Ir para o conteúdo Agência Da Hora Ir para o menu Agência Da Hora Ir para a busca no site Agência Da Hora Ir para o rodapé Agência Da Hora
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

O valor de uma vida



O relato de um pai na luta por mais leitos de UTIs Neonatais no Rio Grande do Sul

Texto: Fernando Simonet, Jônathas Grunheidt, Thayssa Kruger e Victória Veiga

Clayton segurando Rhavi recém-nascido. Foto: instagram aunp_rs

“A realidade é pior quando a gente sente na pele”, relata o presidente da Associação em Prol da UTI Neonatal e Pediátrica do Rio Grande do Sul (AUNP-RS),  Clayton Braga Correa. Ele tem 36 anos, mora em Frederico Westphalen (FW) há quatro e trabalha como segurança do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS). Clayton tem uma filha de sete anos chamada Sophia do primeiro casamento que mora em Arroio Grande-RS, mas foi seu segundo filho, Rhavi, quem o fez passar por uma experiência que desencadearia a criação da organização em setembro de 2022.

Rhavi nasceu em uma quinta-feira, dia 23 de junho de 2022, no Hospital Divina Providência (HDP) em Frederico. “Meu filho Rhavi teve um bom parto, mas na mesma noite vi que tinha algo de errado”, lembra Clayton. Após ter alta no sábado, a família voltou para casa, mas precisou retornar ao hospital após o bebê começar a se afogar e vomitar durante a amamentação. Não sabiam se era uma infecção ou obstrução alimentar.

Como o HDP não possuía a estrutura necessária para ajudá-lo, Clayton solicitou um leito de UTI Neonatal, que foi negado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Isso fez com que ele entrasse com uma ação judicial, rapidamente aceita pelo TJRS, o qual estabeleceu um prazo-limite de 12 horas para a demanda ser cumprida. Três horas após a data-limite estipulada, foi concedido um leito no Hospital Nossa Senhora da Conceição, localizado em Porto Alegre. 

A UTI Neonatal busca atender recém-nascidos que estejam em situação grave durante os primeiros 28 dias de vida, diferente da UTI Pediátrica, que assume essa função após esse período e pode atender até os 18 anos de idade.

Clayton alega dificuldade e tempo de espera em excesso ao agendar um meio de transporte e expõe divergência com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que queria mandar uma ambulância para transportar Rhavi até POA, o que levaria muito tempo. Foi concedido um suporte aéreo vindo do Aeroporto Internacional Salgado Filho, e a família conseguiu transportar o filho até o Hospital Conceição. “A vida não espera uma hora para ser salva”, acrescenta o presidente da AUNP.

Uma grande infecção foi descoberta durante a estadia de Rhavi no hospital,  e ele permaneceu na UTI durante nove dias para tratamento, tempo em que foi muito bem atendido pelo corpo médico, segundo o pai. Ele diz que teve sorte e, em paralelo, cita um caso que acompanhou de perto, no qual, após oito tentativas falhas de agendamento, um bebê de cinco meses foi a óbito.

Para Clayton, o investimento na área é inexpressivo há anos. Segundo o DataSUS, apenas 339 leitos de UTIs neonatais estão habilitados no Rio Grande Do Sul (RS), e os municípios mais próximos de Frederico Westphalen que possuem leitos são Erechim, Ijuí e Santa Rosa, os quais estão a 170 km de distância.

O número de leitos de UTIs neonatais existentes ou totais no RS, que também engloba os temporariamente desativados e da iniciativa privada, já atingiu 550, mas conta com 498 em 2022, o que revela uma queda de 2% em dez anos. Já os leitos habilitados, relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS), registram queda de 10,7%. Entre 2012 e 2013, o número permaneceu em 380, de 2017 a 2019 se manteve em 352. Nos últimos três anos, o número de leitos estagnou em 339.


Dados somados de UTIs neonatais no RS a cada dezembro, desde 2012. Fonte: DataSUS. Foto: Engin_Akyurt pixabay

O pedido por um leito é enviado para a Central de Regulação Hospitalar, onde os médicos avaliam a gravidade do estado de saúde do bebê. Mas eles estão há muitos quilômetros de distância, razão pela qual a Associação busca implantar um hospital na cidade de Frederico Westphalen, explica o presidente da AUNP. Ele revela que o futuro Hospital Regional da Criança contará com recursos federais que auxiliarão na implementação de 30 leitos de UTI neonatal e pediátrica. Além de contribuir com a assistência necessária nos casos em que a internação em uma UTI neonatal é essencial, a Associação vem promovendo passeatas a favor da implantação do hospital na região Noroeste do estado.

O projeto é feito em parceria com uma empresa de Santa Catarina e pretende utilizar o modelo de Hospital Escola, seguindo o plano do Hospital Público Regional (HPR) de Palmeira das Missões na Assembleia Legislativa, que inclui leitos de UTI Neonatal, Pediátrica e Adulto. O Hospital Escola é um hospital cujo atendimento é gratuito ou de custo bastante reduzido, porque os pacientes são atendidos por profissionais em formação que recebem a orientação de professores. A construção do HPR se iniciou em 2019, mais da metade já está concluída, porém dificuldades financeiras ocasionaram a paralisação da obra em novembro de 2022.

Em 2023, a Associação planeja percorrer cidades por todo o Rio Grande do Sul, entre elas Pelotas, Caxias do Sul, Uruguaiana e Alegrete. As passeatas tratam de mostrar os dados de ocupação das UTIs e realizar mobilizações em frente às Câmaras de Vereadores e praças. O pai do menino Rhavi, que completa 6 meses de vida em janeiro, diz que alguém precisa falar pelas crianças. 

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-825-707

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes