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Angela Helena Marin, egressa de psicologia, conta como iniciou sua carreira como pesquisadora e fala de sua pesquisa atual sobre o impacto da COVID-19 na comunidade escolar.



Na segunda entrevista do mês de julho o VOLVER conversa com Angela Helena Marin, egressa do curso de psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, turma de 2002, mestre em Psicologia do Desenvolvimento (2005) e doutora (2009) em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Com grande bagagem acadêmica e profissional, é pesquisadora associada da Rede Nacional de Ciência para Educação, Avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior-MEC/INEP e membro do GT Parentalidade e desenvolvimento infantil em diferentes contextos vinculado à ANPEPP. 

Atualmente, é professora dos cursos de graduação e pós-graduação em psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordena o Núcleo de Estudos sobre Famílias e Instituições Educativas e Sociais (NEFIES), que tem como temática a área da psicologia clínica e do desenvolvimento humano. 

Volver – Para começar, relate como foi o início da sua carreira como pesquisadora e qual o papel da UFSM nesse caminho da investigação científica?

Angela – Durante minha graduação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) fui bolsista de extensão e de iniciação científica desde o terceiro semestre do curso. Tive a oportunidade de acompanhar e vivenciar o desenvolvimento de pesquisas desde a concepção, redação até a publicação dos dados em periódicos e anais de eventos científicos. O professor que me orientava teve papel fundamental na continuidade de minha carreira como professora universitária e pesquisadora, pois era um grande incentivador. A época, não havia curso de mestrado e doutorado em psicologia na UFSM, nem mesmo em Santa Maria, mas ele conhecia o programa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e indicou um colega com o qual tinha parceria como possível orientador. Participei da seleção e logo após concluir a graduação já estava cursando o mestrado e, na sequência, o doutorado no PPG-Psicologia da UFRGS.

Volver – Quais desafios e quais recompensas você aponta em trabalhar com pesquisa científica? 

Angela – Pessoas inquietas e ávidas por conhecimento, mas que especialmente buscam construí-lo não se acomodando ao que já está dito ou realizado, encontram na pesquisa um lugar. Esse foi o meu percurso, fomentado pelas discussões que tínhamos durante a graduação. A pesquisa científica possibilitou que eu descobrisse diversas ideias e teorias, atribuindo novos significados à forma como percebia e vivenciava a psicologia. Além disso, parto da perspectiva de que ela enriquece a prática psicológica, pois há uma relação de interdependência entre a práxis nos distintos campos de atuação e o conhecimento que produz.

Volver – Atualmente você desenvolve uma pesquisa sobre o impacto da COVID-19 na comunidade escolar e na relação família-escola. Pode falar um pouco em que fase está, quais fatores envolve, quais recursos demanda e quais os principais resultados já observados?

Angela – A emergência da pandemia de COVID-19 impôs a todos a necessidade de adaptação de rotinas pessoais e laborais e tem trazido importantes repercussões psicossociais. Em função disso, pensamos em abarcar a temática em nossas pesquisas. A ideia surgiu na interação com um grupo de pesquisadores voluntários, que buscam se aproximar do grupo de pesquisa que coordeno, o NEFIES (Núcleo de Estudos sobre Famílias e Intuições Educativas e Sociais), com vistas a integrá-lo como mestrando ou doutorando futuramente. Desse grupo, atualmente, três integrantes estão realizando seu mestrado e um está como bolsista de iniciação cientifica, todos sob minha orientação.

É muito gratificante “contaminar” as pessoas para se aproximam da pesquisa e incentivá-las a se qualificarem. A proposta foi aprovada pelo Comitê De Ética institucional e, neste momento, estamos em etapa de coleta de dados junto a escolas da rede de ensino estadual de Porto Alegre. Seu principal objetivo é investigar como os gestores das escolas avaliam as repercussões da pandemia nas relações com as famílias e como compreendem seus efeitos na saúde mental da comunidade escolar. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo de corte transversal e abordagem mista, que conta com dados derivados de um questionário on-line. Para realizar este estudo contamos com a parceria estabelecida com a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul e também com a disposição das pessoas em participar, pois são estas o foco de nosso interesse e ações. Elas se voluntariam a doar algo que, atualmente, é muito preciso, seu tempo. Em contrapartida, temos oferecido momentos de reflexão a respeito de temáticas em saúde mental às comunidades escolares. 

Sabe-se que a escola foi um dos contextos especialmente afetados pela pandemia e evidenciamos que ainda são poucos os estudos que abordam seus impactos na relação estabelecida com as famílias. Além disso, os gestores escolares são apontados como ocupando um lugar de protagonismo perante a necessidade de planejar estratégias de trabalho de forma rápida e efetiva para as instituições, amparando a sua comunidade escolar (professores, funcionários, estudantes e famílias) de acordo com as orientações técnicas das esferas federais, estaduais e municipais que coordenam as normativas gerais para o funcionamento escolar. Por isso, acreditamos que o seu o olhar trará uma contribuição importante para a compreensão das repercussões da pandemia na saúde mental e relacional da comunidade escolar.

Volver – Além da pesquisa citada acima, trabalha em outro projeto de pesquisa?

Angela – Ao longo da minha trajetória tenho me envolvido com diferentes propostas de pesquisas. As que estão vigentes atualmente abarcam distintas temáticas, tendo em comum a coleta de dados a partir de diferentes informantes (criança/adolescente – família – escola) e a fundamentação na abordagem sistêmica. A primeira tem como título: Autolesão não suicida infantojuvenil: avaliação de fatores individuais e contextuais e proposta de intervenção, que buscará avaliar fatores da criança e do adolescente, de sua família e escola associados à ocorrência de autolesão não suicida e examinar como se relacionam. Pretende-se compreender como gestores, professores e psicólogos percebem a incidência de autolesão não suicida entre os alunos, bem como conhecer quais ações são desenvolvidas para prevenir e/ou reduzir tais comportamentos e como são avaliadas. Também se tem como objetivo desenvolver e avaliar uma proposta de intervenção cujo foco será caracterizar funções e variáveis associadas à autolesão, e orientar sobre a expressão assertiva das emoções, habilidades de comunicação e estabelecimento de limites, além de reforçar o suporte familiar. Espera-se que os resultados subsidiem a prática de profissionais, principalmente das áreas da saúde e da educação, visto que eles costumam interagir com crianças e adolescentes e, na maioria das vezes, vivenciam tais situações como desafiadoras. Ainda, almeja-se que os dados ampliem os recursos e as oportunidades de implementação de intervenções em saúde mental, validando empiricamente técnicas de tratamento. 

A segunda proposta, por sua vez, em fase de finalização, tem como título: Educação sexual: Diálogo entre adolescente, família e escola, que tem como objetivo identificar os comportamentos sexuais de risco entre adolescentes e sua associação com variáveis individuais e contextuais, além de aprofundar a compreensão sobre a percepção dos adolescentes, pais/responsáveis e professores sobre risco sexual na adolescência e comunicação família-adolescente sobre sexo e sexualidade. Também se pretende verificar se existem ações de orientação sexual na escola e como são avaliadas pelos participantes. Os resultados têm promovido a compreensão do risco sexual na adolescência e colaboram com as discussões acerca dos papéis e normas de gênero e formas de viver a sexualidade.

Volver – Um dos seus focos de pesquisa é a educação, como se deu essa relação? E como a sua produção científica tem impactado a sociedade?

Angela – Para responder a essa questão farei uma breve retrospectiva da minha inserção profissional no meio acadêmico. No segundo ano como doutoranda, busquei oportunidades de emprego em universidades e fui selecionada para atuar em uma instituição privada na cidade de Santa Maria. Voltei ao meu contexto familiar! Durante os dois anos e meio que fiquei na ponte Porto Alegre-Santa Maria, me desenvolvi como docente, dando aulas na graduação em psicologia. Após, tive oportunidade de atuar na região metropolitana e, com a conclusão do doutorado, comecei a pensar em como dar continuidade à prática da pesquisa de forma autônoma. Minha primeira inserção em um programa de pós-graduação foi na área da saúde coletiva, mas em seguida, fui selecionada para integrar um programa de pós-graduação em psicologia em outra instituição de ensino superior. Neste havia duas linhas de pesquisa e para eu estar afinada a uma delas era preciso aproximar minha área de estudo a um contexto institucional, mantendo a proximidade com os processos de saúde-doença. Como a investigação da família fazia parte de meu percurso acadêmico, queria manter meu foco nela, que é o primeiro contexto de desenvolvimento humano, agregando o segundo contexto, que é a escola. Família e escola compartilham funções sociais, educacionais e políticas e agem como propulsores ou inibidores do desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social, contribuindo para a formação/desenvolvimento dos indivíduos. Portanto, as vivencias que temos em ambas são fundamentais para nossa saúde e bem-estar, impactando diretamente na sociedade em que vivemos. Dessa forma, fazia muito sentido para mim, e ainda faz, associá-los em minhas propostas de pesquisa.    

Volver – Como você se vê daqui a 10 anos? 

Angela – Curiosa esta pergunta. Em geral, não costumo fazer projeções para tanto tempo. Acredito que trabalharei com o mesmo ritmo de hoje, mas mais familiarizada com a lógica da universidade pública, pois minha transição da iniciativa privada para a pública é recente, ocorreu na metade de 2019. Penso que terei firmado a perspectiva teórica e prática do grupo de pesquisa que coordeno e estabelecido parcerias nacionais e internacionais mais sólidas, pois importantes estudos se constroem a partir das relações que estabelecemos. Não os realizamos sozinhos! Ter a possibilidade de participar da formação de muitas pessoas, seja na graduação ou na pós-graduação, além de tocá-las por meio das pesquisas que realizamos, me é muito satisfatório e acredito que isso continuará a ser algo significativo em minha vida.

Texto: Lucas Zambon

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