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Marcio Assolin Corrêa, egresso da Física, relembra sua trajetória na UFSM, conta sobre seus Projetos de Pesquisa e compartilha os desafios da docência durante a pandemia.



Marcio Corrêa, egresso da Física, turma de 2002, possui Doutorado em Física pela UFSM (2007). Atualmente é Professor Associado Universidade Federal do Rio Grande do Norte e participa de dois grupos de pesquisa situados na UFRN onde coordena e colaboradora em projetos de pesquisa ligado a área Física Experimental e Engenharia de Materiais. 

VOLVER – Para começar, nos conte quais lembranças guarda da UFSM e como a universidade contribuiu para que você chegasse onde está hoje?

MARCIO – São muitos os momentos que me trazem recordação da UFSM. Mas acredito que a estrutura da UFSM proporciona para seus estudantes é único. A forma com que foi construída nos permite viver a universidade em sua essência, conviver com estudantes de outros cursos, assim como ter um contato direto com os docentes, e isso leva a um ambiente que facilita diálogo e discussão que enriquecem a nossa formação.

Lembro-me muito bem das aglomerações de estudantes na frente do CCET a espera de suas aulas, todos com suas térmicas e cuias para esquentar um pouco as frias salas do CCET nos invernos intermináveis do RS.  Lembro-me das filas do RU e a diversidade de estudante que lá se encontravam, ninguém reclamava da demora em almoçar, pois aquele momento de integração era marcante.

 Lembro-me das pequenas salas de estudo da Biblioteca que permitiam o estudo em grupo e as ricas discussões sobre física e o que esperar do futuro após formados. Lembro-me dos trabalhos desenvolvidos dentro do Laboratório de Magnetismo e Materiais Magnéticos (LMMM-CCET) que me proporcionou, não apenas minha formação na área experimental, mas me trouxe amigos para a vida toda.

Todas estas vivências formaram meu “caráter profissional”, pois foi neste ambiente  que eu aprendi e é neste ambiente que vivo minha vida profissional agora, mais especificamente como docente do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O aprendizado obtido na UFSM me permitiu alcançar a aprovação em três concursos públicos.

VOLVER – Quando decidiu seguir na área da pesquisa? Como foi esse processo?

MARCIO – O curso de Física Bacharelado nos guia ao natural a uma carreira docente e científica. Infelizmente no nosso país o desenvolvimento de pesquisas fora de instituições de ensino é incipiente. Desta forma, já no início do curso de graduação somos incentivados pelos docentes a desenvolver projetos de pesquisa como estudantes de iniciação científica nos diferentes grupos de pesquisa do CCET. E foi assim que fui convidado pelo Prof. Rubem Sommer (na época docente do DF-UFSM e atualmente no CBPF) a desenvolver um projeto de iniciação científica junto ao LMMM. Logo ao colocar meus pés no laboratório e ver o ambiente de discussão que ali acontecia percebi o que realmente gostaria de fazer no futuro.

O processo de concepção, desenvolvimento e publicação de um projeto de pesquisa é algo único na carreira científica. Saber que um projeto de pesquisa muitas vezes nasce em uma simples discussão durante um café e se torna um projeto de mestrado ou doutorado com publicações científicas em revistas indexadas internacionalmente é muito motivante.

Confesso, o processo não é fácil, inicialmente como aluno de iniciação científica é o momento de escutar, observar e absorver o máximo possível daqueles momentos de discussão entre os professores e estudantes de pós-graduação. Mas logo vem a sua vez, após ser aprovado em um programa de pós-graduação e se inserir mais a fundo nos projetos de pesquisa você  deve propor soluções com maior maturidade científica e desenvolver os procedimentos (experimentais ou teóricos) para alcançar os objetivos do projeto em questão.

No meu caso, o momento chave para a decisão em ser um docente/pesquisador veio durante o desenvolvimento meu Mestrado, quando meu primeiro artigo científico foi publicado. Lembro como se fosse hoje, o período entre a submissão do artigo científico e a resposta dos “referees” era interminável. O frio na barriga quando a resposta chega ao seu e-mail com o parecer é único. O aceite ou não do seu trabalho faz você repensar todo processo e exercitar sua paciência e pensamento crítico, mas principalmente faz você pensar no ponto de vista de outros pesquisadores quanto ao seu trabalho e como melhorar a forma de apresentá-lo no seu próximo trabalho.

VOLVER – Como é coordenar os grupos de pesquisa ligado à física experimental? Quais os principais desafios e recompensas?

MARCIO – São vários degraus que precisamos subir para conseguir chegar a coordenar grupo e projeto de pesquisa na área experimental. Quanto estudantes normalmente não nos preocupamos em como o laboratório chegou aquela estrutura de pesquisa (equipamentos, técnicas experimentais, consumíveis), apenas usamos sua estrutura para desenvolver o projeto que nos foi proposto. Porém, quando nos tornamos docentes e conseguimos uma colocação em uma instituição de ensino nos deparamos com uma situação completamente diferente. Precisamos estar sempre atentos a editais de financiamento nos órgãos de fomento para tentar montar sua própria estrutura de laboratório. Neste sentido a escrever projetos de pesquisa, montar cronogramas, obter cotações, submeter a proposta e ser julgado por pares é algo que toma muito tempo (não temos uma disciplina na graduação que nos ensina isso, precisamos aprender na prática). Paralelo a tudo isso precisamos captar recursos humanos para os projetos, um ponto muito difícil, principalmente na área de física, pois são muitos poucos estudantes que consideram o desenvolvimento de um projeto de iniciação científica na área experimental.

Mas confesso que tive uma sorte muito grande neste ponto. O grupo de pesquisa que faço parte (www.gnms.fisica.ufrn.br) é diferente de todos os outros que já vi ou trabalhei. Ao ser aprovado no concurso da UFRN (2009) me inseri no GNMS sob coordenação do Professor Carlos Chesman, era um grupo de apenas 4 docentes e com uma infraestrutura básica já montada o que foi muito importante para o “start” das pesquisas. A partir daí iniciamos a escrita de projetos de pesquisa para aquisição de novas técnicas e contratação de novos pesquisadores para compor o grupo.

Como resultado, atualmente somos um grupo de 11 docentes com pesquisas na área de magnetismo (um dos maiores grupos do Brasil) com uma excelente infraestrutura para o desenvolvimento de pesquisas experimentais nesta área. Destaco aqui as contratações dos docentes Felipe Bohn e Matheus Gamino Gomes, ambos formados pelo LMMM-UFSM.

Sem dúvida a principal recompensa de todas é a formação de recursos humanos (hoje amigos e colaboradores) na área de física experimental.

"Ver seu estudante finalizar seu doutorado e se inserir em uma instituição de ensino e continuar suas pesquisas disseminando o conhecimento é a maior recompensa que podemos obter com nossos esforços".

VOLVER – Atualmente você desenvolve algum outro projeto? Se sim, gostaria de nos contar um pouco mais sobre?

MARCIO – Sim, apesar da pandemia, me lancei em um Pós-doutoramento fora do País por um período de 1 ano. As pesquisas desenvolvidas pelo GNMS têm um forte apelo tecnológico. Infelizmente, no Brasil, a transferência de tecnologia entre as pesquisas básicas e a indústria é bastante pequena, com alguns poucos exemplos de sucesso normalmente situados no sudeste do País. Porém, esta situação é completamente diferente na Europa. A conexão entre as Universidades e a indústria neste continente é muito forte. Uma boa parte dos projetos de pesquisa são financiadas por empresas interessadas em soluções inteligentes e autossustentáveis. Diante disso fui a busca de grupos de pesquisa que apresentavam uma forte conexão com a indústria e experiência neste diálogo. Nesta busca me deparei com o grupo de Superfícies inteligentes coordenada pelo Prof. Filipe Vaz e Armando Ferreira. Estes pesquisadores da UMinho desenvolvem grandes projetos de pesquisa direcionados a indústria automotiva (Autoeuropa, Durit, moldit). Atualmente estou realizando um estágio pós-doutoral, onde me inseri como uma linha de superfícies inteligentes e funcionais baseado em efeitos magnéticos. Pretendo obter o máximo de conhecimento possível e fortalecer da cooperações internacionais para que possa aplicá-las quando retornar a UFRN.

VOLVER – Como é exercer a docência durante esse período de pandemia? Quais são as principais dificuldades enfrentadas?

MARCIO – Esta é uma ótima pergunta, já fui questionado inúmeras vezes neste sentido e nunca respondo da mesma forma, pois vamos nos atualizando a cada semestre que esta situação acontece. Confesso que fiquei muito preocupado no início, quando me deparei com a necessidade em dar aulas online fui estudar novas ferramentas para tentar minimizar o máximo possível o impacto desta situação na vida dos alunos.

No início, ainda em Maio de 2020 ministrei minha primeira disciplina online, para uma turma de 40 estudantes de diferentes cursos de engenharia. A participação dos estudantes foi sensacional, todos participativos, motivados e com muita vontade de aprender, independente da situação que se encontravam.  A UFRN fez ações para permitir o acesso a internet de discentes com dificuldades econômicas e isso fio muito bom para todos.

Contudo, com o avanço da pandemia verifiquei que os estudantes estavam/estão um pouco cansados desta situação. Verifiquei um aumento significativo na desistência dos estudantes devido a problemas com a família (covid-19). Apesar da tentativa diária em motivá-los a não desistir, é difícil saber a realidade de cada um por trás de um computador, quando não estamos cara-a-cara em uma sala de aula.

Eu, minha esposa e minha filha nos isolamos em casa e seguimos todos os protocolos indicados pela ciência, mas ver a doença nos “cercar” com o surgimento de casos em pessoa próximas, além da distância dos meus pais que moram em Santa Maria me deixaram muito preocupados em alguns momentos.

Mas a vacina está avançando, e tenho esperança que tudo volte o normal, é o que estou vivenciando neste momento aqui em Portugal, com o retorno a vida pós-pandemia devido a 85% da população vacinada.

Por outro lado, considerando a orientação de meus estudantes de mestrado de doutorado percebi, e eles também, um aumento na qualidade dos encontros. As discussões que antes eram rápidas no laboratório durantes as visitas diárias que fazia, agora temos nosso momento online para discussão, apresentação e escrita de artigos científicos. Percebi que aprendemos a organizar melhor nosso tempo e aproveitá-lo para o que realmente interessa. Além é claro de ganhar pelo menos 3h de trabalho diário que antes eram gastos dentro e um carro indo e voltando para UFRN.

VOLVER – Como você se vê daqui a 10 anos?

MARCIO – Fazendo exatamente o que estou fazendo hoje, porém com mais experiência para passá-la aos meus estudantes. Gosto MUITO do que faço, sinceramente espero que daqui a 10 anos esteja respondendo outro questionário igual a este para tentar motivar cada vez mais pessoas a fazerem ciência no nosso País.

 

Texto: Júlia Ferrari

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