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MÃES UNIVERSITÁRIAS LUTAM POR ACOLHIMENTO



Fotografia horizontal e colorida com uma mulher e uma criança abraçadas na entrada de um prédio da Casa do Estudante Universitária. A mulher é negra, de pele clara, tem cabelos escuros, lisos e curtos; está com o rosto inclinado para baixo e os olhos fechados; veste camiseta preta com letras brancas, calça jeans com lavagem escura e calçado preto. Ela segura em seu colo uma menina de faixa etária próxima a três anos. A menina é negra, de pele clara, tem cabelos escuros, levemente ondulados e na altura do ombro; com a cabeça inclinada para baixo e os olhos fechados; veste camiseta, calça e calçado pretos. A entrada do prédio é azul acinzentado; as paredes internas são brancas na parte superior, e há uma porta de vidro. O lado esquerdo da porta está aberto e o outro fechado. Nos extremos laterais da imagem há partes de duas janelas e grades azuis. Na parte inferior há uma calçada de concreto cinza com detalhes de piso tátil avermelhado e uma rampa de acesso com leve inclinação.

Desde 2009, as mães moradoras da Casa do Estudante da UFSM precisam lutar para manterem seus lugares dentro da Universidade e não terem seus direitos violados. Com o retorno das atividades presenciais, os obstáculos de adaptação foram agravados.

A permanência no curso se torna extremamente difícil quando, além de se ocuparem com os estudos, as acadêmicas preocupam-se com o bem-estar, a segurança de seus filhos e, ainda, lutam pela garantia de sua integridade. A instituição, apesar de oferecer recursos que auxiliam na criação dessas crianças – como o auxílio creche – deixa a desejar na questão de políticas públicas que olhem para essas famílias, de forma que as façam se sentir pertencentes à comunidade acadêmica. Para a Doutora em Comunicação pela UFSM, Milena Freire de Oliveira, que estuda a maternidade em diferentes áreas, a falta dessas políticas, de dados e de apoio faz com que a gente concorde que mães realmente não façam parte da Universidade. 

A estudante de Educação Especial, Renata Gonçalves, 46 anos, é mãe de Sophia, 7, e de Maria Julia, 25, também universitária. Desde 2019, Renata vive com a filha mais nova dentro da UFSM e conta que, durante a quarentena, elas receberam um auxílio de 220 reais para gastos com alimentação, valor que, entre abril e junho de 2022, passou a ser de 100 reais. Entretanto, as crianças não foram contempladas e ganhavam apenas uma porção individual de alimentos in natura, para serem preparados em casa aos domingos e feriados. A partir de julho de 2022, essas porções passaram a ser distribuídas a todos os moradores da casa.

A Universidade também oferta o auxílio creche para as mães, no valor de 375 reais. Segundo a assistente social da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, Mara Lucia Bortoluzzi Londero, 20 crianças contam com essa assistência atualmente. Para as acadêmicas, a quantia é baixa, já que não há escolas na região com mensalidade nessa faixa de preço. A acadêmica de Pedagogia, Maria Julia Santos da Silva, afirma que paga 1.127,00 reais na creche de sua filha, Clarice, e precisa unir o auxílio, a pensão paga pelo pai da criança e uma parte do que recebe em seu estágio para conseguir arcar com a mensalidade.

As mães não têm garantia de um apartamento particular para elas e suas famílias, e precisam dividir o banheiro com outros residentes da casa. Fato que acarretou em problemas para as crianças, como a invasão de privacidade durante o uso dos sanitários e chuveiros. Na atualidade, algumas delas residem em um apartamento completo, com cômodos separados, como acontece no caso de Maria Julia e de Renata.

Obstáculos ao maternar e estudar

A falta de políticas públicas efetivas voltadas para essas universitárias faz com que sua existência dentro da comunidade seja invisibilizada. As mães não recebem licença maternidade, o que implica na preocupação simultânea com os filhos e com a vida acadêmica. Para a Doutora em Comunicação pela UFSM, Milena Freire de Oliveira, uma mulher que é mãe não consegue concorrer com as outras mulheres e com os homens, sejam eles pais ou não, porque para o homem, estatisticamente, é indiferente.

Maria Julia mudou-se para a Casa do Estudante em 2019, quando sua filha tinha menos de um ano. Desde então, a jovem tem passado por adversidades na graduação por precisar conciliar a maternidade e os estudos. Maju, como gosta de ser chamada, relembra os dias  que resistiu em favor de sua permanência na Universidade e conta que vive um turbilhão de emoções diariamente.Sente-se triste e isolada do resto dos acadêmicos. Para ela, há dificuldade, por parte da comunidade em assimilar a existência das mães no ambiente estudantil. A graduanda diz compreender, de certa maneira, a euforia dos jovens em gostar de fazer festas com volume alto, mas, por outro lado, ela gostaria que também entendessem que há mães com filhos pequenos no apartamento vizinho.

Tanto para Maria Julia quanto para Renata, a perspectiva para o futuro das mães universitárias se resume em luta e resistência. Renata relembra que as mães que estudaram na UFSM, no passado, lutaram para que a Casa do Estudante fosse um direito garantido. É necessário que essa luta continue. 

Casos pessoais

A própria sociedade não olha para as mães pautando a possibilidade delas ocuparem um espaço dentro de uma universidade. O julgamento e o descaso é evidente na falta de políticas específicas para elas, mas também na relação de alunos e professores para com essas mães. Uma estudante, que prefere não ser identificada, afirma que precisou faltar as duas primeiras aulas de uma cadeira de seu curso e quando foi explicar para a professora o motivo, a resposta que recebeu foi: “sabe, eu tinha um amigo que morava na CEU, a vida dele era bem difícil também, mas ele nunca reclamou de nada”. Para a estudante, apesar de existirem professores que a acolhem e respeitam, tem muitos que “acham que a nossa vida é super tranquila, é super boa”, comenta.

Para algumas moradoras da CEU, a questão da maternidade não é a única com a qual precisam lidar. As mães negras, por exemplo, contam que vivenciam situações de racismo em suas rotinas. Renata é uma mulher negra e comenta que já passou por momentos em que ficou nítido que sua cor influenciou na forma em como foi tratada, fato que também afeta suas filhas. A acadêmica afirma ter passado por situações que a abalaram psicologicamente, como o preconceito e o capacitismo em relação a sua filha, que tem Síndrome de Down. Quando recebe comentários do tipo “como você é forte”, ou “você é guerreira”, Renata refuta: “não é força, é a realidade, eu não sou guerreira”.

Pessoas não brancas, mulheres e pessoas com deficiência são excluídas ou ignoradas pela sociedade, pois o racismo, machismo, capacitismo e outras desigualdades ainda são questões muito presentes, inclusive na Universidade. Milena comenta que, por a instituição estar inserida na sociedade, ela irá reproduzir preconceitos e desigualdades, “a universidade tem tudo para ser um ambiente progressista, um ambiente de mudança, de transformação, mas a gente sabe que infelizmente não é bem assim”.

Reportagem: Gabriel Escobar e Júlia Petenon

Foto: Gabriel Escobar

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