[GRITOS DO SILÊNCIO] Você realmente está bem?
Acordar cedo, ir para a aula, estudar, estagiar, fazer parte de grupos de pesquisa ou projetos de extensão e, ainda, socializar e ter tempo de lazer - tudo isso com pouco dinheiro disponível. Não é de hoje que a rotina do universitário, principalmente o que estuda em instituições federais, é agitada e, não raro, conturbada. Além de sofrer com a alta demanda de atividades acadêmicas, o estudante, muitas vezes vindo de longe e sem uma rede de apoio por perto, nem sempre se adapta a essa realidade e, assim, os problemas psicológicos começam a aparecer.
De acordo com a pesquisa disponibilizada na dissertação de Rafael Anunciação Oliveira, doutorando em psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizada com alunos da referida instituição, de 509 participantes, 78,6% possuem suspeita de Transtornos Mentais Comuns. Os TMC, como são popularmente conhecidos, são um conjunto de sintomas que podem indicar ansiedade e depressão, por meio de irritabilidade, fadiga, insônia, falta de atenção e esquecimento, entre outros. Ademais, a pesquisa mostra que o percentual de estudantes do gênero feminino com tais sintomas é maior (83,9%).
Em dados gerais, conforme o estudo “Global Student Survey”, feito pela Chegg.org em 2021, 87% dos universitários brasileiros declaram que a pandemia do Covid-19 aumentou o estresse e a ansiedade. A consulta foi aplicada em 21 países e 16,8 mil jovens de 18 a 21 anos foram ouvidos. No Brasil, a análise indica que os principais desafios que essa geração enfrenta - e que atuam como motivadores para a ansiedade - são o aumento da desigualdade e o acesso escasso a empregos de qualidade.
A procrastinação é uma das adversidades trazidas pela ansiedade, e faz com que o trabalho não seja realizado, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de realizar a tarefa fique na cabeça do procrastinador. Procrastinar de vez em quando é comum, principalmente quando se lida com algo maçante. No entanto, do ponto de vista da saúde mental, essa prática, quando recorrente, é extremamente prejudicial e pode ser sinal de casos mais sérios, como a ansiedade, a depressão e a Síndrome de Esgotamento Profissional (Burnout).
As universidades preparam seus discentes não só para o mercado de trabalho, mas também para a pesquisa, um dos principais focos dessas instituições. Ler por horas em frente ao computador, virar noites para escrever artigos ou perder o sono para preparar apresentações são parte da rotina de pesquisadores. Esses hábitos, combinados a pouco ou nenhum autocuidado, podem gerar alta carga de estresse. Um levantamento de 2018 da psicóloga e doutora em Filosofia, Teresa Evans, revela que de 2.279 acadêmicos entrevistados, 41% têm ansiedade moderada a grave e 39% depressão moderada a grave.
Aqui na UFSM, o cenário não é diferente. Segundo o psicólogo da Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP), Álysson Pacheco, a maioria dos alunos que procuram atendimento estão sobrecarregados, frequentemente por uma exigência no ambiente universitário, e, por isso, deixam de lado seu próprio bem-estar. O profissional destaca que os estados emocional e psicológico devem receber atenção, uma vez que esses fatores são responsáveis, também, por aumentar a produtividade e afastar a procrastinação.