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Estudantes da UFSM visitam aldeia indígena



Na tarde do dia 01 de novembro de 2022, estudantes dos cursos de Eletrônica Industrial (CTISM-UFSM) e Engenharia de Controle e Automação (CT-UFSM) visitaram a aldeia indígena Tekoa Guaviraty Porã, da etnia Mbya Guarani. A visita foi parte das atividades pedagógicas da Disciplina Complementar de Graduação, Aspectos Gerais das Culturas Africana, Afro-brasileira e Indígena, ministrada desde 2018 pela professora Roselene Pommer e, neste ano, também com a participação da professora Raquel Bevilaqua.

Na ocasião, os estudantes puderam conhecer parte da aldeia e conversar com o indígena Valdecir Timóteo, que estava representando o cacique Silvio Pereira. Localizada próximo ao Distrito Industrial de Santa Maria, a aldeia foi inaugurada em junho de 2012, quando foi entregue aos indígenas o termo de posse do terreno de cerca de 118 hectares. Antes disso, os Mbya Guarani estavam acampados às margens da BR-392 em condições bastante precárias. 

Conforme Valdecir, a aldeia é composta por 36 famílias que plantam diversos alimentos, como feijão, milho e melancia. As áreas de plantio pertencem a todos os habitantes da aldeia e os alimentos são divididos entre as famílias, o que salienta o senso de coletividade como um traço constitutivo da cultura dos povos originários. Além do plantio de alimentos para consumo próprio, os indígenas comercializam artesanatos que chegam a levar para a região das Missões, como explica Valdecir. 

Um posto de saúde e uma escola também compõem a aldeia. A escola estadual é bilíngue, e conta com professores pertencentes ao quadro de funcionários do estado do RS e três professores indígenas que garantem o ensino da língua guarani, da família linguística Tupi-Guarani. Aprender e manter a língua é um fator fundamental para a garantia de sobrevivência da cultura entre as gerações mais novas. A situação de multilinguismo não é novidade para os indígenas, já que muitos são poliglotas. Valdecir, por exemplo, tendo vivido em diferentes regiões do Brasil e em países vizinhos, fala três línguas, Português, Espanhol e Guarani, incluindo o dialeto guarani falado na Argentina. Segundo ele, as crianças da aldeia aprendem o guarani como língua materna e não o português.

De acordo com dados de 2016 do Programa Povos Indígenas do Brasil, a população guarani habita diferentes estados brasileiros e também os países Argentina, Bolívia e Paraguai. Neste último, o guarani é uma língua oficial de estado, assim como o espanhol. No Brasil, embora haja municípios que reconhecem como oficiais línguas indígenas (São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte, é um exemplo de oficialização municipal de múltiplas línguas indígenas), nossa língua oficial em termos de território nacional é o português.

No entanto, a Constituição Federal, em seu artigo 231º, garante aos povos indígenas o respeito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Isso significa também o reconhecimento do direito à diferença. Neste sentido, foi interessante constatar como o terreno em que hoje habitam os Mbya Guarani destaca-se da paisagem circundante. Ladeando a aldeia, duas extensas lavouras de soja são um lembrete constante de que pensar e se relacionar com a terra de um modo diferente é um desafio. Valdecir conta que, apesar de ter sido parte de seus costumes, a caça não tem sido mais realizada pelos membros da aldeia.

A pouca vegetação que cede lugar a lavouras vizinhas tem afugentado os animais. Os escassos tatuzinhos que pela aldeia passam são poupados da caça, afirma Valdecir, que completa dizendo sentir falta do rio para poder pescar. Os Guarani viviam também da caça e da pesca fartas, como lembra Valdecir ao contar sobre os tempos de seu pai. Pela aldeia, passa apenas um pequeno, e quase seco, córrego. 

Em uma sociedade cujos valores, crenças e língua buscam impor-se hegemonicamente, a partir da lógica de monocultura, talvez um dos maiores desafios que nós, não indígenas, precisamos enfrentar seja o de conviver e aceitar diferentes formas de ser e estar no mundo. E isso sob pena de tornarmos o planeta um lugar muito mais hostil climaticamente falando. No livro “A queda do céu”, o xamã Yanomami, Davi Kopenawa, constata: “Os brancos nos chamam de ignorantes apenas porque somos gente diferente deles. Na verdade, é o pensamento deles que se mostra curto e obscuro. Não consegue se expandir e se elevar, porque eles querem ignorar a morte.” 

A comunidade estudantil do CTISM terá a oportunidade de refletir sobre esses e outros desafios que são apontados pelas diferentes concepções de mundo apresentadas pelos povos originários na próxima terça-feira, dia 08/11, quando a UFSM receberá o xamã e líder político do povo Yanomami Davi Kopenawa, bem como demais autoridades indígenas para a conferência principal do evento “Brasil, Terra Indígena: 522 anos de resistência”. O evento ocorrerá a partir das 19h, no centro de convenções da UFSM. 

Foto 1: Professora Roselene Pommer e Valdecir Timóteo (à direita) e estudantes à esquerda. Foto: Raquel Bevilaqua


Foto 2: Valdecir Timóteo risca, no solo, o cumprimento “Boa tarde” em Guarani. Diferentemente da língua portuguesa, o cumprimento tem em si um senso de coletividade expresso, como explica Valdecir, pela palavra Nhande, cujo significado mais próximo seria o de ‘nós’. Assim, o cumprimento guarani Nhande Ka’arujo equivaleria a ‘nós desejamos uma boa tarde’. Foto: Vitor Toebe.

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