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Revista Arco
Jornalismo Científico e Cultural

Ferramenta de Luta

Rodrigo Kuaray Mariano, 27 anos, Guarani Mbya, nascido e criado em tekoá (aldeia), menino de poucas perspectivas, mas de muitos sonhos. Inicialmente queria cursar Biologia, mas por um impulso – ou melhor, por vontade de Nhanderu – no momento da inscrição para o vestibular, optei por um curso diverso daquele
que sempre pensei.

Cursar Direito na Universidade Federal de Santa Maria foi uma das melhores coisas que pude vivenciar. Desde o ano de 2015, ano em que iniciei meus estudos na instituição, pude perceber muitas evoluções, tanto na minha formação profissional como pessoal, e umas das principais foi sobre novas percepções de mundo e também a possibilidade de um olhar mais crítico e politizado em relação a certos assuntos.

Ao longo da caminhada acadêmica, pude me afirmar, ainda mais, como uma pessoa comprometida na defesa de ideais e projeto de povo, de superação da segregação histórica que meu povo e os povos indígenas em geral sofrem.

A conquista da graduação em Direito me possibilitou muitos caminhos, mas sempre existiu um que era e é ainda o principal: a atuação por justiça social e defesa dos direitos dos povos indígenas. Então, a partir do exposto, é possível afirmar que a UFSM foi uma ponte que me possibilitou alcançar lugares diferentes daqueles que eram os mais próximos à minha realidade.

Nesta imagem, está ilustrado um momento que tem um significado muito grande na minha vida: ela marca o início de uma trajetória que não pretendo deixar. Logo nos primeiros dias após minha formatura, já em atuação pela Comissão Guarani Yvyrupa – CGY, organização indígena, representante do povo Guarani do Sul e Sudeste do Brasil, acompanhei uma comitiva de lideranças indígenas da região Sul em mobilização em Brasília-DF. No dia 11 de fevereiro de 2020, realizei visitas aos gabinetes dos ministros do Supremo Tribunal Federal e entreguei, simbolicamente, uma petição de habilitação da Comissão Guarani Yvyrupa em um Recurso Extraordinário que trata dos direitos dos povos indígenas aos seus territórios.

Para finalizar, sobre a UFSM, é importante destacar que é uma instituição pública de muita qualidade e que está preocupada na formação crítica dos e das estudantes, que me proporcionou novos horizontes e possibilidades e, o mais importante de tudo, considero que o Direito é, em minha vida, uma ferramenta de luta, e a UFSM me proporcionou conhecer, estudar, me apropriar, e agora me utilizar disso para a conquista de meus ideais e do
meu povo.

Expediente:

Texto: Rodrigo Kuaray Mariano, primeiro indígena do povo guarani a estudar no curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria.

Diagramação e ilustração: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial.

Conteúdo produzido para a 12ª edição impressa da Revista Arco (Dezembro 2021)