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UFSM no Distrito Criativo e a pluralidade étnica de Santa Maria: a cultura indígena

Em entrevista, egresso da UFSM fala sobre a preservação do conhecimento acerca dos povos indígenas da cidade



A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem entre os seus valores a justiça, o respeito à identidade e à diversidade e o compromisso social. Uma das formas de promover esses princípios é através da extensão, que visa fortalecer a relação entre a Instituição e a comunidade. Em Santa Maria (RS), o vínculo da UFSM com o Distrito Criativo Centro-Gare tem representado uma das formas de fomentar esses e outros valores. O Comitê de Identidades e Recursos Culturais do espaço, que tem como membro o Pró-Reitor de Extensão UFSM, Flavi Ferreira Lisboa Filho, tem encontrado no conhecimento sobre a formação étnica do município um modo de incentivar reflexões sobre inclusão e pluralidade.

De maneira geral, etnia é uma categoria definida pela área da Antropologia para nomear grupos com especificidades socioculturais. Essas identificações entre coletividades podem ser caracterizadas por semelhanças diversas, como, por exemplo, relativas à língua, à nação, à cultura, à história, à religião e à tradição. Dentre os grupos que constituem a formação da cidade, estão os povos indígenas, habitantes originários do Brasil, que representam 305 etnias no país. Estima-se que, no território nacional, essa população reúna 896.917 pessoas, enquanto que no estado do Rio Grande do Sul totalize 32.989 e, no caso de Santa Maria, 326, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Para saber mais sobre a presença dos povos indígenas na formação étnica de Santa Maria, bem como acerca do papel da Universidade na preservação e difusão dos saberes relacionados a esse grupo, a Pró-Reitoria de Extensão (PRE) conversou com o doutor egresso do Programa de Pós-Graduação em História da UFSM, João Heitor Silva Macedo. A seguir, você confere a entrevista:

 

PRE: Qual a importância do aprendizado sobre a formação étnica de Santa Maria?

João Heitor: Acredito que um dos pilares para a formação de uma identidade cultural que respeite a diversidade é também entender que a nossa formação histórica é plural. Ela não se limita à ocupação do território a partir da presença europeia, mas sim a partir dos primeiros hominídeos que ocuparam o nosso território. E essa ocupação, desde sempre, foi plural, composta por uma diversidade de grupos humanos que ao longo do tempo ocuparam essa espacialidade e dialogaram com o meio ambiente. Reconhecer essa diversidade que sempre existiu é fundamental para que, em um processo educativo de reconhecimento da humanidade, nos reconheçamos como a humanidade da diversidade. Que possamos ver no outro a diferença e que essa diferença nos potencialize para o reconhecimento do todo. Entender a formação étnico-cultural de Santa Maria é reconhecer uma Santa Maria que em 2022 segue plural e diversificada.

 

PRE: Como podemos pensar a presença dos povos indígenas na história de Santa Maria?

João Heitor: Os estudos sobre os povos indígenas na cidade de Santa Maria têm crescido bastante. Havia um momento em que se limitava a ouvir histórias tradicionais e lendas sobre o surgimento da cidade. Na medida em que o desenvolvimento cultural e educacional ligado à pesquisa histórica, arqueológica e documental aconteceu, pudemos visualizar a diversidade de grupos humanos pretéritos na cidade, percebendo que Santa Maria, devido seu aspecto geográfico, formativo e social, sempre foi um atrativo para os grupos indígenas, de modo que ao longo do século 19 encontramos vários momentos dessa presença na cidade – com predominância dos grupos tradicionais Tupi-guarani, mas incluindo tradições Pampeanas, índios Minuanos e até mesmo Kaingangs. Essa presença indígena, infelizmente, foi muito negligenciada pela historiografia tradicional, que não cita a continuidade desses grupos durante a formação da cidade, principalmente no século 20. Mas, as pesquisas que desenvolvemos hoje, ainda ligadas à Arqueologia e à História, permitem entender a presença de dois grupos na atualidade: Guarani e Kaingang. Permitem entender que a história dessas aldeias na cidade deve ser contada a partir da própria lógica e narrativa dos grupos indígenas e que, a partir daí, podem ser adensadas as pesquisas históricas e arqueológicas que seguem existindo em todo o estado do Rio Grande do Sul e em Santa Maria.

Olhar para a diversidade dos grupos originários indígenas da cidade é reconhecer que nenhum deles veio de fora. Nós temos uma outra lógica de compreensão, que consiste em reconhecer como esse espaço geográfico e político contemporâneo não existia para os grupos indígenas, de modo que a circulação, a ambiência e a vivência se deu em toda essa diversidade que contempla também o território santa-mariense. É necessário que os estudos continuem acontecendo para que essas informações cheguem no campo educacional, na Educação Básica, no Ensino Superior; para que a gente quebre os velhos mitos de construção de narrativas lineares, de uma história meramente europeia. Aqui na cidade, temos uma história de diversidade cultural plural desde a sua origem, com a presença dos indígenas Kaingangs, Guaranis, Charruas, Minuanos e de vários outros grupos originários anteriores a eles.

 

PRE: Como você observa a Universidade no contexto de preservação e difusão de saberes?

João Heitor: Olhar o papel da Universidade é fundamental. Sou egresso da UFSM e comecei os meus estudos lá na década de 1990, justamente pesquisando sobre os grupos Guaranis que habitaram o território de Santa Maria. Percebo que, desde sempre, antes mesmo da minha geração, a Universidade desenvolveu um papel importantíssimo de pesquisa: inicialmente, lá na década de 1970, com o Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (LEPA); mais adiante, com a criação do Museu Gama d’Eça e com a evolução do próprio Laboratório de Arqueologia do Curso de História da UFSM; e, hoje, com o Laboratório de Arqueologia, Sociedades e Culturas das Américas (LASCA). Todos têm um papel fundamental na criação e preparação de novos pesquisadores dedicados ao estudo da cultura material e da existência dos povos pretéritos no nosso território. 

Mas não posso ficar limitado também só à questão da Museologia e da História. Atualmente, nós encontramos um diálogo muito grande que passa por uma diversidade de formações históricas, que são plurais nas Ciências Sociais; que têm estudos de Antropologia; e da própria Geografia humana. Os cursos são formadores de conhecimento à medida em que a pesquisa e a inovação no campo dessas áreas trazem para a sociedade novos elementos de interpretação e conhecimento, potencializados pela Universidade e comunicados à comunidade através da Extensão. A Universidade é fundamental enquanto centro de pesquisa e também na extensão.

 

PRE: Por que preservar o conhecimento histórico?

João Heitor: Estudar e, mais do que isso, preservar o patrimônio dessa diversidade cultural, que começa com as populações pretéritas do nosso território, é também poder comunicar e educar as gerações futuras sobre um passado comum a todos e todas, que dialoga com a diversidade territorial, ambiental, e que serve para que as pessoas dentro dos espaços educacionais possam perceber a formação cultural e de saberes diferenciadas. Essas novas fontes de conhecimento ampliam nosso escopo de interpretação do mundo. A preservação da História, da Arqueologia e do Patrimônio Cultural, seja através da pesquisa, da Comunicação ou da Museologia, representa pilares para o desenvolvimento humano, da economia, do turismo e da progressão social da nossa sociedade.

 

Esta entrevista foi editada para fins de concisão.

Texto: Anna Júlia da Silva | Pró-Reitoria de Extensão UFSM

Revisão: Camila Steinhorst | Pró-Reitoria de Extensão UFSM

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