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Luto Coletivo: a realidade de quem trabalha diretamente com as mortes por covid



Nas últimas semanas, o Brasil tem sido cenário de um número de óbitos cada vez mais alto, se tornando um exemplo a não ser seguido no enfrentamento à pandemia. Com esse panorama, nós da Agência Da Hora, entrevistamos profissionais de diversos setores que enfrentam diariamente as mortes que representam o colapso brasileiro.

O último Boletim do Observatório covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) retrata o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. O motivo? O descontrole do número de óbitos por covid-19. Esta semana, o Rio Grande do Sul alcançou mais um recorde de mortes, com 502 registros em apenas 24 horas. O Estado chega a mais de 15.800 pessoas que perderam a vida para o coronavírus, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

Portal de Transparência do Registro Civil no Rio Grande do Sul mostra aumento nas mortes entre 16/03/2020 e 18/03/2021.

Em um cenário catastrófico onde qualquer um pode ser vítima, em muitos casos fatal, o estado do Rio Grande do Sul está com 100% dos leitos de UTI’s ocupados. Até mesmo quem lida com a morte no dia a dia da profissão, fica sensibilizado diante da situação. Francisco Dalla Valle Von Kossel, oficial responsável por emitir as certidões de óbito no Cartório de Registro Civil de Ijuí/RS, diz que para um momento como estamos vivendo só existem duas palavras: empatia e solidariedade. O Portal de Transparência do Registro Civil apresenta uma página exclusiva com informações sobre a covid-19. O site apresenta um gráfico que confirma o crescimento do número de registros de óbitos suspeitos ou confirmados de covid-19, em todo o Brasil, desde o início de 2020. 

Jesica Maia, que trabalha há cinco anos como agente funerária em Novo Barreiro, interior do Rio Grande do Sul, relata a dor das famílias em não poderem seguir os ritos de despedida dos parentes falecidos. “A maior semelhança entre todos até hoje por ser do covid-19 é o desespero, desespero por não poder ter uma despedida como seria a de um ritual normal e além do desespero, a culpa por não ter feito nada antes de acontecer’’, conta Jesica. 

Mortes por covid mudaram jeito de lidar com o luto. Créditos: Jorien Loman / Unsplash Photos

Além da demanda por serviços funerários, a preocupação de quem trabalha nesse setor também aumentou durante a pandemia. Jesica ressalta que existem restrições no número de pessoas e na duração dos velórios para garantir a saúde dos familiares e também de quem trabalha na cerimônia. Os velórios podem durar no máximo quatro horas e é permitido apenas dez pessoas dentro da capela, podendo haver revezamento. Além disso, as normas sanitárias dos enterros ficaram mais rigorosas, uso de luvas, máscaras, álcool em gel, distanciamento e caixão lacrado são algumas das principais medidas, destaca Ademir da Costa, coveiro há 17 anos na cidade de Palmeira das Missões. Ademir nos conta ainda que o sentimento fica cada vez pior: ‘’É um sentimento forte, os familiares não poderem sequer ver’’, desabafa Ademir.  

Jesica destaca que existe uma grande diferença em velar uma pessoa que morreu de covid-19 ou por outro motivo: ‘’A pessoa que morre por outra morte tem o direito de fazer uma despedida digna, a pessoa que morre de covid-19 os familiares se sentem desprezados por não poder tocar, por não poder ver a última vez. Muitas vezes até pelo próprio tempo de não poder ficar um pouco mais junto e não poder se despedir de uma forma como todo mundo se despede naquele ritual do ser humano.’’, relata a agente funerária.  

O medo da incerteza 

Enquanto o  Rio Grande do Sul está em alerta máximo, os números apontam aumento dos casos, de ocupações de leitos e de velórios a cada dia, quem convive com a morte de perto tem a insegurança como companhia. Jesica admite que sente medo ao observar tudo que está se passando. ‘’O medo de não sabermos o que vai acontecer amanhã e a incerteza de não saber se o teu familiar que foi para um hospital caminhando e falando se vai voltar ou não’’.

O que nos gráficos, tabelas e sistemas são contabilizados como números, representam vidas perdidas e famílias desestruturadas após a perda de um ente querido. São brasileiros e brasileiras com histórias e experiências que foram encerradas talvez cedo demais. Para dar a real dimensão do que significam esses números, foi criado o site Memorial Inumeráveis dedicado às vítimas fatais da Covid-19 no Brasil, a seguir um dos relatos escrito em homenagem a  Agatha Lima, que morreu aos 25 anos de idade. 

“Além de, com muito amor, trabalhar no setor de regulação da UPA da Maré, Agatha, que também era médium, amava viagens, festas, fotografia e a vida. Ajudar os outros com responsabilidade para ela era imprescindível. Gostava de se sentir útil.’’


Depoimentos podem ser lidos e enviados pelo endereço inumeraveis.com.br/

Reportagem: Fernanda Vasconcellos e Camila Amorim

Edição: Alice Pavanello e Luciana Carvalho

 

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