As fotografias de infância da mãe que me abandonou aos três anos servem como origem de uma poética da ausência materna. Esta é concebida através de gestos subtrativos, na qual a figura materna é retirada digitalmente das imagens, que são transferidas através de monotipia para o papel de trapos. Do suporte manufaturado artesanalmente, passando pelas fotografias, às silhuetas da mãe ausente, até a justaposição das partes que compõem as monotipias, realizo algo próximo a uma arqueologia de si, onde reúno os fragmentos de minha própria história. Por meio do espaço vazio criado nas obras, a história pessoal passa a estabelecer novas relações com o social, ao considerar o abandono materno como uma prática cultural recorrente. Assim, as ausências figuradas pelas silhuetas remanescentes dos atos subtrativos são espaços ativos que propõem um ato perceptivo, para visualizar subjetivamente o que não está. É proposta dirigida ao coletivo, para que perceba e integre a complexa dinâmica existente entre ausência e presença. Pois estas imagens ausentes só chegam ao presente quando exigem, ao mesmo tempo em que desafiam, o reconhecimento.
Stéfani Agostini
Visitação: 07 de Janeiro a 16 de Fevereiro de 2020