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Emissoras Públicas da UFSM - AM/FM

[GRITOS DO SILÊNCIO] Os impactos da violência contra crianças e adolescentes

Ilustração: Gian Hoch

A infância é a fase primordial no desenvolvimento de uma pessoa, pois tudo que é vivido nela, pode ser refletido na vida adulta. De acordo com o Instituto Hoffman Brasil, o conjunto de experiências, aprendizados e elementos aos quais uma criança é exposta influencia em seu futuro. Isso ocorre porque a primeira fase da existência de um indivíduo atua diretamente na construção de suas conexões cerebrais. Assim, as qualidades do ambiente e as relações do ser humano, principalmente na infância, determinam aspectos essenciais de sua saúde mental.

Crescer em um espaço onde o uso de violência por parte dos pais é presente, seja física ou verbal, pode resultar em danos profundos no desenvolvimento de crianças e adolescentes,  principalmente no que diz respeito ao seu psicológico. A situação pode gerar traumas, angústias e outras patologias. Essas marcas ficam no inconsciente e resultam em  sintomas na fase adulta, como depressão, ansiedade, baixa autoestima, problemas para se relacionar, vícios e compulsões. 

Para a psicóloga e cientista Aline Siqueira, a punição física ou é ineficaz ou produz efeitos negativos a longo prazo. Por isso, práticas antes estabelecidas e naturalizadas, como a da “palmada”, devem ser repensadas. A psicanalista clínica Gessiane Rehbein também reflete que a violência necessita ser tirada de cogitação na hora de pensar a educação de crianças. Ela acredita que o relacionamento entre pais e filhos precisa ser baseado em respeito de ambas as partes, não em medo. “Temos que rever nossos conceitos em relação à educação tradicional, aquela que nos foi passada pelos nossos antepassados, que tinham como preceitos o uso da autoridade e da obediência”, complementa. 

É por meio da linguagem, na interação entre pais e filhos, que os adultos explicam o mundo e como ele funciona. Se a linguagem for agressiva, passará para a criança a impressão de que a agressividade é algo normal, que deve ser aceita sem questionamentos. Gessiane defende que a educação na infância, seja ela em casa ou em outro ambiente, deve levar sempre em consideração a afetividade, o diálogo e a compreensão. “Educar não é uma tarefa fácil; exige muita paciência por parte dos adultos, pois as crianças ainda estão em fase de maturidade psíquica e emocional”, comenta. Segundo ela, crianças e adolescentes, por ainda não terem o domínio das emoções, devido às questões biológicas, por vezes não são compreendidos pelos adultos. 

A psicanalista aponta que os pequenos devem ser acolhidos, ouvidos e respeitados em todos os ambientes. Quando a criança é silenciada e reprimida em seus sentimentos e desejos - o que, pra ela, comumente ocorre - o desenvolvimento e o processo de aprendizagem são afetados. Em algumas situações, as crianças podem desenvolver gatilhos de raiva e agressividade, vindo por exemplo, a morder e bater em outras pessoas. A profissional explica que isso geralmente acontece porque elas querem comunicar algo, como um descontentamento, uma frustração ou um medo, e o adulto, que já possui domínio de seus sentimentos, deve tentar entender o contexto dessa agressividade, os motivos que levaram a ter esse comportamento agressivo, para poder mediar esses conflitos.

Aline, que também é coordenadora do Núcleo de Ações e Pesquisa em Saúde da UFSM, afirma que a psicologia trabalha para prevenir situações de violências com crianças e adolescentes. Quando essa vivência não pode ser evitada, a atuação se volta para o auxílio em tratamento e acompanhamento para vencer e superar os efeitos que foram causados. A pesquisadora cita ainda que já existem estudos que comprovam os malefícios do uso da agressão como método de ensino, e reforça a educação positiva como uma maneira mais respeitosa de instrução, com o estabelecimento de limites a partir de uma comunicação não agressiva. 

Educação positiva

A educação positiva é um método de educação não punitivista, baseado no cuidado com o bem-estar, desenvolvimento de competências emocionais e promoção da autoconfiança nas crianças. Nela, as regras do dia a dia são combinadas com o objetivo de fazer a criança entender o porquê delas existirem, sem impor uma obediência que não faça sentido para quem está aprendendo o que é certo ou errado. Pode-se dizer que o seu objetivo é entender e respeitar a criança como um sujeito, que tem sua própria personalidade. Essa proposta educacional fundamenta-se em princípios como o diálogo, o estabelecimento de regras claras, a solução pacífica de conflitos e o foco nos acertos e não nos erros.

Essa técnica educativa tem ganhado força nos últimos anos e tem sido bastante comentada nas redes sociais, após a onda do TikTok, onde mães e pais mostram suas rotinas e compartilham dicas de como educar seus filhos de modo respeitoso. Antes disso, um dos primeiros exemplos presentes na internet foi o de Flávia Calina, uma youtuber que publica vídeos ajudando outras famílias no processo educacional das crianças, com dinâmicas interativas e conselhos para lidar com as frustrações do cotidiano. 

O site Ninhos do Brasil, que é voltado para relações familiares, também dá algumas dicas por meio de um passo a passo para momentos de dificuldades na educação dos filhos:

Importunação Sexual e Ciberabuso

A exploração sexual infanto-juvenil é o ato praticado pela pessoa que usa uma criança ou um adolescente para satisfazer seu desejo sexual. O incentivo à prostituição, à escravidão sexual, ao turismo sexual e à pornografia infantil também são configurados como abuso. Expor uma criança a conteúdos eróticos é mais uma forma de violentá-la. Quando entra em contato com materiais pornográficos ou é manipulada para fazer atos sexuais, a criança pode desevolver, além de traumas, comportamentos disfuncionais.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, de 204 milhões da população menor de 18 anos, 9,6% sofrem exploração sexual, 22,9% são vítimas de abuso físico e 29,1% possuem danos emocionais. As informações revelam que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são abusados no Brasil. Porém, esse número pode estar equivocado, se for considerado que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. Ao todo, 75% das vítimas notificadas são meninas e, em sua maioria, negras. 

Aline explica que, a partir da puberdade, o número de casos notificados do sexo masculino diminuem. No entanto, não é possível identificar se isso acontece porque a importunação não ocorre ou porque a cultura machista e homofóbica faz com que os meninos sejam silenciados. Além disso, a psicóloga adverte sobre o uso, por parte dos agressores, de “segredos” e ameaças, para influenciar os menores a não contar sobre a violência que têm sofrido. É a isso que se deve a importância de reforçar a comunicação entre a criança/adolescente e suas pessoas de confiança, para que se sinta confortável em contar sobre ocorridos do tipo. 

Como forma de proteger a infância e a adolescência do abuso e da exploração sexual, a Childhood Brasil formulou três grandes linhas de trabalho. As orientações buscam: informar a sociedade, por meio de ações e campanhas; educar, mobilizando e articulando empresas, governos e organizações sociais para uma ação mais eficaz contra a violência sexual; e previnir, desenvolvendo projetos inovadores e fortalecendo instituições que protegem crianças e adolescentes em situação de risco. Hoje, o meio digital permite a assediadores o acesso mais fácil a menores, por isso, um dos materiais publicados pela organização foi a cartilha Navegar com Segurança, cujas recomendações podem ser aplicadas por pais, responsáveis e educadores na prevenção do abuso on-line e da pornografia infantil na internet.

Quanto às medidas constitucionais, existe a Lei 13.431/2017 (Lei da Escuta Protegida), que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Já a Lei Nº 14.344/2022 cria mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente. Atos de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, manipulação, humilhação, indiferença, constrangimento, isolamento, agressão verbal, ridicularização, exploração, intimidação e abuso sexual são alguns exemplos de violação desses direitos.

Se presenciar um caso de violência contra crianças ou adolescentes, denuncie!

TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

Violência física: 

Violência psicológica:

Abuso sexual

(Informações retiradas do site Jusbrasil).

COMO DENUNCIAR?

Disque 125, para falar com a Coordenação de Denúncias de Violação dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cisdeca). e DIsque 100, para falar com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que encaminha o caso para o conselho tutelar mais próximo.

Texto: Júlia Petenon

Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: petenon.julia@acad.ufsm.br

Foto: Gian Hoch.

Revisão: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br

Publicação: Elisa Bedin, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: elisa.bedin@acad.ufsm.br

Escute o nosso programa: Violência contra crianças e adolescentes