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Como dança a bailarina que não escuta 



Joana é uma adolescente surda que se destaca na sua dança, mesmo sem ouvir a música 

Texto: Brenda dos Anjos e Eliege Gomes

Não é equívoco enxergar a dança como uma arte intimamente ligada à música. Quando uma bailarina dança no palco, é comum haver uma orquestra a acompanhando, já que a bailarina dança a música. Mas se a bailarina não ouve, é possível dançar?  

A resposta pode ser encontrada em Frederico Westphalen, junto à estudante de 15 anos, Joana Mazzonetto, que possui uma grande perda auditiva. Mesmo assim, Joana dança há mais de 10 anos e, em outubro, ganhou com sua turma o terceiro lugar na categoria juvenil de dança em grupo no Panambi em Dança de 2022, onde ela também apresentou uma coreografia solo.  

Mas essa não é a primeira vez da bailarina no palco. Joana iniciou as aulas de balé com quatro anos e, após um período, foi convidada para ser solista. A realização já era prevista por sua mãe, Aline Mazzonetto, quando visitava a filha prematura na UTI e dizia: “ela vai sair daqui, ela vai ser linda e vai ser bailarina”. 

A bebê nasceu de 25 semanas e, durante o tempo que ficou sob cuidados médicos e ligada a aparelhos, a recém-nascida sofreu convulsões e parada cardíaca. Após 80 dias, Aline finalmente conseguiu levar sua primogênita para casa. Apenas um tempo depois foi percebida uma perda severa na audição de Joana, efeito colateral dos medicamentos utilizados na UTI. 

Foto: Arquivo pessoal

 Somente no Brasil vivem mais de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, segundo dados do IBGE. Esse número tende a aumentar assim que for divulgado o último censo, realizado no ano de 2022. Por conta da numerosidade e da falta de inclusão, muitas pessoas com surdez se reuniram no que se chama de “Comunidade Surda”, da qual também fazem parte seus apoiadores não surdos, como tradutores, professores e familiares.  

A luta pelos direitos dessa comunidade começou no século XIX, quando o professor francês Eduard Huet, também surdo, foi convidado por D. Pedro II para vir ao Brasil e fundar o “Imperial Instituto de Surdos Mudos”, a primeira escola para surdos do país. 

Desde então, a inclusão dos surdos tem avançado lentamente, o que também envolve o campo da educação. Só em 2002, o Brasil passou a ter uma língua de sinais (a Libras) e apenas cinco anos depois foi lançado um projeto governamental para que professores fossem formados de modo a incluir pessoas com deficiências. Atualmente, o curso de Pedagogia e as licenciaturas contam com aulas de Libras e incentivam a educação bilíngue, tanto da língua portuguesa, como da língua de sinais.  

Foto: Arquivo pessoal

Joana é uma surda oralizada e faz uso de aparelho auditivo que a auxilia a escutar um pouco, mas boa parte da sua compreensão ao falarem com ela vem a partir de leitura labial. O que se tornou um problema durante a Pandemia de COVID-19, momento em que as pessoas precisaram usar máscaras, inclusive no estúdio de balé.  

Dentro da sala, quando todas as aulas precisavam seguir as medidas protetivas, apenas a professora ficava sem máscara para incluir Joana. Foi nessa época também que começaram a surgir os primeiros passos da coreografia que mais tarde ganharia terceiro lugar na competição de dança.  

Esse resultado acalma a mãe, pois, mesmo ciente das capacidades da sua filha, ela não consegue espantar alguns receios. “Uma preocupação com o grupo é que às vezes ela pode não conseguir ouvir alguma parte da explicação da professora e os outros apontarem isso caso não ganhassem alguma coisa. Mas ela conseguiu acompanhar”, diz Aline sobre a coreografia premiada no Panambi em Dança do grupo juvenil do qual Joana faz parte. 

Joana conta que gosta de dançar com suas colegas da turma de balé, mas é no solo que ela se encontra, “eu acho que dançar ajuda a mostrar as coisas que eu gosto”. Sem ouvir a música, mas a sentindo através da batida, a bailarina entra no palco e executa as coreografias sorrindo do começo ao fim. Ela diz que fica nervosa e sente um pouco de vergonha antes da sua entrada, mas dançar a faz muito feliz. 

Aquela bebê prematura que passou quase três meses na UTI já conseguiu superar as expectativas de sua mãe, crescendo uma criança forte. Agora, ela ultrapassará mais uma vez os desejos que sua protetora, pois além de querer ser dançarina, Joana quer dar aulas de dança. E isso acontecerá em breve, já que ela irá iniciar seu treinamento para ser professora de balé. “Agora que eu vou começar a trabalhar de monitora quero ajudar as pequenas. Eu estou feliz de começar.” 

 

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