro.

 

O estudante frisou várias vezes o quanto ele estranhava essa nova vida, que ele não ‘aceitava’ essa nova condição, que essa não era a sua vida, mas que agora ele vive, não está depressivo, mas que não é 100% feliz e que se 1% não está bem, não é felicidade completa. […] Demonstrou gostar de conversar e colaborar com pesquisas, principalmente no assunto que tange à acessibilidade, mostrando o quanto quer melhorar as condições na sociedade não só para si, mas para os outros componentes da sociedade. […] Também se percebeu o quanto ele demonstra estar feliz por estudar nessa Universidade, onde se sente acolhido e atendido em seus pedidos, embora pense que há muito o que se fazer ainda. Pesquisadora

 

“O professor fala: ‘Se precisar de 50 minutos a mais [para fazer a prova], tu tem direito pela legislação’. A maioria não fala, porque eu não uso. Não é porque não me sinto bem, mas eu não preciso. Eu faço normal o meu estudo, regular, de igual para igual. A única diferença é esta: eu preciso de uma acessibilidade. Nenhuma prova eu precisei extrapolar o tempo, mesmo o professor falando: ‘Tu pode! É teu direito’. Então eu acho que os profissionais que lidam comigo foram conscientizados de algum jeito.” Estudante 2

 

 

Estudante 3

Faz Administração Pública, tem 28 anos, possui sequelas da paralisia cerebral.

 

Pessoas humildes e batalhadoras: é assim que caracterizo a Estudante 3 e sua família. Ela tem uma irmã gêmea, são bivitelinas, e ambas tiveram sequelas da paralisia cerebral, passando por várias cirurgias em Santa Maria e Passo Fundo. A irmã da Estudante 3 ficou com problemas de aprendizagem. No entanto, a Estudante 3 não apresentou dificuldades na aprendizagem. […] Percebe-se que é uma família que necessitava ser escutada, e que alguém compreendesse seus desafios […] A Estudante 3 é bem dedicada, pelo que se pode perceber, e sua frase marcou muito: ‘Se for pra eu entrar numa coisa pra não me esforçar, não terminar, eu não entro’. Pesquisadora

 

“Eu tenho professores muito bons. Um professor de Contabilidade chegava a fazer videozinhos explicando questão por questão, muito dedicado. E tem professores que, eu acredito que por ser curso a distância, não têm só aquilo pra fazer. Só que tem professores que tu manda uma pergunta hoje e vai, vai, vai, e passou a prova, às vezes, e ele não responde. Em geral tem professores bons.” Estudante 3

 

 

Estudante 4

Faz Medicina Veterinária, tem 20 anos, possui Acondroplasia, uma condição genética relacionada com baixa estatura e alteração dos ossos.

 

A estudante é bem humorada, e acolheu super bem a entrevista, respondendo sempre com um sorriso no rosto, e demonstrando disposição de estar envolvida na pesquisa. Ela é uma menina que parece bem realizada, que demonstra muito carinho e gratidão tanto pela sua família como pelos colegas, professores e pela Universidade em geral, que a acolheu bem. A Estudante 4 respondeu às questões de uma forma mais direta, às vezes contando alguns episódios. Antes da entrevista, relatou o seu caso, mas não era de detalhar muito suas respostas. Procurava ser objetiva. Pesquisadora

 

“Na real, aqui no Núcleo [de Acessibilidade], eles estão desenvolvendo um banco pra eu assistir às aulas de anatomia. A bancada é alta, e daí tão desenvolvendo um banco. Agora a professora de Histologia já achou um banco pra mim, porque lá me faz falta, sabe, e preciso de um banco que fosse alto na altura dos microscópios, mas que tivesse barras embaixo pra eu subir.” Estudante 4

 

 

Estudante 5

Faz Jornalismo e pós-graduação em História, tem 51 anos, lida com as sequelas de um acidente, em que houve falta de oxigenação no cérebro.

 

Na entrevista, ele foi bem receptivo demonstrando interesse em responder o que era solicitado. Devido ao seu acidente, ele tem dificuldades em falar claramente. […] No decorrer da entrevista, tinha dificuldade em responder às questões no sentido de interpretar o que era solicitado, mas voltava e repetia o que era o objetivo das questões. O Estudante 5 parece ser bem carente, tanto que ficou horas contando sua vida, parecendo precisar de atenção e de ser escutado, que tivesse alguém para ouvi-lo. Ele sentiu-se bem à vontade, e relatou vários casos pelos quais passou, demonstrando ter superado. Claro que sempre se voltando à sua mãe e às pessoas que o ajudaram. Pesquisadora

 

“Passei uns perrengues no Jornalismo, na aceitação de colegas. Professores com doutorados e mestrados e não sabem lidar com as pessoas. Uma professora que é terrível. […] Cada curso tem um método, no Jornalismo me perdia, na História é meu campo. No Jornalismo os professores me ajudavam, tirando aquela uma [professora]. Mas eu procurava os professores e falava o que precisava.” Estudante 5

 

A acessibilidade

 

Entre as perguntas feitas pela pesquisadora aos estudantes, ela quis saber o que cada um considerava como acessibilidade. Confira as respostas a seguir:

 

“Eu poder ir e voltar sozinha, sabe? Sem precisar de ninguém me carregando. Não importa se eu estiver agora de muleta, ou com o Ilisarov*, ou estiver com uma cadeira. Eu poder ir sozinha. Aqui na Universidade é complicado.” Estudante 1

*Aparelho fixador externo de fraturas usado para estabilizar a região lesionada

 

“Acessibilidade é tu ter acesso universal a um lugar. É isso a acessibilidade. É ter acesso universal para todos os tipos de pessoa naquele lugar. Pra mim é isso acessibilidade. Eu tenho um lugar, eu quero que todo mundo tenha [como] entrar ali.” Estudante 2

 

“Eu acho que acessibilidade é a possibilidade de todas as pessoas, independente de suas limitações, conseguirem ter oportunidade.” Estudante 3

 

“Acessibilidade eu acredito que seja… Não só tipo físico assim, sabe, de fazer materiais acessíveis, mas [também] como tu te dispor para aquela pessoa. Ser acessível para aquela pessoa falar dos problemas dela. Então, tem dois lados.” Estudante 4

 

“Conheci acessibilidade aqui na UFSM. Muito importante, achava que era só para deficiente físico, mas vi uma gama maior disso, ampla história, envolve mais coisas. No Jornalismo ano passado tava a fim de estourar. Troquei o curso e melhorou.” Estudante 5

 

Repórter: Luan Romero

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