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Nos deixem envelhecer em paz!



Entrevista 

Cobranças estéticas em demasia. Não consigo pensar em outra coisa ao começar a escrever esta matéria. Mulheres, ao longo da vida, são vítimas, sim, vítimas de um padrão estético perfeccionista, perpetuado pela mídia, para serem eternos ‘pedestais’ masculinos. 

Para começarmos essa reflexão, a lente teórica desta matéria é toda sob o ponto de  vista da minha entrevistada, a Professora Vera Martins, relações-públicas, doutora em Comunicação e docente do Departamento de Ciências da Comunicação do Campus da UFSM em Frederico Westphalen. Vera tem 50 anos e é pesquisadora e militante do feminismo. 

Professora, pesquisadora e feminista, Vera Martins é uma mulher a ser lida. Fotos: Gabriela Gabbi

De acordo com algumas linhas de estudo de uma perspectiva feminista, nós mulheres entendemos que envelhecer é um privilégio, sendo este recente na sociedade brasileira.  De acordo com a expectativa de vida atual, que passa dos 70 anos, o ‘envelhecer’ significa o óbvio: você está viva e teve uma trajetória necessária com saúde e privilégios para chegar até aqui, levando em consideração o contexto mundial de pobreza, exclusões,  desigualdades sociais e econômicas, e como a pessoa que redige esta matéria, reforço: envelhecer é um grande privilégio. 

Por que as mulheres precisam se apresentar à sociedade seguindo vários aspectos estéticos? 

De acordo com os profundos pensamentos da professora Vera, “As condutas morais, profissionais, e principalmente nos seus aspectos físicos, são resultado de uma socialização das mulheres para o olhar do outro. As mulheres na nossa sociedade são educadas, socializadas, como um SER para o outro”, declarou. 

Essa é uma das faces da cultura machista e sexisista, essa expectativa de um tipo de performance social, e em muitos aspectos, a cultura machista vai se sofisticando, ou seja, “se antigamente uma mulher de 50 anos era uma velha, hoje, todo o discurso é sobre saúde e qualidade de vida, sendo uma manutenção da juventude”, ressalta a pesquisadora. 

O que a sociedade atual nos oferece?

De acordo com a professora, “quando pensamos em tratamentos estéticos, antienvelhecimento, programas de saúde, atividade física, sendo muito importante salientar que críticas sobre essas questões, ela não é uma crítica sobre o tratamento estético em si, não há problema em uma mulher, que, diferente de mim, usa os cabelos brancos, opta por não fazer isso, e seguir pintando seu cabelo, também não há nenhum problema em uma mulher fazer uma intervenção estética no seu rosto, ou em qualquer outra parte do corpo, o problema é a motivação para isso”, destacou. 

Desejos genuínos sobre a mudança na aparência:  

O problema não são os tratamentos estéticos, mas o que leva uma mulher a fazer esses tratamentos, é um desejo genuíno dela, e não uma resposta a uma suposta imagem que ela aprendeu a ter.  “Como que a gente faz para separar? Como a gente faz para entender? Como eu faço para ter consciência para o que eu estou desejando fazer, é um desejo da minha pessoa, do meu ser, ou é uma questão que vem de fora? Essa é uma grande questão que precisamos entender?”, indagou a entrevistada.

Nós precisamos ver os discursos sobre aceitação, propagandas com mulheres com cabelos grisalhos, marcas de expressão no rosto, mas ainda assim, nós estamos vendo mulheres brancas, então, quem é essa mulher que aceita a idade e pode ser feliz? Não serão todas as mulheres que serão bem aceitas se decidirem assumir seus aspectos mais naturais, com as marcas do tempo no seu rosto e no seu corpo. 

Como funciona o chamado da estética para você eliminar as marcas do corpo? 

Sem dúvida, é uma apologia à juventude, é um tipo de negação que a idade passa, que o tempo passa, e à medida em que ele vai passando,  e as mulheres não são mais jovens, as prioridades queiram ser mudadas, fazendo outros direcionamentos para a vida delas como uma mulher madura e adulta, e a sociedade ao dizer que as mulheres devem continuar com a cara lisa e com o cabelo com a mesma cor de quando nasceu, é aí que nós devemos seguir a disposição do olhar do conforto do olhar dos outros e seguir os padrões impostos? 

“A expressão assumir os cabelos brancos já é algo no qual você terá que se posicionar!”, afirma Vera. “Sabe quando as pessoas dizem “assuma as consequências do quê você fez?”, como um alerta de que você provavelmente será punido? É nessa onda né?” Por que tradicionalmente quando os homens assumem seus cabelos grisalhos, assumem um charme, um sinal de maturidade, de poder, e por que com as mulheres você tem que assumir os cabelos brancos e arcar com as consequências dos cabelos brancos?”, provocou. 

Para finalizarmos essa reflexão, nós como mulheres devemos nos dar conta que somos educadas e socializadas para agradar os outros, e as nossas atitudes e a nossa aparência seja confortável para as outras pessoas, antes de ser para nós. Quando nós olhamos para o envelhecimento, para toda a oferta de procedimentos estéticos, de discursos sobre bem estar, nós precisamos prestar muita atenção, porque é a sociedade pedindo, exigindo que nós mulheres continuemos à disposição, disponíveis para este outro em sociedade, e esse outro é sempre o homem. 

Entrevista, texto e imagens: Gabriela Gabbi

Matéria produzida na disciplina Redação Jornalística II, do curso de Jornalismo do Campus da UFSM em Frederico Westphalen, no 1º semestre de 2021, ministrada pela Professora Luciana Carvalho. 

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