A voz é uma das principais formas de comunicação usada pelos seres humanos – e, por mais simples que possa parecer, o ato de falar esconde várias complexidades. Para entendê-las e chamar a atenção da população geral sobre doenças e cuidados necessários com a fala, existe o Dia Mundial da Voz, comemorado anualmente em 16 de abril.
A equipe da revista Arco conversou com Carla Cielo, professora do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana e coordenadora do Laboratório de Voz da UFSM, e preparou uma lista com curiosidades sobre a voz. Confira:
Para a voz ser gerada, utilizamos órgãos dos sistemas respiratório e alimentar, os quais, após a fala, voltam para as suas funções básicas. Isso acontece porque no corpo não existem órgãos com a única função de emitir sons. Assim, ao longo da evolução humana, o corpo foi se ajustando para se comunicar e criar palavras.
Quando decidimos falar, acionamos a respiração: o ar entra pelas cavidades nasal e oral; então, as pregas vocais – músculos revestidos com uma mucosa parecida com a saliva, localizados no pescoço -, se fecham e abrem de novo com a expiração. Depois disso, o som vai para a garganta, a boca e o nariz, e nós mexemos os lábios, a língua e a úvula – campainha – de acordo com as palavras que queremos formar.
2 – Por que a voz muda na adolescência?
A primeira transformação evidente que a voz sofre ocorre na passagem da infância para a adolescência. Nos meninos, este processo ocorre entre os 12 e 13 anos de idade, enquanto nas meninas, dos 13 a 15 anos. A mudança é ocasionada por um alargamento nas pregas vocais, gerando uma voz mais grave e adulta.
De maneira geral, a voz masculina é mais grave do que a voz feminina, porque os músculos vocais crescem mais nos homens do que nas mulheres. No entanto, na adolescência, o ajuste natural dos músculos pode não ocorrer, e o homem ficar com a voz aguda e a mulher com uma voz infantilizada. Segundo Carla, a maioria dos casos pode ser resolvida com algumas sessões fonoaudiológicas.
3 – Sua voz é diferente de como você a ouve?
4 – O cochicho requer mais esforço do que a fala normal
Pode parecer estranho, mas o ato de cochichar faz o corpo tensionar mais músculos do que quando falamos com a voz normal. Apesar de muitas pessoas acreditarem que o cochicho auxilia na recuperação de uma voz danificada, ele muitas vezes piora o quadro e pode gerar nódulos – lesões de massa benigna – nas pregas vocais. A professora Carla Cielo explica que esse tipo de fala aciona a musculatura em um ajuste diferente da voz normal e que, quando necessário, o ideal é diminuir o tom da fala, sem fazer esforços. Além disso, falar alto ou gritar – com uma pressão sonora muito forte – também requer esforço vocal e pode gerar lesões.
Carla explica que algumas pessoas conseguem ajustar sua voz para chegar a um tom muito parecido a de outras. Porém, cada um tem um limite para mudar sua própria voz e nem todo mundo pode imitar todo mundo. Geralmente, o que ocorre é que o imitador tem características semelhantes às do imitando – como o formato do crânio, por exemplo -, ou consegue fazer ajustes musculares extremamente precisos para transformar sua fala, mesmo sem perceber.
6 – Cigarro causa rouquidão
Se você conhece alguém que fuma há algum tempo, deve ter notado na fala do usuário de cigarro uma certa rouquidão. Isso acontece porque, antes de ir para os pulmões, a fumaça do tabaco passa pela laringe e deposita ali algumas toxinas encontradas na droga, o que altera a vibração da voz. Além disso, o uso do cigarro causa doenças. Mundialmente, o tabagismo é a principal causa do câncer de laringe – seguido pelo álcool – e ocasiona também câncer de pulmão, bronquite crônica, enfisemas e outras enfermidades.
Porém, nem toda rouquidão é causada diretamente pelo cigarro. Sendo um dos principais sintomas de gripes e resfriados, é comum que pensemos na voz enrouquecida como algo passageiro. No entanto, essa irregularidade nas pregas vocais pode ser sinal de câncer na laringe. Se sua fala for rouca por mais de 15 dias, não hesite em procurar um médico, conforme indica a professora Carla.
Como já mostrado, a voz está diretamente ligada à respiração. Quando comemos em grandes quantidades ou consumimos bebidas gaseificadas – que dilatam muito o estômago -, os movimentos de inspiração e expiração ficam prejudicados e, por esse motivo, falar pode levar ao cansaço e falta de coordenação.
Frituras e preparações muito condimentadas ou açucaradas podem prejudicar a fala. Esse tipo de consumo pode ocasionar um refluxo gastroesofágico – que é a volta do ácido do estômago para a laringe – e, posteriormente, outras doenças. Já entre os líquidos que influenciam a fala estão bebidas como café, chimarrão e chá preto. Para profissionais que utilizam muito a voz, o ideal é consumir essas bebidas depois do trabalho, pois elas ressecam as pregas vocais. Para ter uma voz saudável, é importante consumir água, que ajuda na hidratação do corpo, e frutas como a maçã, o morango, a pera e o pêssego, que são levemente cítricas e auxiliam na salivação.
8 – A poluição do ar também prejudica as pregas vocais
Se uma pessoa ficar durante horas em contato com pó – como professores que utilizam giz de quadro, por exemplo – as pregas vocais podem ficar prejudicadas, pois a autolimpeza que o corpo faz não é suficiente para retirar a quantidade de poeira depositada ali.
9 – Sua voz envelhece com você
Segundo Carla Cielo, não é possível parar ou reverter o processo de presbifonia – envelhecimento na voz. Porém, exercícios regulares e cuidados com o uso da voz podem retardar características como fraqueza, menor potência e falhas na voz. Apesar disso, é necessário ter cautela com exercícios encontrados na internet, pois eles podem prejudicar a fala ao invés de melhorá-la.
Gostou dos fatos curiosos que a Arco separou para você? Então não perca o evento Voz, Postura e Respiração, organizado pela professora Carla Cielo. Ele acontece hoje (16), às 18h, no Auditório Gulerpe. As inscrições podem ser feitas na hora do evento e custam R$ 10,00 para alunos sem Benefício Socioeconômico e R$ 5,00 para alunos com benefício.
Reportagem: Paulo Ferraz, acadêmico de Jornalismo
Ilustração: Marcele Reis, acadêmica de Publicidade e Propaganda
Edição de produção: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo