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Nosso Genocídio Diário

Por Alisson Batista

É muito doloroso se ver todos os dias como a possível vitima que irá para um quadro estatístico de mortes, a questão que fica é, se serei vitima de uma sociedade lgbtfóbica ou de um Estado racista, com um projeto de extermínio da população negra.

A estrutura social brasileira se formou, e ainda hoje continua se construindo, através do genocídio da população indígena e da população negra. As instituições religiosas ocidentais que se fixaram no país, tem ainda hoje o trabalho de base mais eficaz que qualquer movimento social, ditando quais os valores e moral a sociedade deve seguir, valores conservadores, que tem ligação direta a muitos ataques de ódio a LGBT`s . Segundo a ANTRA(Associação Nacional de Travestis e Transexuais), “95 travestis e transexuais assassinadas até 21/07/2018”, dados assutadores, infelizmente o número de assassinatos LGBT só tem aumento, assim como os ataques a população negra.

Para muito além dos ataques diretos a nós, população negra, as consequências que vocês deixam para ficarem em nós, que não tenho tanta certeza de que não seja um possível projeto muito mais discreto arquitetado pela hegemonia branca, que é a desestruturação da nossa relação com nós mesmos, nossa autoestima dilacerada, quase sem possibilidade de reconstrução. Nossa autoestima é atacada desde quando crianças, como disse Maicol William, um dos gerenciadores do projeto Dissecando o Racismo, “quem não tem a pele negra, não sabe o quão difícil é ser criança”, e são atacaques direto a nossa autoestima, no colégio, na rua, na televisão, na internet, em casa; somos metralhados quase que 24h por todos os lados dizendo que não somos belos, que não somos capazes, que não deviamos estar em certos espaços, que não deveriamos nos vestir assim, que falamos feio, que andamos feio, nos portamos feio, nos vestimos feio, etc, COMO UMA AUTOESTIMA VAI RESISTIR A ISSO??? O processo de empoderamento é muito difícil e doloroso, não se dá do dia pra noite, e nem todos conseguem ou se quer tem contato com essa temática nas suas vidas. ISSO É GENOCÍDIO, “Genocídio do povo preto não é só bala na cabeça. Genocídio é um processo de aniquilação física cultural, social, epistêmica, etc…” (Túlio Custódio, Sociólogo).

Nossa autoestima é consecutivamente minada e degrada, acabamos num ciclo de autodestruição, como o Filósofo Cornel West coloca, “Os demônios do vazio de sentido, da falta de esperança, da sensação do nada […] vêm produzindo o mais alto nível de autodestruição que os negros conheceram desde que chegamos aqui”. Somos o tempo todo subjugados, e nos subjugamos também por tudo que nos fazem acreditar, que nossos traumas da vida nos fazem acreditar.

Precisamos desnaturalizar a romantização do empoderamento, é uma coisa legal e necessária? SIM! Mas até se criar solidificadamente essa identidade empoderada, o caminho é muito, muito difícil, e quase sempre trilhamos ele sozinhos. Não há uma mão estendida dizendo o quanto somos belos, o quanto somos capazes, dizendo que somos merecedores de amor, que temos direito de viver e existir da forma que quisermos ser, que não há nada de errado com nossa cor, com nossa sexualidade, com nossa estética.Não temos referências para nos espelharmos na maioria das vezes, já que o processo/projeto de embranquecimento da população negra ainda segue firme, hoje em dia podemos encontrar um pouco mais de referências negras para nos espelharmos na internet, mas e negros e negras que não tem acesso as mídias, como ficam?

Queria ter uma solução para isso agora, mas não tenho. Precisamos de uma rede de apoio entre nós, que alcance pra além de negros e negras familiarizados intelectualmente com essas questões, que alcance toda a população negra. Que adentre em todos os espaços que vivemos, precisamos de professores de negros, precisamos de negros nas novelas, filmes, séries, jornais, programas, na música, no teatro, como chefes, casais negros, etc… Precisamos nos ver nos espaços, saber que podemos chegar lá, que podemos amar e ser amados, que somos capazes, que somos fortes, que somos belos, que pretos e pretas podem se amar! Isso é revolucionário. Não vou negar a existência do medo que habita em mim, sendo uma bixa preta transviada, no Brasil, o país extremamente racista, e que mais mata pessoas trans e travestis, qual minha expectativa de vida?!

Pra finalizar, deixo uma fala da Youtuber Luci Gonçalves:
“QUANDO VOCÊS NÃO MATAM A GENTE PELA CARNE, VOCÊS MATAM NOSSA ALMA TODOS OS DIAS”
Pret@ você é lind@!
Pret@ você é foda!
Pret@ você é capaz!
Pret@ ame outr@ pret@!
Pret@ você é forte!
Pret@ você pode !
Pret@ você merece ser amad@!
Pret@ você merece amar!
Pret@ eu amo você!