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Esportes paraolímpicos: paixão e desafios



Ser um atleta paraolímpico requer muito esforço e dedicação, mas com projetos que incentivem pessoas com deficiência, fica mais fácil sonhar

Jaqueline Witter

Novo Xingu-RS

Uma jovem goiana passeava pelo Shopping com seu amigo, naquele momento ela nem imaginava que em poucos minutos iria receber um dos telefonemas mais importantes de sua vida. Naquela ligação Raphael Moreira, técnico da seleção de tênis de mesa paraolímpica do Brasil confirmava que Millena havia conquistado a tão sonhada vaga para as Paraolimpíadas, evento que acontece entre os dias vinte e quatro de agosto e cinco de setembro em Tóquio no Japão. 

“Eu tô passando mal”, foi o que Millena disse ao amigo após receber a ligação, “eu fiquei super nervosa, e meu amigo pensou que tinha morrido alguém. Ele ficou perguntando ‘O que tá acontecendo, Nega?’ e eu toda me tremendo. E aí eu não conseguia falar”. Mas apesar de ter recebido a ligação Millena ainda não quis se entusiasmar. Primeiro esperou ter seu nome publicado no site do Comitê Paralímpico Brasileiro(CPB). 

Millena França tem apenas 25 anos, é formada em Educação Física, e hoje cursa Pós graduação em Psicologia do esporte pela universidade Estácio. Começou no esporte em 2009 com 12 anos após receber alta da fisioterapia. Foi  sua fisioterapeuta que indicou o esporte. Millena inicialmente praticava tênis em cadeira de rodas, mas em 2014 trocou para o tênis de mesa. “Eu pensava que os  esportes com raquete eram todos iguais, mas é muito diferente porque  jogar na  cadeira o movimento é bem amplo. Agora o outro joga em pé, é muito diferente a rotação da bolinha, é mais rápida, o tempo de reação no tênis de mesa também. E o  que me levou a  mudar assim de esporte mesmo foi querer ter experiência em um outro esporte”, conta Millena.

A jovem é a 12ª do mundo em sua classe (F7) que engloba atletas andantes com algum tipo de deficiência físico-motora. Millena  vem se preparando a cada dia para as paraolimpíadas, treina de segunda a sexta no período da manhã e da tarde, tem  apenas os finais de semana livre. Antes de ser convocada estava treinando pouco, pois também estava trabalhando, mas agora com a convocação está focada somente em representar o Brasil em Tóquio.

  “Eu estou muito muito feliz,  ansiosa para poder participar dos jogos, aí entra outra questão: a  da pandemia, um pouco de medo de se contaminar porque se contaminar não vai poder participar dos jogos, não vai nem poder entrar lá em Tóquio. Então a gente fica  com receio, eu estou com uma vaga na mão, mas a qualquer momento pode ser que eu não vá, entendeu? E aí a gente fica tendo muito cuidado com isso, a gente tem que manter uma atenção redobrada, não pode manter contato muito com as pessoas não pode sair, porque assim em qualquer momento se alguém tiver contaminado você também pode se contaminar”, fala Millena. A atleta já foi vacinada com a 1 dose e aguarda a segunda dose antes de entrar em concentração para as paraolimpíadas. 

O canal SPORTV vai ser a casa das paraolímpiadas, e a Globo deve transmitir algumas modalidades na tv aberta, em entrevista a VEJA, Joana Thimóteo, diretora de eventos de esportes da Globo afirmou: “A gente entende que estamos vivendo um momento importante de pluralidade, de diversidade e a Paraolimpíada é muito representativa nesse sentido. Então, vamos mergulhar nessa cobertura também”. Para Millena a visibilidade paraolímpica aumentou nos últimos anos, o principal  motivo seria as redes sociais, onde fica mais fácil o contato e acompanhamento do público com os atletas. 

Desafios não faltam para aqueles que ingressam no esporte paraolímpico, tanto pela condição física, ou pela financeira. Este último bem presente visto que não há muito suporte de empresas privadas, o maior patrocinador é o Governo Federal, mas o que não falta é a força de vontade. “A gente é capaz de conquistar o que a gente almeja, mesmo que às vezes tenham pessoas falando que você não vai conseguir, que isso é um sonho surreal e tudo mais, mas não, se você pode continuar no seu sonho, na sua caminhada se esforçando, você pode conseguir alcançar aqueles objetivos. Ter mais confiança em si mesmo, porque o esporte é muito bom e vai contribuir muito  na nossa formação, ainda mais sendo um esporte paralímpico que visa o autoconhecimento como pessoa”, afirma Millena.

UFSM atuando no Paradesporto

A Universidade Federal de Santa Maria possui um Núcleo de Apoio e Estudos da Educação Física Adaptada (NAEEFA), que promove pesquisa, ensino e extensão, o programa é coordenado pela Professora Prof.ª Dr.ª Luciana Erina Palma Viana. O núcleo existe há 27 anos e desde seu surgimento vem assegurando às pessoas com deficiência a inclusão e o direito ao esporte.

Porém, com a pandemia, ficou inviável a continuação do projeto. “Nós estamos sem nenhuma atividade, até tentamos fazer virtualmente com os familiares, mas por vários motivos não foi possível. Temos grupos de pessoas com deficiência de diferentes níveis sociais, então alguns deles têm acesso à internet de uma forma bem fácil com qualidade, outros não tem”, conta Luciana. O contato foi mantido através do WhatsApp, estimulando as famílias, vendo como é que elas estão ou se elas precisam de algum auxílio extra, “é algo mais pessoal, afetivo que a gente acaba criando, com os adultos das equipes a gente participa de algumas atividades para aqueles que tem em casa material”, diz Luciana.

Contudo antes da pandemia os trabalhos eram intensos. Diferentes modalidades eram empregadas como a natação, programa chamado piscina alegre, com bebês e crianças  a partir de oito meses, que é o de estimulação essencial. “A gente recebe bebezinhos com paralisia cerebral, síndrome de down, com má formação congênita, baixa visão ou cegueira então a gente trabalha com eles toda parte de estimulação. Nós temos um outro projeto dentro desse programa na piscina que é atividades recreativas lúdicas para nós trabalharmos com pessoas mais adultas, adolescentes com deficiência intelectual e com deficiência física. Esse trabalho é praticado de uma forma bem divertida, focando na questão das habilidades para o dia a dia”, conta Luciana.

O goalball, outro projeto desenvolvido pelo NAEEFA, é voltado para pessoas cegas e com baixa visão. Neste projeto surgiu as equipes da UFSM de goalball masculina e feminina que também participam de competições.“São todas  pessoas adultas  cegas ou com baixa visão.  Possuímos  o basquete em cadeira de rodas que são pessoas com deficiência física, também todos adultos. E  também o handebol em cadeira de rodas. As modalidades começaram com o handebol, um   projeto  de 2007, a equipe  começou logo em seguida a disputar campeonatos em nível de Brasil e aí formou a equipe Força Sobre Rodas UFSM que também é representada na modalidade de basquete”, afirma Luciana.

O programa possui vários objetivos alcançados, no esportivo já foi campeão brasileiro de handebol  na série B chamada  Série Prata. No basquete a equipe já foi considerada a oitava melhor equipe do estado, e recebe seguidamente convocações de atletas para representar o Estado do Rio Grande do Sul em competições.  Outro projeto, o de bebês e crianças na piscina de estimulação essencial,já foi considerado o melhor projeto de extensão na jornada acadêmica de 2018(JAI). 

“De forma geral, não é só nesses símbolos de medalha de troféus que a gente se orgulha. O que orgulha é os ganhos ou as conquistas que nós temos a cada dia, às vezes o fato de conseguir um movimento que até então aquela pessoa não conseguia desenvolver  já é uma grande conquista. Receber um sorriso de um aluno, ver que ele gostou da sua aula, da sua atividade, cada obrigado das pessoas que estão com a gente. A conquista de minha parte especialmente é de  ter ajudado na formação de tantos profissionais aí que estão no mercado de trabalho, através das atividades do grupo e as conquistas é a cada dia a cada momento de interação com essas pessoas eu acho que isso vale mais do que qualquer medalha do que qualquer troféu do que qualquer classificação por mais que eu adoro muito esporte, gosto muito de estar lá na competição, essa é a nossa Conquista o olhar dos pais e na luta que eles têm diária para manter seus filhos no programa”, reflete a professora Luciana.

Para que todas essas modalidades aconteçam é preciso muito planejamento e acessibilidade pensando sempre na segurança em primeiro lugar. Por isso foi preciso uma  adaptação da quadra. No goalball  como todos os alunos  jogam vendados sendo cegos ou com baixa visão, é preciso fazer toda uma adaptação, colocar marcas em alto relevo, fazer os cones, as goleiras enfim demanda toda uma adaptação. A professora Luciana conta que no início foi um pouco difícil adquirir os recursos e equipamentos tanto que a primeira bola de goalball o NAEEFA ganhou de uma ONG do Rio de Janeiro e a outra eles mesmos fizeram  enrolando papel celofane para fazer barulho no chão.

Apesar das reduções orçamentárias que as universidades Federais vem sofrendo nos últimos anos, Luciana conta que a UFSM sempre prestou apoio interno nas finanças. Porém esses materiais para a prática de esportes adaptados possuem um valor elevado. “ O goalball que tem a bola específica, hoje nós temos 11 e 4 bolas de golbol o custo é muito elevado desses materiais, uma bola de goalball custa R$ 500 e não é oficial, uma cadeira de rodas esportivas R$ 5000, isso que não é a de ponta as  mais comuns, de iniciação. Então é um custo  elevado, não é os equipamentos e materiais que nós utilizamos mas na medida do possível sempre a universidade o centro educação física tem nos dado apoio e sempre dá alguma parcela do valor para gente ir comprando o que é necessário”.

O NAEEFA, possui várias parcerias, que elevam o programa a nível estadual e de Brasil, como o Hospital Sarah de Brasília, associação de cegos do Estado, a associação de cegos de Santa Maria, também a Associação Santa-Mariense Paradesportiva – ASSAMPAR. “Atendemos pessoas não somente de Santa Maria o pessoal que vem de Restinga Seca-RS que é a cidade próxima daqui, da Quarta Colônia, de Agudo-RS,  Faxinal do Soturno-RS. Então nós temos uma abrangência um pouquinho maior quando a gente tem um trabalho nas instituições especiais há alunos de São Sepé-RS de Caçapava-RS de São Pedro-RS de então nós acabamos tendo uma visibilidade não só Santa Maria mas acaba tomando uma proporção muito grande”. 

A UFSM foi  contemplada com o Programa Segundo Tempo (PST). O PST é um Programa do Governo Federal, ligado ao Ministério da Cidadania com o objetivo de democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte, o que vai possibilitar ao NAEEFA, maiores recursos e contemplar mais pessoas portadoras de deficiência, favorecendo a inclusão social e ao direito ao esporte. 

Hoje o NAEEFA conta com uma quantidade de mais de 50 alunos com deficiência. A estimativa é que com o Programa Segundo Tempo(PST), possam ser atendidos mais 50 alunos com deficiência. Além da professora Luciana, que é a  coordenadora geral em  cada projeto, há um coordenador técnico geralmente é aquele aluno que já está quase no final do curso de  graduação ou alguns alunos de pós-graduação, além dos bolsistas e voluntários que ajudam a professora para um melhor atendimento.  Para o NAEEFA o mais importante são as  conquistas diárias de diferentes formas respeitando a diversidade e a individualidade de cada indivíduo.

Repórter: Jaqueline Witter

Imagens: XXXXX (se for o caso)

Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)

Professor responsável: Reges Schwaab

* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.

Contato: meiomundo@ufsm.br

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