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Revista Arco
Jornalismo Científico e Cultural

Café da longevidade

Suplemento inspirado na dieta amazônica, desenvolvido na UFSM, pode combater doenças associadas ao envelhecimento

Há dez anos, a bióloga e professora Ivana Beatrice Mânica de Cruz começava a pesquisar os frutos amazônicos. No Laboratório de Biogenômica da UFSM, ela testou hipóteses sobre a relação existente entre os genes e o ambiente. Mais especificamente, a professora procurou compreender como os alimentos da Dieta Amazônica agem sobre o envelhecimento humano e doenças associadas.

A partir daí surgiu o Multicafé, suplemento natural com função antioxidante, anti-inflamatória e antifatigante. O composto auxilia no tratamento de doenças como a esclerose múltipla e foi desenvolvido a partir de estudos multidisciplinares de pesquisadores que integram a equipe do Laboratório, como Verônica Azzolin, doutora em Farmacologia, e Douglas Sato, neurologista do Instituto do Cérebro, em Porto Alegre.

O Multicafé tem como base um dos frutos mais famosos do Brasil, consumido em larga escala pelas populações ribeirinhas: o guaraná. A combinação é misturada ao pó de cappuccino para que os pacientes bebam diariamente no café da manhã.

Segredo dos ribeirinhos

Após observar a longevidade das populações ribeirinhas do Amazonas, a professora estabeleceu hipóteses para compreender a relação entre o consumo do guaraná e a longevidade. Os ribeirinhos têm dificuldade de acesso à saúde, tanto na prevenção quanto no tratamento. Além disso, o desmatamento e a mineração, que se intensificaram na região, são nocivos devido à contaminação por mercúrio.

No entanto, Ivana percebeu algumas questões curiosas. “O que chamou a nossa atenção é que, entre os idosos de Maués, a capacidade neurológica era muito preservada. Assim como a baixíssima prevalência de depressão, altíssima capacidade funcional associada ao equilíbrio, a preservação dos olhos e a memória bastante aguda”, conta. A cidade de Maués é reconhecida por ter uma das maiores expectativas de vida do Brasil e por ser o local em que os indígenas Sateré-Mawé domesticaram o guaraná.

A partir das constatações, a alimentação começou a ser pautada como grande influenciadora na saúde dos idosos ribeirinhos. A dieta dos amazonenses tem origem pré-colombiana e é rica em frutas, peixe, mandioca e derivados. Enquanto isso, em boa parte do Brasil, a alimentação herdada dos portugueses está baseada no trigo e no açúcar. 

Essas observações despertaram a curiosidade de outros pesquisadores, que sugeriram ao Laboratório de Biogenômica a produção de um suplemento. Nesse sentido, a criação do Multicafé tem forte relação com a longevidade. “Sabemos que o envelhecimento faz parte do nosso desenvolvimento biológico; assim, não podemos pará-lo. No entanto, é possível acelerar ou desacelerar o envelhecimento. Por consequência, também desacelera o ritmo das disfunções e até doenças crônicas”, diz. Assim, o suplemento tornou-se também alternativa para melhorar a qualidade de vida de quem sofre de doenças degenerativas. 

Como o Laboratório de Biogenômica não realiza testes em humanos, foram estabelecidas parcerias com o Instituto do Cérebro da PUCRS e com o Tokyo Metropolitan University. Nesses dois locais são feitas avaliações com idosos que consomem o suplemento diariamente.

Por ainda estar em processo de patenteamento, apenas mais um de seus ingredientes foi revelado: o selênio da castanha-do-Pará.

Expediente

Repórter: Leandra Cruber

Ilustradora: Yasmin Faccin

Mídias Sociais: Nathalia Pitol

Editora de Arte da edição impressa: Lidiane Castagna

Editora de Arte: Marcele Reis 

Editora de Produção: Melissa Konzen

Editor Chefe: Maurício Dias

Revisor: Alcione Bidinoto

*Matéria publicada na 11ª edição impressa da revista Arco. *