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Drag Queens: arte, resistência e celebração da diversidade



Texto: Gabrieli Ferla e Thayssa Kruger

RuPaul – Via Pinterest

Dressed As Girl

A arte de se vestir ou se montar em drag é muito mais antiga do que se pode imaginar inicialmente. Apesar de existirem poucos estudos que explorem a história das drag queens e suas trajetórias nas diferentes sociedades e períodos, sabemos que, pelo menos, desde a Grécia clássica até os dias atuais, homens personificam a imagem feminina em diversos aspectos.

O teatro grego, berço da atuação, é considerado por muitos um dos precursores dessa forma de performance, ou então o local que popularizou o ato. Há inclusive um boato de que Shakespeare foi o responsável pelo termo “drag”, que vem de “Dressed As Girl” – ou “vestido de menina”, em tradução livre. Inicialmente, os homens precisavam se vestir e interpretar mulheres em peças teatrais porque a presença feminina nos palcos era proibida.

Roger Baker, em seu livro “Drag: The History of Female Impersonation in the Performing Arts” (1994), afirmou que a liberação de mulheres se tornarem atrizes resultou em um outro tipo de drag, a drag cômica, que exerce a função satírica de dar voz ao indizível perante a sociedade. As “damas pantomímicas”, como ficaram conhecidas, davam grande importância à moda e ao glamour, que ganhavam destaque em suas apresentações. Além disso, esses artistas começaram a ocupar espaços nos Music Halls, onde eram incentivados a cantar, dançar e realizar pequenas cenas cômicas.

 

Um ato político

Via Pinterest

Na década de 1960, o movimento LGBT começou a se unificar e a se fortalecer na luta por direitos. Os jovens homossexuais buscaram uma identidade cultural própria por meio da música, da moda e das gírias. Nesse contexto, os bares gays começaram a ganhar popularidade, e as Drag Queens voltaram a se destacar.

Entretanto, é importante lembrar que, embora hoje ainda exista muito preconceito e discriminação, na década de 1960 isso era ainda mais evidente. Até 1962, relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas crime em todos os estados americanos. Essa falta de equidade de direitos inspirou a revolta de Stonewall.

Nos anos 1960, o Stonewall Inn era um dos mais conhecidos bares gays de Nova York. Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, a polícia realizou mais uma batida no bar, prendeu funcionários e começou a agredir e a levar sob custódia alguns frequentadores travestis e drag queens que não estavam usando ao menos três peças de roupa “adequadas” ao seu gênero, como mandava a lei. O caos foi instalado, e o que poderia ter sido só mais uma batida policial se tornou uma rebelião que ficou conhecida como “A Revolta de Stonewall”. Esse movimento inspirou a criação das primeiras organizações LGBTQIAP+ nos EUA, como a Frente de Liberação Gay, e também é a origem da data que celebra o dia e mês do orgulho LGBTQIAP+.

Desde então, as drag queens têm sido consideradas uma forte representação da resistência da comunidade LGBTQIAP+. Persephone Ephemera Pepper afirma que gosta muito de dizer que drag é um corpo-bandeira. Para a artista, ter uma pessoa montada em drag na frente é o mesmo que ter uma bandeira. “Talvez eu confie mais em um espaço que tem uma drag do que em um espaço que tem uma bandeira LGBT, porque é uma demarcação, né? Aqui a gente não só aceita, a gente não só tolera, a gente ama, a gente se importa com essa comunidade”, reitera Pepper.

Persephone Ephemera Pepper é interpretada por Jeanne Martins Speckart, que começou a se montar em 2015, aos 17 anos, inicialmente por diversão. A ideia surgiu em um evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de Blumenau (SC) – na época, Fundação Cultural de Blumenau. Junto com Eva Pepper, uma drag queen experiente e consolidada na pequena cidade, a artista ajudou a construir a Família Pepper, com o intuito de incentivar os jovens a se montar.

Persephone Ephemera Pepper – Via arquivo pessoal

 

Cover Girl: representatividade na mídia

Myah – Via Instagram

Na década de 1990, surge RuPaul, um homem negro, alto, de peruca loira, e com a aparência de uma top model. A artista começou a se destacar na cena cultural LGBTQIAP+ de Nova York por suas performances em boates gays. Aos poucos, foi ganhando espaço na mídia e se tornando uma referência para toda a comunidade. RuPaul passou a aparecer em uma grande variedade de programas televisivos, filmes e álbuns musicais. Além disso, seu hit “Supermodel (You Better Work)” alcançou o segundo lugar na Billboard, parada musical estadunidense.

Em 2009, RuPaul se tornou apresentadora do reality show RuPaul’s Drag Race, onde drag queens de todo os Estados Unidos competem pelo título de próxima drag queen superstar, exibindo suas habilidades artísticas, desde atuação até a confecção de vestidos de alta costura. Além de divulgar a cultura LGBTQIAP+ para milhões de pessoas ao redor do mundo, o programa inspirou diversas artistas a iniciar suas carreiras como drag queens, incluindo nomes como Pabllo Vittar e Gloria Groove.

RuPaul não foi a primeira artista drag a fazer sucesso no Brasil: figuras como Vera Verão e Suzy Brasil já estavam presentes na televisão nas décadas de 1980. No entanto, RuPaul’s Drag Race se destaca por dar visibilidade a diversos formatos de drag, rompendo com o estereótipo super feminino ou cômico. Malcon Bauer, ator, performer e criador de conteúdo nas redes sociais, enfatiza que o conceito do que é uma drag está se ampliando significativamente. Segundo ele, “antes a gente tinha muitas coisas: ‘ai, mulher não pode ser drag, né? Homem hétero não pode ser drag.’ Todo mundo pode ser drag.”

Foi a partir do contato com o programa que Victor Oliveira conceitualizou Myah. “Eu comecei a assistir drag race em junho. E no final, assim, do ano eu já tava comprando as coisas na internet e no início de 2019 eu já comecei a fazer drag”, conta Oliveira.

 

Mas afinal, o que é drag?

Lady de Rosas – Via Instagram

Liberdade, expressão e ato político: essas foram algumas das palavras utilizadas por nossas entrevistadas ao descreverem a arte drag. Na visão delas, a drag é uma forma poderosa de manifestar identidade e desafiar normas sociais, permitindo que indivíduos se libertem das amarras impostas pela sociedade e explorem sua verdadeira essência. “A arte drag é como um portal de acesso para a minha imaginação. Então, o que eu imaginar, o que eu quiser me transformar, independente do gênero, independente de qualquer coisa, é através da arte drag que eu consigo. Porque a arte drag, em si, é uma arte que abrange todas as outras artes”, afirma Oliveira.

A arte drag vai além de se montar e exibir suas habilidades artísticas, mas também faz uma declaração política. Em um mundo onde a opressão e a discriminação ainda são realidades, a drag se destaca como um ato de coragem e de reivindicação de espaço. “A drag conta a história da população LGBT com a população LGBT”, declara Speckart.

A drag possui também o poder de unir comunidades e criar espaços seguros para pessoas LGBTQIAP+. Em clubes, palcos e redes sociais, drag queens oferecem apoio, inspiração e visibilidade para aqueles que ainda buscam autoconfiança. “Com a Lady de Rosas, eu sinto uma liberdade para ser eu como nunca. Quando eu estou como Lady de Rosas, as coisas que eu falo, a liberdade que eu sinto de me expressar tem a ver com essa figura, que me permite”, afirma Bauer.

 

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