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Química alimentar

Na produção de batatas, o silício auxilia na redução dos níveis de metais no solo



De tempos em tempos somos informados sobre um alimento que fazia bem à saúde e a ciência descobriu ser um malfeitor; outro, considerado vilão, rapidamente passa a ter seu consumo diário recomendado por médicos e especialistas. O que muitos não sabem é que diversos fatores influenciam na qualidade do que comemos. A alta incidência de metais no solo, por exemplo, pode alterar a composição química de plantas que, quando consumidas, aumentam os riscos à saúde.

 

Nas atividades agrícolas e industriais, o uso de fertilizantes fosfatados e sedimento de esgoto são alguns dos fatores que contribuem para o aumento da toxicidade do solo, sobretudo nas terras ácidas encontradas no Rio Grande do Sul.

 

Entre os metais que podem oferecer riscos à saúde está o alumínio. Estima-se que o corpo humano possui uma dosagem natural de cerca de 100 miligramas deste metal. O alumínio também está presente em diversos alimentos que fazem parte da dieta comum das pessoas, como frutas frescas, leite, carne e demais vegetais. A batata, uma das principais peças na alimentação do homem e consumida por mais de um bilhão de pessoas no mundo, também pode concentrar níveis de aluminío.

 

Presente nos solos de plantações, o alumínio tem relação direta com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, potencializando o desenvolvimento dessas doenças em pessoas com pré disposição genética. O excesso de alumínio no organismo humano também pode gerar crises convulsivas, demência pré-senil e a diminuição das funções hepáticas e renais.

 

Buscando alternativas para o plantio de batatas, o biólogo Athos Odin Severo Dorneles apontou resultados positivos na redução da incidência de alumínio nas plantas adicionando silício nas misturas de nutrientes utilizadas na cultura. Em sua pesquisa, realizada no Programa de Pós-Graduação em Agrobiologia da UFSM, o cientista selecionou duas espécies de Solanum tuberosum (nome científico da batata): uma sensível à presença de alumínio e outra tolerante, a fim de comprovar que o silício age como um amenizador na toxicidade do solo e redutor no estresse biótico e abiótico da planta.

 

O estresse biótico é causado por agentes biológicos – até os vírus se enquadram nessa categoria, embora não sejam considerados vida – que causam danos às plantas e desencadeiam respostas fisiológicas. Estresses abióticos são causados por elementos ou substâncias tóxicas. Nutrientes em excesso também causam toxidez.

 

“Nas plantas, o estresse é observado na qualidade e na quantidade da produção. A alta incidência de alumínio pode causar grandes problemas na elongação celular, principalmente nas raízes, o que leva a menos absorção de água e nutrientes. Ele ainda causa um desequilíbrio nos sistemas antioxidantes da planta, o que pode causar graves danos ou até mesmo a morte desta”, explica o pesquisador.

 

As análises mostram que o alto teor de metais no solo ocasiona a redução no crescimento e produtividade das plantas. Assim, uma alta quantidade de alumínio no solo pode causar a má formação das raízes e afetar a capacidade de absorção de luz, essencial no processo fotossintético das plantas.

 

Para compreender a ação do silício no controle da toxidade pelo alumínio, Dorneles precisou “plantar” batatas in vitro, permitindo a delimitação de condições controladas de nutrientes, temperatura, solo, entre outros elementos. As plantas germinaram durante 25 dias, e depois foram transferidas para bandejas de hidroponia para receber uma solução nutritiva que estimulasse seu desenvolvimento. Após essa primeira fase, o pesquisador passou a cultivar as batatas em uma nova solução nutritiva por 14 dias. Cada parte das amostras foi, então, exposta a diferentes dosagens de alumínio e silício.

 

 

Ao fim do experimento, notou-se uma redução na concentração de alumínio nas raízes e na parte aérea das plantas. “Esse resultado é muito interessante pois com a utilização do silício podemos aliviar a incidência de alumínio nos alimentos e na cadeia alimentar’, explica a professora Luciane Tabaldi, orientadora da dissertação.

 

Os pesquisadores afirmam que para complementar os resultados já coletados seria necessário testar o experimento em uma cultura completa da batata e com o uso de terra. Entretanto, como o alumínio causa toxidez já nas quatro primeiras horas de contato com a planta, a pesquisa de Dorneles e Tabaldi já apontam contribuições relevantes para a produção de vegetais mais saudáveis.

 

O produtor que tiver um solo ácido e com altas concentrações de alumínio poderá utilizar de Silicato de Cálcio para preparar a terra para o plantio, corrigindo o pH do solo e diminuindo sua acidez. Além disso, a técnica de calagem com Silicato de Cálcio também favorece a diminuição nos níveis de alumínio no solo e, consequentemente, nas plantas.

Reportagem: Júlio Porto e Lucas Delgado
Infográficos: Bruna Dotto e Vitória Rorato

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