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FOBIA SOCIAL NO PERÍODO PÓS-PANDEMIA



Ilustração vertical e colorida com destaque para tons de azul com desenho de uma pessoa no centro. Ela é uma mulher de pele clara e cabelo escuro, ela olha para baixo, mas não tem expressões no rosto, as suas mãos estão dentro do bolso de um moletom. Ela veste um moletom azul claro e calças e tênis azul escuro. Na sua volta e atrás, existe o desenho de 6 sombras grandes e de pessoas em tons de azul escuro. O fundo é azul em degradê do claro para o escuro.
Ilustração: Ana Caroline Alves Crema

 Estar isolado não é fácil para ninguém. Foram 756 dias, cerca de dois anos, à espera do retorno, seja com a alegria do reencontro ou com o medo da nova realidade. Nesse contexto, é possível descobrir problemas e fragilidades profundas; a insegurança de estabelecer relações, de se expressar e de falar em público são exemplos das dificuldades causadas pela quantidade de adaptações em um curto período de tempo (do presencial ao remoto, do remoto ao presencial). Além de transtornos como ansiedade e depressão, é preciso dar atenção à fobia social, que pode ser confundida com vergonha e timidez, mas que é mais nociva para a saúde mental de uma pessoa.

 O Transtorno de Ansiedade Social, também conhecido como fobia social, é o pânico de situações de convívio coletivo, como falar em público e se direcionar verbalmente a pessoas estranhas ou pouco conhecidas. Em casos extremos, pode avançar para o medo de sair de casa, ou até para uma depressão profunda.

 No contexto da pandemia da Covid-19, o cotidiano de quase toda a sociedade era dentro de casa, mantendo contato apenas com familiares, na maioria das vezes. Quando existia interação fora dessa bolha, não  havia o olho no olho, o toque e nem a experiência sensorial, que faz parte da interação humana. Segundo o doutor em Psicologia e docente da UFSM, Silvio José Lemos Vasconcellos, quanto mais o indivíduo é isolado, mais ele perde sua confiança e suas habilidades sociais. Ou seja, ele terá dificuldade de conviver em sociedade quando inserido nela. 

O contraste entre dois cenários

Desde o início da pandemia, os universitários passaram por uma série de adaptações. Seja quem já estava na metade da graduação e teve que se adequar à forma remota, ou quem iniciou o curso e teve de se ajustar à vida universitária online em 2021. Mudanças significativas podem gerar uma série de reações, e foi o que aconteceu com a volta às aulas presenciais. Em pesquisa realizada por meio de formulário com 52 alunos da UFSM, 65% responderam  sentirem um aumento em seus níveis de depressão e ansiedade, em decorrência da diminuição das aulas remotas. 

A mestranda em Psicologia da UFSM e psicóloga clínica, Andressa Da Cas, afirma ser muito natural esse tipo de resposta, uma vez que, além das diferenças presentes na rotina da entrada em uma universidade, também existem as adequações à volta do presencial. Ela ainda conta que são  muito importantes os “ritos de passagem” ocorridos no ingresso dos universitários à vida acadêmica, como o trote e a Semana da Calourada. Afinal, fazem os jovens se sentirem pertencentes à UFSM e inseridos no meio, o que auxilia na adaptação nesse período.

No caso de acadêmicos com ansiedade social, o cenário não é diferente. Silvio afirma que, apesar de ainda não existirem dados que demonstrem como essas pessoas reagem à volta das aulas presenciais, é plausível que aumentem os casos de fobia social, já que existe uma distinção entre o modo de se relacionar na forma remota e na presencial. “Em vários momentos, o universitário, que se fazia tão presente e ‘ativo’ durante as aulas remotas, pode não ter o mesmo desempenho nas aulas presenciais”, ele afirma.

A dessemelhança também é perceptível no jeito como os estudantes interagem com seus colegas e demais frequentadores da UFSM. Na pesquisa, 40% responderam que apresentam dificuldades em manter interações e 36% que se sentem sozinhos na universidade. Esse é um reflexo não só da transição para o meio acadêmico, como também da distância de suas famílias e amigos, uma vez que isso afeta a estabilidade emocional de quem não morava em Santa Maria. “Existe uma inversão de papéis que vai além da falta da segurança e do conforto que nossos pais transmitem para nós”, Andressa destaca.

Como a UFSM pode contribuir

A universidade toma várias medidas para a melhoria na qualidade de vida dos seus estudantes. Diante dos problemas envolvendo a saúde psicológica dos universitários, a UFSM oferta, através da PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis) e da CAED (Coordenadoria de Ações Educacionais), terapias em grupo e atividades semelhantes, onde há atuação de estagiários de psicologia.

O professor Sílvio acredita que, visando o atendimento de pessoas que foram ou possam vir a ser diagnosticadas com ansiedade social, a realização de workshops pode ser uma possível contribuição para a vida acadêmica desses estudantes. Um exemplo levantado pelo professor seria a prática de oficinas para ajudar quem sente dificuldades de falar em público. Silvio explica que uma pessoa com ansiedade social alta vai prestar atenção apenas nas reações negativas à sua apresentação. Por isso, a realização de workshops pode fazer diferença na vida dessas pessoas.

Mesmo com todos os sintomas aparentes, a fobia social pode ser confundida com outros transtornos e, cada vez mais, se faz presente no dia a dia brasileiro. De acordo com o último levantamento do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, ocorrido em 2019, cerca de 13 milhões de brasileiros são acometidos com o Transtorno de Ansiedade Social, e de acordo com especialistas como Silvio, é uma boa proposição teorizar que esses números subiram no “pós-pandemia”. Entretanto, não existe um dado palpável sobre o aumento, já que as pesquisas sobre o tema estão em andamento.  

Uma dica para amenizar o problema é  procurar estabelecer uma rede de apoio e também ser a rede de apoio de alguém. Práticas como bullying e intolerância, de todos os tipos, podem despertar e agravar um quadro de fobia social. É preciso ter paciência no retorno, tanto com os outros, quanto com você mesmo. Não se cobrar demais e cuidar para não alimentar o sentimento de atraso. Sobre isso, Andressa aconselha: “Melhor do que pensar que perdemos tempo na pandemia, é pensar que vivemos o que tínhamos que viver”.

                                                                                                                                                                                     Clarisse Amaral e Júlia Ilha

O Transtorno de Ansiedade Social é um problema grave de saúde mental e pode ser desencadeante para outros diagnósticos psiquiátricos, como a depressão e a dependência química. Segundo um artigo publicado na  Revista Brasileira de Psiquiatria sobre a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) da Fobia Social, de 2008, a fobia é mais comum entre mulheres, e tem início, na maior parte dos casos, na adolescência. A Terapia Cognitiva Comportamental é uma das possibilidades de tratamento e foca em discussões práticas e na exposição dos problemas. Quando o diagnóstico é inicial,  a média é de 12 a 16 sessões, individuais ou em grupo, de TCC para obter resultados significantes, aponta o artigo.

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