Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

O câncer da desigualdade

Há relação entre falta de informações sobre exames preventivos e desigualdade social



Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre América Latina e Caribe apontou, em 2010, que o Brasil era o 3º país com o maior índice de desigualdade, com baixa mobilidade social e educacional. Aqui, a desigualdade social tem relação com o contexto histórico, e por muito tempo, os índices alarmantes vêm sendo nosso cartão de visita.

Mas desigualdade é mais que um índice estatístico, ela afeta o cotidiano das pessoas de forma muito concreta. Uma parcela significativa da população brasileira está às margens da sociedade, ganhando baixos salários, sem acesso à educação de qualidade e com dificuldade em utilizar serviços públicos de transporte e saúde.

Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Pelotas com mulheres das regiões Sul e Nordeste do Brasil alerta para uma dessas diferenças: a prevenção do câncer de mama. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam esse como o tipo mais comum de câncer entre as mulheres no Brasil, chegando a responder por 25% dos novos diagnósticos a cada ano. Os números de mulheres mortas em função do câncer de mama chegaram, em 2013, aos impressionantes 14.206 óbitos, e a estimativa do INCA é que em 2016 sejam diagnosticados 57.960 novos pacientes doentes só no país.

Se detectado precocemente, o tratamento do câncer de mama pode evitar cerca de 30% dos casos de morte. Além disso, os gastos com medidas preventivas são significativamente menores do que os com o tratamento da doença.

Na pesquisa desenvolvida em Pelotas, entretanto, o problema mapeado está ligado exatamente às dificuldades na realização de exames preventivos de mama. O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio (PNAD), realizados em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que envolveu 150.591 domicílios, com 391.868 pessoas entrevistadas. Para esta pesquisa, no entanto, foram usadas informações relativa à população feminina, com idades entre 40 e 69 anos, moradoras das regiões Sul e Nordeste do Brasil.

 

A partir disso, foram avaliadas as prevalências do exame clínico de mamas (ECM) e da mamografia (MMG), com base nas duas perguntas principais “Quando foi a última vez que um médico ou enfermeiro fez o exame clínico das mamas [na mulher entrevistada]” e “Quando foi a última vez que [a mulher entrevistada] fez uma mamografia?”. Tendo em vista as respostas obtidas, o estudo categorizou os resultados considerando variáveis como idade, cor da pele, situação conjugal, nível socioeconômico e escolaridade para cada uma das regiões.

 

Segundo a pesquisa, as mulheres com maior escolaridade e renda, em geral, têm amplo acesso a informações e a serviços de saúde. Dessa maneira, considerando os índices de desigualdade na região Nordeste, o estudo mostrou que menos da metade das mulheres seguem as recomendações para a realização da mamografia na região, cerca de 45%; contra os 58,6% de mulheres que realizaram os procedimentos na região Sul.

 

Com base no relatório, um comparativo entre as duas regiões reforça que o maior risco para a não realização dos exames está em mulheres com renda econômica mais baixa e que são menos escolarizadas. Atualmente, muitos são os motivos para a não prevenção através dos exames. Algumas mulheres desconhecem a faixa etária para avaliação, outras têm medo de realizar o exame e algumas ainda atribuem a responsabilidade a obstáculos do serviço público de saúde. Como conclusão, os pesquisadores apontam que “importantes desigualdades foram observadas entre as regiões Sul e Nordeste para o ECM e a MMG”, e sugerem que para reduzir as desigualdades, as “políticas públicas de saúde devem priorizar grupos mais vulneráveis”.

 

Outro dado que o estudo reforça é o recorte racial. Quando se leva em consideração a cor da pele, a pesquisa chama atenção para a existência maior de desigualdades no Sul do que no Nordeste do país, especialmente para a realização da mamografia (MMG). Se 24,5% das mulheres brancas do sul que participaram da pesquisa nunca fizeram uma mamografia, no nordeste esse número chega a 35,5%.  Quando se trata de mulheres não brancas, o número de nordestinas que nunca realizaram o exame  vai para 42,9%, enquanto na região sul, 35,0%.

 

Em relação à cor da pele, nota-se que há mais desigualdades no Sul do que no Nordeste, especialmente para a não realização de MMG, o que pode demarcar mais fortemente as diferenças de acesso e informações decorrentes das situações desiguais advindas de fatores, principalmente, sociais, culturais, raciais e geográficos em ambos os contextos analisados.

 

Assim, no que se refere à saúde da mulher, a pesquisa evidencia que situações desiguais de acesso e informação, no Brasil, também estão relacionadas à raça já que, em geral, mulheres com amplo acesso a medidas de prevenção são brancas, com alto poder aquisitivo e maior escolaridade.

Reportagem: Clara Sitó e Gabriele Wagner
Infográficos: Vitória Rorato

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-275

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes