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As limitações do engajamento: até que ponto meu público decide o que posso postar?



A “cultura do cancelamento” e a disseminação dos discursos de ódio são pregadas nas redes sociais em níveis alarmantes na era digital. Influenciadores, profissionais da saúde mental e uma estudiosa do assunto falam sobre.   

Igor Mussolin

Frederico Westphalen

De acordo com o artigo 1º da Constituição Federal, é livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer.

Está citado acima a lei que prevê os princípios da liberdade de expressão para todo e qualquer cidadão, entretanto, esta lei atualmente se mantém sob um regime de atuação teórica, e não prática. 

A professora do Departamento de Ciência da Comunicação e Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Aline Dalmolin explica um pouco sobre o fenômeno do cancelamento através de sua pesquisa, que encerrou-se no ano de 2020. A pesquisa é denominada Moralidades contemporâneas e fundamentalismos pós-modernos, e tem como objetivo entender sobre os fundamentalismos digitais que emergem nas redes sociais disseminando discursos de ódio. 

A “perfeição” buscada por influenciadores digitais cada dia é mais empenhada nas redes sociais, principalmente no Instagram e no Twitter. Redes sociais que foram criadas com intuito de promover entretenimento hoje podem ser uma arma nas mãos de quem não sabe usar. 

Casos recentes de grandes cancelamentos vieram à tona após a participação da rapper e cantora Karol Conká e o Humorista Nego Di no Reality Show conhecido como Big Brother Brasil, ambos foram “cancelados” por diversas atitudes que eles tiveram durante o confinamento. 

Influenciadores digitais que vivem do instagram foram questionados sobre o assunto da cultura do “cancelamento” e expuseram para produção desta reportagem como é suas rotinas como influenciadores e também expuseram suas opiniões sobre o assunto. 

O que influenciadores relatam sobre o assunto 

Alex Kemmerich, tem 29 anos, e também é conhecido nas redes sociais como “Gordo Fitness” usa seu instagram atualmente para publicações relacionadas ao nicho de comida e emagrecimento. Alex é influenciador digital e passa para seu público sua rotina diária e sua luta para perda de peso. Alex ressalta seu ponto de vista em relação ao acompanhamento psicológico “o dia a dia, me ajudou mais na forma de como saber trabalhar com pessoas em relação ao perfil”. 

O influenciador conta sua relação com seu público: “nunca houve nada significativo que eu precisasse vir a dar explicações, mas já aconteceu de reclamarem e eu ter que justificar minha fala para pessoas específicas em momentos específicos no privado.” Alex não costuma trazer assuntos sem tê-los estudados antes para que não haja controvérsias em relação a dar explicações coletivas. Até a conclusão desta matéria, o perfil “Gordo Fitness” conta com a interação de quase 90 mil seguidores, que acompanham o dia a dia de Alex em sua árdua rotina de acordar por volta de cinco horas da manhã para colocar em prática sua vida fitness.

Cristiano Ott é humorista, tem 25 anos, e leva sua vida somente através do seu perfil no Instagram denominado “Frederiquenses”, que conta com quase 22 mil seguidores. Cristiano fala um pouco sobre a “cultura do cancelamento”, como humorista ele faz essa associação a demasia de senso de humor que diversas pessoas têm. Cristiano conta que já passou por um cancelamento coletivo “ameaçaram de me bater, de morte, já passei por isso. Não me justifiquei e também fui acolhido até pela administração municipal. Mas hoje em dia existem várias pessoas que esperam o erro das pessoas para poderem abrir os julgamentos”, relata. 

Cristiano sente-se feliz com todo seu engajamento. “Onde vou sinto um calor por parte de quem gosta de mim”. Ele se sente responsável por conta do conteúdo o qual ele compartilha. Além disso, nunca procurou psicólogo e se sente bem com isso. Cristiano concluiu sua entrevista falando que já passou por 14 processos, todos já resolvidos e boa parte deste público são os que acompanham o conteúdo hoje. 

Saúde Mental e a psicologia: como o influenciador digital pode lidar com o cancelamento? 

O psicólogo Jonas Freier, tem 32 anos e atualmente atua na cidade de Salto do Jacuí -RS, questionado sobre como deve ser a postura de alguém que sofre hostilização na internet, Freier afirma que deve-se sim procurar um profissional da psicologia e ser o mais transparente possível com seus sentimentos, assim como todas que procuram um psicólogo. “Falando sobre isso, será possível dar uma ressignificada em relação a toda essa situação que o indivíduo vivencia que pode ser muito difícil”, afirma o psicólogo. 

Jonas diz que não acha possível evitar um “cancelamento”, para ele, para que isso seja possível seria necessário que as pessoas se ausentassem de muitos posicionamentos e acabariam não sendo leais consigo mesmas por dar respostas evasivas ou até contrárias de seus pensamentos para que possa agradar seu público. “Estando trabalhando nas redes sociais e com o público, não é possível que todos sejam agradáveis até pelo fato de se tratar de um grande número de pessoas. É praticamente impossível produzir um conteúdo que agrade aos olhos de todos que os vê. Quem se submete a isso, sabe o risco que está correndo” 

Jonas conclui dizendo que sempre existiu o cancelamento, porém se tornou maior durante o período da ascensão das redes sociais, quando o acesso à informação e cada ato de determinado público vem a tona de forma extremamente rápida. 

O que pode ser feito? 

Segundo Aline Dalmolin, dentro da sua pesquisa, a equipe de Aline teve a oportunidade de acompanhar todo movimento que hoje chamamos de “bolsonarismo”. Foi observado como aos poucos este grupo político foi articulando sentimentos como negacionismo, ódio de classe, racismo entre outros. Pode-se observar também dentro dos objetivos da pesquisa de Aline enxergar o papel dos empreendedores morais que pregavam posicionamentos conservadores, uma vez que projetos relacionados a “cura gay” foram defendidos no parlamento por uma psicóloga. 

Aline conclui ainda que o ódio não é motivado apenas por questões adversas, mas é regado por uma distinção biológica. Situações no qual o ódio não está direcionado a uma pessoa mas sim uma classe social conhecida como “minorias”.

Dessa forma, é evidente que os empreendedores morais, os ditos como “canceladores” têm o intuito não só de impor o certo e o errado para algumas pessoas, mas sim, negar a pessoa o direito de se expressar. O gesto é de calar, não argumentar e negar, são práticas anti comunicacionais que são contra o que se defende em uma sociedade livre e democrática.

Repórter: Igor Mussolin

Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)

Professor responsável: Reges Schwaab

* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.

Contato: meiomundo@ufsm.br

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