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Mulher também “dibra”

Grupo de mulheres fundou programa que da visibilidade ao esporte feminino



O esporte, desde seu princípio, era considerado uma atividade “para homens”. Quando falamos de futebol, essa característica de gênero aparece mais forte ainda, mas um grupo de cinco mulheres de São Paulo tenta mudar essa noção intrínseca à sociedade. O “Dibradoras” surgiu para aumentar as experiências de mulheres que gostam do futebol, mas se tornou algo maior, e hoje possuí um programa semanal.

Além do programa, o “Dibradoras” conta com um blog no qual são postadas reportagens, entrevistas e matérias relacionadas à mulher nos mais diversos esportes. A equipe é formada por duas jornalistas, Renata Mendonça e Roberta Nina, Angélica Souza, de propaganda e marketing; Júlia Vergueiro, internacionalista e Nayara Perone, designer. A Revista Arco conversou com as integrantes para entender melhor o “Dibradoras” e abordar questões relacionadas à mulher no jornalismo esportivo.

ARCO – Como surgiu a ideia de criar o “Dibradoras”?

Dibradoras – O dibradoras tinha a proposta de oferecer experiências para mulheres que gostam e acompanham o futebol. Esse foco não se perdeu, mas foi ampliado. No início, iríamos organizar eventos, encontros e viagens para a mulherada que curtia futebol. Realizamos encontros em parceria com a marca Penalty no Morumbi e também fizemos o “Majestosas” no Pacaembu, quando reunimos as torcedoras de São Paulo e Corinthians para assistirem ao clássico juntas, no Dia Internacional da Mulher.

 

Mas além dos eventos, partimos para o conteúdo também e, além de falar do futebol feminino, abrimos espaço para falar de mulheres de diversas modalidades/áreas de atuação que lutam por seu espaço no meio esportivo.

ARCO – Qual o principal objetivo que vocês enxergam no “Dibradoras”?

Dibradoras – Nosso principal objetivo é dar voz e espaço às mulheres no meio esportivo, voz e espaço que elas não têm em outros canais. São mulheres produzindo conteúdo esportivo sob o ponto de vista feminino para dar destaque ao que geralmente passa batido na maioria dos veículos de mídia esportiva, que são predominantemente masculinos e que tratam as mulheres sempre pelo do “musa” disso, “musa” daquilo, sempre objetificando-as.

 

Nosso canal é um espaço livre, onde homens e mulheres podem interagir e se inteirar sobre os feitos das mulheres dentro do esporte, com o intuito de dar mais visibilidade e valorizar suas lutas, esforços e vitórias. Como mídia independente, queremos dar voz e vez às atletas que dedicam grande parte de suas vidas ao esporte e pouco recebem em troca. Combatemos o sexismo, o preconceito e a discriminação em qualquer âmbito da sociedade. 

 

ARCO – Quando começaram a acontecer as gravações de podcasts?

 

Dibradoras – Começamos na Rádio Central 3 cobrindo a Copa do Mundo de Futebol Feminino deste ano (em junho) e a ideia era que ele durasse apenas o período do campeonato, ou seja, 6 semanas. Depois veio os Jogos Pan-Americanos, e aproveitamos a oportunidade para abordar assuntos envolvendo mulheres em outras modalidades – como o caso da Ingrid Oliveira, eleita “musa do Pan” esse ano por causa de uma foto postada no Instagram. E, mesmo depois das competições, a parceria entre nós e a rádio deu certo e eles nos convidaram para seguir fixas na grade de programação. E assim tem sido. Gostamos demais desse programa e nos dedicamos muito para levar um conteúdo de qualidade aos ouvintes toda semana.

  

ARCO – Como funciona o blog em questão de postagens? São diárias, semanais, mensais?

Dibradoras – Nós temos algumas colaboradoras oficiais das dibradoras, Maiara Beckrich, Gabriela Abrunheiro, Maria Guimarães e Daniele Carvalho que nos escrevem textos e sugerem pautas também. Além disso, escrevemos nossos próprios textos. A periodicidade varia, mas nossa ideia é não deixar passar uma semana sem pelo menos dois posts, um sobre o que rolou no podcast e outro sobre algum outro tema que surja na semana. Estamos nos estruturando melhor agora e temos planos de ampliar isso e ter posts diários no site.

 

ARCO – Como vocês veem a questão da mulher inserida no jornalismo esportivo?

DibradorasÉ preciso dizer que já evoluiu, mas está bem longe do que o que nós gostaríamos de ver. As redações são majoritariamente masculinas – existem mulheres, mas elas ainda são uma minoria gritante, numa relação em que homens compõem 80% das redações esportivas e as mulheres são 20% ou nem isso. Na televisão, as mulheres já conquistaram espaço para serem apresentadoras ou repórteres de campo, mas ainda é muito raro ver mulheres comentando jogos, da cabine, ao lado do narrador. Ou até em programas de mesa redonda. Muito mais raro do que deveria ser, se considerarmos que as primeiras mulheres começaram a atuar nesse meio na década de 1970, com a Gegê, uma das primeiras mulheres a atuar como repórter de campo. Quarenta anos depois, esperávamos que isso já não fosse mais tabu, mas infelizmente, é. E não é por falta de mulheres competentes na área, mas por falta de ousadia dos meios de comunicação, ainda muito influenciados pelos homens que os dominam.

 

ARCO – As pautas que vocês priorizam são relacionadas apenas às mulheres nos esportes? Por que?

 

Dibradoras – Sim, priorizamos por divulgar os feitos das mulheres dentro do esporte, porque poucos canais o fazem, de fato. O futebol feminino é nossa bandeira maior, mas também estamos de olho nas outras modalidades e nas mulheres que fazem a diferença dentro do esporte. Elas ainda são privadas de muitas coisas e não competem de igual pra igual com os homens. Eles têm apoio, reconhecimento, premiações maiores e acesso livre a qualquer ambiente. Elas ainda são privadas disso tudo. Além disso, elas constantemente são destacadas por serem “musas” e só – sem que seus reais feitos no esporte ganhem a devida atenção.

ARCO – Vocês sofrem ou já sofreram algum tipo de preconceito por falar de futebol?

DibradorasPara mulheres que gostam de futebol, o preconceito é constante. A cada comentário que você faz em uma mesa de bar sobre um jogo que está passando na TV – e que recebe em troca um olhar desconfiado dos homens antes de eles começarem sua tradicional “chamada oral” pra ver se entendemos meeesmo de futebol. “Vai, então me diz o que é impedimento? Fala a escalação do seu time?”, entre outras perguntas que jamais serão feitas a homens. Até concluírem: “Olha, mas você realmente entende de futebol”, como se isso fosse algo de outro planeta, ou como se mulheres não pudessem entender desse assunto.

 

ARCO – De que forma vocês lidam com preconceito?

DibradorasA gente combate o preconceito em todas as frentes que atuamos. Não queremos impor nada à sociedade ou aos preconceituosos, queremos apenas mostrar o quanto essa segregação faz mal e não tem sentido algum. Recentemente gravamos um vídeo (super descontraído) que aborda justamente isso: o preconceito que as mulheres sofrem ao falar que gostam e entendem de futebol. Os homens – em sua maioria – ficam espantados e nos fazem responder diversas perguntas, como se nos colocassem em xeque. E aí perguntamos: qual a finalidade disso? Por que mulher não pode gostar e entender tanto de futebol quanto os homens? É um preconceito ridículo que nem deveria existir nos dias de hoje.

Reportagem: Marina Fortes

Fotografia: Acervo Pessoal

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