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Protagonismo feminino na pesquisa sobre energia solar

Grupo de cientistas cria rede para garantir igualdade de gênero em campo das engenharias



Alcançar a igualdade de gênero e assegurar energia acessível e sustentável para todos. Esses são dois dos 17 Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável (ODS’s) que compõem a Agenda 2030, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Assembleia Geral das Nações Unidas de 2015. A Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar, ou Rede MESol, nasce com o propósito de conciliar essas duas questões. Além de contribuir para os avanços em direção a novos modelos de energias renováveis, a Rede atua desde 2019 no combate da desigualdade de gênero dentro do setor de energia elétrica e busca criar um ambiente que seja inclusivo e diversificado.

Tudo começou no Laboratório Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde aconteceu o 1º Encontro de Mulheres na Energia Solar, o qual deu origem à Rede MESol. Kathlen Schneider, mestre em Engenharia Civil pela UFSC e cofundadora da Rede, explica por que o projeto foi idealizado: “No laboratório, somos um grupo grande de mulheres com bastante voz, mas quando saímos do laboratório e vamos para outros lugares, percebemos que nós somos minoria. Em congressos, além de poucas mulheres participantes do evento, vemos poucas mulheres nas mesas de debates. Por mais que o setor tenha crescido bastante e tenha mais mulheres se inserindo, é muito claro que tem essa desigualdade entre homens e mulheres”. A partir dessas percepções, Kathlen e outras quatro cofundadoras contataram outras mulheres por meio de um formulário com alguns questionamentos como “Quem são as mulheres que atuam na energia solar? O que elas fazem no setor? Quais são as barreiras que elas enfrentam? Quais as necessidades que elas têm? E como podemos construir um setor de forma mais igualitária e diversa?” 

Depois de receber cerca de 130 respostas do Brasil inteiro, a Rede MESol definiu quatro frentes de atuação.

Se olharmos para os números, iniciativas como a Rede MESol se mostram fundamentais. Estudos mostram que, no Brasil, 39% dos postos de trabalho nas áreas de engenharia são ocupados por mulheres. Na área de pesquisa acadêmica, apenas 29% das pesquisadoras são mulheres – e esse número diminui para 20% quando se trata de mulheres bolsistas de produtividade em pesquisas A1 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nas áreas de ciências exatas e engenharias. Mundialmente, as mulheres ocupam 32% dos postos de trabalho no setor de energias renováveis, porém a maioria delas estão em funções administrativas.

No Brasil não há  informações precisas que mostrem o perfil de quem trabalha no setor. “Quando levantamos dados, normalmente não estão segregados por gênero: não sabemos a quantidade de homens e mulheres, não sabemos a diferença salarial, a diferenciação de raça, não sabemos se as mulheres estão mais na área técnica ou administrativa” explica Kathlen. Por esse motivo, a Rede trabalha para mapear o setor e, assim, fazer recortes de gênero e traçar estratégias para construir um ambiente mais equilibrado entre mulheres e homens. 

A maternidade está entre os maiores desafios para mulheres da área, seja no mercado de trabalho ou na carreira científica. Dados de uma pesquisa de 2017, desenvolvida pelo projeto “Parent in Science”, mostram que a maternidade teve impacto negativo na carreira de 81% das pesquisadoras entrevistadas. O estudo também apontou que cientistas mães têm quatro anos de queda no número de publicações após a gestação, enquanto pesquisadoras sem filhos mantêm a regularidade de trabalhos publicados. Essa diferença na produção se torna um problema para as pesquisadoras quando o critério de universidades e agências de fomento à pesquisa consideram a produtividade dos últimos anos como critério para selecionar bolsistas e projetos. 

Apenas desde o dia 15 de abril, a plataforma Lattes, sistema oficial de cadastro de currículos dos pesquisadores no Brasil, passou a permitir a inclusão de períodos de licença-maternidade – ato simples, mas que carrega enorme simbologia na promoção de equidade de gênero na área acadêmica.  Kathlen afirma que muitos eventos não são preparados para receber mães com seus filhos. Por isso, a frente “promover” do MESol trabalha para a inclusão dessas mulheres nesses espaços.

A importância do uso de energia solar

A energia solar é gerada através de módulos fotovoltaicos que captam a luz do sol. Esses módulos devem estar posicionados em um lugar estratégico já que, quanto mais o sol incidir sobre eles, maior será a energia gerada. Após a captação nos módulos fotovoltaicos, a energia solar é transformada em energia elétrica. 

Desde 2018, quando inaugurou a Usina de Microgeração Solar Fotovoltaica no campus sede, através do projeto de Eficiência Energética, a UFSM tem investido fortemente neste modelo de energia sustentável. Atualmente, a universidade conta com 140 kW de potência instalada de geração solar fotovoltaica – e com a previsão de instalação de mais duas plantas de 400 kW, nos campus de Camobi e de Cachoeira do Sul. Além de contribuir para a sustentabilidade ambiental, o aumento no uso de energia solar irá representar uma redução de cerca de 10% na conta de energia mensal da universidade, de acordo com Luciane Canha, professora do Departamento de Eletromecânica e Sistemas de Potência da UFSM. 

O uso de energia solar fotovoltaica dentro do campus contribuiu para que a UFSM fosse considerada a 25ª instituição de ensino superior mais sustentável do Brasil de 2020, segundo o ranking GreenMetric.

O protagonismo feminino na UFSM

A UFSM é uma das instituições referência na geração de energia fotovoltaica na região central do estado – e são mulheres que lideram muitas das ações desenvolvidas dentro da universidade. Para a professora Luciane Canha, uma dessas pesquisadoras e integrante da Rede MESol, a relação que é construída com outras mulheres do setor facilita a cooperação entre colegas que acontece de uma maneira direta, clara e sem preconceito. “Nos permite trocar informações, nos conectar mais rapidamente e ter uma abertura maior por se tratar de um grupo de mulheres, em que você consegue entender que há sororidade”, destaca.

Ainda que se apresente um setor majoritariamente masculino, engenheiras e pesquisadoras da UFSM têm um papel importante no processo de sustentabilidade da universidade. Luciane, como professora, percebe uma mudança no cenário com uma participação mais frequente de mulheres que buscam o setor de energias renováveis para trabalhar. 

Nesse contexto, o projeto de extensão “Uniescola: Mulheres rumo à engenharia construindo o futuro”, atua para despertar o interesse pelas ciências exatas, engenharias e computação de meninas estudantes dos ensinos fundamental e médio de Santa Maria. Através de atividades com diferentes metodologias – tais como cursos, palestras, oficinas e aulas práticas – o projeto busca desenvolver suas vocações científicas com aprendizados relacionados ao cotidiano e ao ambiente físico e social a qual essas meninas estão inseridas. São cinco escolas participantes: Escola Municipal Dom Luiz Victor Sartor, localizada no bairro Nonoai; Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Altina Teixeira, na Vila Caramelo; Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, no bairro Juscelino Kubistchek, Escola Estadual de Educação Básica Professora Margarida Lopes, em Camobi e a Escola Marista Santa Marta, presente no bairro Nova Santa Marta. 

Nilza Zampieri, coordenadora do Uniescola e professora do Centro de Tecnologia, ressalta a importância do projeto para as participantes: “Ter como exemplo acadêmicas mulheres apaixonadas pela área, faz com que essas meninas, que muitas vezes não tem perspectiva de chegar à universidade, animem-se com a possibilidade de cursar engenharia”. Com a pandemia do novo coronavírus, o projeto está parado devido ao fechamento de escolas, mas, segundo Nilza, a ideia é voltar com as atividades no futuro.

Expediente

Repórter: Luís Gustavo Santos, acadêmico de Jornalismo e bolsista

Ilustradora: Amanda Pinho, acadêmica de Produção Editorial e bolsista

Mídia Social: Nathalia Pitol, acadêmica de Relações Públicas e bolsista

Edição de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista

Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas

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