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A primeira feira 100% orgânica de Santa Maria



“Uma alimentação saudável constitui uma das dimensões fundamentais para a qualidade de vida do ser humano. Porém, esta qualidade de vida, bem como o bem-estar humano, não se restringe a uma dimensão individualista de ingerir alimentos mais saudáveis. Uma efetiva qualidade de vida é impossível no contexto de relações sociais degradadas, nas quais as interações sociais são mediadas por valores como competição e individualismo.” Na frase do atual coordenador da Feira Ana Primavesi, Décio Auler, é nítido perceber como a primeira feira totalmente orgânica de Santa Maria vai para além de simplesmente oferecer alimentos saudáveis aos consumidores, tornando-se, também, um espaço para a promoção da qualidade de vida e da troca de saberes.

A Feira Ana Primavesi, que, em setembro deste ano, completa dois anos, foi criada a partir da iniciativa de agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de técnicos da EMATER, que buscaram, na UFSM, o apoio necessário para a produção e para a comercialização de produtos orgânicos na região central do Rio Grande do Sul. Atualmente, participam nove famílias de agricultores de cinco cidades da região central, com certificação de que a produção desenvolvida por eles é feita sem o uso de agrotóxicos e com alimentos não transgênicos.

Para Décio, a produção e a comercialização de produtos orgânicos contemplam questões sociais mais amplas que a produção convencional, considerando que os processos produtivos e de formação estão em diálogo permanente, constituindo-se em um ambiente de aprendizagem coletiva. “O espaço-tempo de realização da feira, para além da comercialização de produtos, constitui-se num diálogo de saberes, numa troca de conhecimentos e práticas”.

O coletivo da feira faz parte da Incubadora Social da UFSM (IS-UFSM), setor da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) que articula e auxilia a promoção de projetos sociais e de extensão criados a partir de demandas locais, visando à geração de trabalho e renda para grupos socialmente vulneráveis e em processo de organização solidária. Hoje, a IS-UFSM dá suporte aos nove grupos familiares que produzem alimentos orgânicos, assim como para outras famílias em processo de incubação, contribuindo para que esses agricultores realizem a transição para a agroecologia.

A Incubação desse grupo social, sendo uma demanda dos próprios agricultores, mostrou a necessidade de inverter a ordem do tripé ensino-pesquisa-extensão, de acordo com o professor Décio. “A extensão deixa de ser ponto de chegada e passa a constituir o ponto de partida. No funcionamento hegemônico da universidade brasileira, a extensão constitui um contexto no qual deságuam os resultados das pesquisas, em geral, não demandadas pela comunidade receptora. Ao iniciar pela extensão, efetivas demandas da comunidade passam a ser o ponto de partida, gerando tanto projetos de pesquisa quanto currículos na universidade. Isso contribui para uma efetiva relevância social das Instituições de ensino”, comenta.

Para a agricultora Carmen Silva, que tornou-se produtora após sua aposentadoria, participar da Feira Ana Primavesi é uma atividade muito gratificante, pois o espaço proporciona a troca de saberes, de experiência e de conhecimentos, não apenas entre os agricultores, mas também entre os consumidores e a comunidade acadêmica. Além disso, Carmen ressalta que a feira é uma oportunidade para conhecer e consumir produtos orgânicos: “a feira Ana Primavesi é uma feira exclusiva de produtos orgânicos, ela é diferente das demais feiras da própria universidade e, inclusive, das demais feiras de Santa Maria. Ela é a primeira feira 100% orgânica da cidade”, comenta.

Entre os principais benefícios destacados por Carmem, está a possibilidade de os agricultores conseguirem obter a certificação de que sua produção é realmente orgânica. Ela destaca que todos os grupos atendidos pelo projeto da Feira Ana Primavesi são da agricultura familiar, contudo muitos não teriam recursos para pagar pela certificação exigida, no consumo, com o rótulo de produto orgânico. Além disso, Carmem lembra do impacto ambiental que a promoção dessa atividade tem: “o agricultor não utiliza nada de agrotóxico ou outros produtos, na sua propriedade, que possam causar danos, o que resulta em uma contribuição com a sua saúde, sem correr risco de maiores acidentes. Além disso, traz uma contribuição ambiental para a questão do solo, da água e do próprio ar. Esse resultado é muito interessante e uma grande contribuição para a questão da saúde do agricultor, do consumidor, da sociedade e do próprio planeta”, enfatiza.

Além da realização da feira no campus da UFSM, que ocorre nas quartas-feiras, às 10h, são realizadas ações formativas com os grupos de agricultores atendidos pelo projeto, através da Incubadora Social da PRE. As atividade desenvolvidas vão desde palestras, oficinas, encontros com outros grupos e projetos que trabalham com produção orgânica, até viagens para outras propriedades com esta forma de produção. Os agricultores participantes destas atividades são de Santa Maria, Itaara, Dona Francisca, Júlio de Castilhos e Pinhal Grande. Para Carmem, é fundamental a universidade atuar nesse setor, provendo instrumentos para o desenvolvimento social dos grupos: “é o papel da universidade, enquanto ela conseguir contribuir para essas questões sociais, principalmente para o avançar desses grupos, ela está realmente atuando para uma nova sociedade”, finaliza.

“Buscamos, no processo coletivo em curso, que vai muito além do contexto da Feira Ana Primavesi, vivenciar, além de novos conhecimentos e práticas agrícolas: práticas sociais pautadas por valores associados a uma efetiva sustentabilidade socioambiental, como confiança e solidariedade. Buscamos a vivência de processos formativos pautados pela formação de novos conceitos no campo da produção de alimentos, no campo das relações sociais”, conclui Décio, destacando o papel da feira na geração da qualidade de vida de seus consumidores.

Texto: Wellington Hack / NDI PRE

Revisão Textual: Erica Medeiros / NDI PRE

 

 

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