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Revista Arco
Jornalismo Científico e Cultural

O Despertar do Conhecimento

Uma das instituições mais antigas do mundo é a universidade. Ingressar nela é o sonho para 17,2 milhões de brasileiros, conforme dados de 2018 da Associação Brasileira de Estágios. No entanto, poucos conhecem sua história. Confira a seguir como as primeiras universidades surgiram e sua evolução até os formatos atuais.

As primeiras universidades do mundo

As primeiras instituições do Ocidente surgiram na Idade Média e espalharam-se rapidamente por toda a Europa. Essa época foi marcada pelo renascimento das cidades, crescimento do comércio e pela influência das escolas do século 12. Tudo isso levou à necessidade de se criar um novo espaço de construção e preservação do conhecimento. As primeiras universidades foram a de Bolonha, na Itália, fundada em 1088, e a de Paris, na França, em torno de 1200. Após alguns anos, surgiram instituições de ensino superior de Oxford, Nápoles, Cambridge, Montpellier, Coimbra e Lisboa.

Educação superior medieval

A Universidade de Paris recebeu o título de studium generale, ou seja, Estudos Gerais, concedido somente às instituições que possuíam as quatro faculdades: Artes, Teologia, Decretos e Medicina. A educação universitária se preocupava em dominar os conhecimentos encontrados em livros e os considerava como verdades absolutas. Não havia um ponto de vista crítico nem inovador. No entanto, os livros eram raros e caros nesse período. Por isso, as aulas se davam a partir da leitura das obras pelos mestres e por meio de debates públicos. Assim, a educação era muito mais voltada para o domínio dos discursos formais e da argumentação do que para a aquisição de saberes.

Heranças e tradições

Apesar de os modelos universitários atuais serem muito diferentes dos de antigamente, ainda mantêm características e tradições daquele período. Por exemplo, as nomeações e as diferenças entre bacharelado, licenciatura, mestrado e doutorado. As noções de créditos ou horas necessários para a conclusão de curso, bem como as bancas avaliadoras datam da Idade Média. Algumas instituições antigas mantiveram tradições seculares – na Universidade de Coimbra, por exemplo, é possível encontrar resquícios das vestimentas medievais. Até hoje, são usadas longas capas pretas pelos estudantes, característica adotada pela escritora J. K. Rowling ao descrever as vestimentas dos personagens na saga Harry Potter.

O surgimento no Brasil

O sistema universitário foi trazido para a América Espanhola no século 16, com instituições no México, Chile, Cuba e Argentina. No Brasil, o ensino superior só chegou três séculos depois. Durante a colonização portuguesa, a Companhia de Jesus era responsável pela educação, e seu objetivo era a difusão da fé católica. Alterações significativas só ocorreram com a vinda da Corte Portuguesa, em 1808. Surgiram o Curso de Cirurgia da Bahia, a Escola de Direito em Olinda, a Faculdade de Direito de São Paulo, o Curso de Medicina no Rio de Janeiro e a Escola Nacional de Engenharia. Após a Independência e a Constituição de 1824, discutiu-se a necessidade do sistema nacional de educação. O ensino superior só foi instalado em 1930.

Maio de 68

Demandas estudantis marcaram a década de 60 e ocasionaram grandes mudanças sociais e políticas mundialmente. O movimento conhecido como Maio de 1968 teve início na França e consistiu em uma série de protestos por parte de jovens universitários que exigiam reformas no sistema educacional. Os eventos também atingiram a classe trabalhadora, ao provocar a maior greve geral da Europa. Os ideais do movimento foram o estopim para uma grande revisão de valores da época fortalecendo demandas em diversos países. No Brasil, por exemplo, o movimento impulsionou os opositores da ditadura militar e incentivou a união na Passeata dos Cem Mil, que marcou a reação contra o regime.

Modelos universitários modernos

O século 20 foi marcado por profundas transformações no ensino superior: em vez de se aceitar passivamente os ensinamentos, passou-se a estimular questionamentos. A universidade deu voz a novas áreas, ganhou mais autonomia e se consolidou como esperança de transformação socioeconômica. Somente entre as federais no Brasil, são mais de 1,2 milhão de estudantes e mais de 191 mil servidores, entre técnicos e professores. Para a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM Eugenia Barichello, “a sociedade descobriu que a universidade poderia auxiliá-la em problemas específicos; a partir de então a universidade passa a ter um compromisso social mais efetivo”.

Origens da UFSM

A Universidade Federal de Santa Maria, fundada em 1960 pelo professor José Mariano da Rocha Filho, foi a primeira instituição federal criada fora de uma capital. A UFSM liderou o movimento de interiorização, apesar da resistência das situadas nas capitais, nas quais eram feitos os maiores investimentos. Logo a partir disso, como observa a professora Eugenia, a UFSM definiu sua vocação como uma universidade comprometida com a  realidade social, com a educação formativa e permanente à população do interior e, posteriormente, aos estudantes dos mais diversos lugares do Brasil.

Expediente:

Reportagem: Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo;

Ilustração: Renata Costa, acadêmica de Produção Editorial.

Conteúdo produzido para a 12ª edição da Revista Arco (dezembro de 2021).