Esta não é uma matéria sobre sexo.
Por: Teresa Vitória
Teresices – 1/12
Quando surgiu a oportunidade desta coluna, passei dias pensando sobre o que escrever. O primeiro tema de uma série de 12 textos sobre o que se passa na cabeça de uma garota ao encarar o mundo. A proposta do “Teresices” era entregar matérias sobre moda, música, sexo ou cultura pop — tanto para o professor quanto para as minhas possíveis três leitoras: minha mãe e minhas duas melhores amigas, que estão do outro lado do país.
Mas sobre o que escrever como primeira impressão digital no mundo e nessa temática? O lançamento do álbum deluxe da Ariana Grande, injustiçado no Grammy? O movimento “boy sober” que muitas mulheres estão adotando (inclusive, estou pensando em entrar para o time delas)? Ou o aniversário da criação da minissaia e como isso não só mudou o mundo da moda, mas vidas? (A minha, pelo menos.)
Como primeira matéria, eu queria algo que fosse lembrado por mim. Algo com vivência pessoal. Eu não estava ao lado da Ariana Grande quando ela escreveu o álbum — mesmo parecendo que ela estava debaixo da minha cama ouvindo meus desabafos. Também não estava lá em 1965 ajudando a criar a minissaia. E o movimento “boy sober”? Apesar de os homens terem, sim, caráter duvidoso, eu gosto deles e não consigo ficar muito tempo longe. São como uma droga deliciosa.
Foi aí que me vi como a Carrie Bradshaw de “Sex and the City”: uma jornalista, sem muita grana, morando sozinha em outra cidade, com vício em compras e possível alcoólatra tentando escrever sua coluna — mas sem falar sobre sexo logo de cara e sem o glamour da Nova York dos anos 90. Uma coisa, no entanto, percebi que a Carrie tem (além dos problemas de idas e vindas com o Mr. Big): ela criou uma família. Não uma família convencional, mas sim Charlotte, Miranda e Samantha — outras três mulheres que também moravam sozinhas e estavam construindo suas próprias vidas e carreiras longe do ninho.
E aí me toquei: se não fosse a “família” que criei morando sozinha nesses quatro anos de graduação, eu não teria sobrevivido. Suas amigas se tornam a parte mais essencial do seu amadurecimento e da experiência de começar a construir sua vida. São elas que te pegam no colo quando o mundo parece acabar, que puxam sua orelha porque se importam, que riem alto nas noites de pijama com vinho e desastres pessoais, que fazem brigadeiro de panela quando alguém tá de coração partido — e, mais importante, que estão do seu lado em uma cidade estranha, sem o colo da mamãe, nesse momento de transição entre ser menina e virar mulher.
Sou uma grande fã da solitude. Acho que aprender a estar sozinha e gostar da própria companhia é, além de essencial, uma delícia. Mas saber que existem pessoas em quem você pode confiar — seja para escolher a roupa de sábado ou para dizer que aquela relação está te fazendo mal — é libertador. E o melhor: saber que, se você sair dessa relação, elas ainda vão estar lá.
A gente vira um mosaico de cada uma das mulheres que passaram pela nossa vida. Assim como somos mosaico daquilo que consumimos como cultura ou estilo. Eu me tornei esse mosaico vivo — das amigas que ficaram e das que já foram. Seja por terem me apresentado um novo sabor de sorvete, que virou meu pedido de sempre na sorveteria das tardes quentes, ou por terem me indicado Sex and the City, músicas, filmes e até marcas de gloss. Se hoje estou aqui, às vésperas de me formar, escrevendo esta coluna, é porque no meu mosaico existiram amigas incríveis que foram lar pra mim.
É normal se sentir perdida nos seus 20 e poucos anos. Elas também estão perdidas. Parafraseando Samantha Jones, minha personagem favorita da série: “somos como cegos em um tiroteio, guiando umas às outras.” E a mágica é que, nesse tiroteio, você pode pedir ajuda. Não há problema em errar, desabafar, aprender, rir de si mesma. Errar de novo. E rir de novo.
O que você precisa saber é: suas amigas vão se tornar sua família escolhida. E a saudade de casa, a pressão da responsabilidade, a vontade constante de desistir e o peso do dia a dia se tornam mais leves. Tudo isso graças a outras mulheres que fazem parte do seu mosaico — e você, do delas. Pode acreditar.
Essa primeira matéria era pra ser sobre cultura pop, mas acabou se tornando uma carta de amor. Às vezes, nossas amigas são nossos primeiros grandes amores, muito antes de qualquer homem. A jornada dos 20 e poucos anos fora de casa é sobre esses amores. Eu acredito que nós mesmas devemos ser nossos príncipes encantados, nos salvar da torre e do dragão, sozinhas, por nós mesmas. Mas nossas amigas são nossas fadas madrinhas: são elas que colocam o verdadeiro sapatinho de cristal em nosso pé e nos acompanham no baile.
E assim como a Carrie Bradshaw tem suas meninas — mesmo sendo cabeça-dura e ignorando os conselhos delas sobre o Mr. Big por muitas temporadas — eu também tenho as minhas. Afinal, nem “Sex and the City” foi, de verdade, sobre a Carrie e o Big ou sobre a Nova York dos anos 90. Sempre foi sobre elas: as amigas.
No fim desse texto, que eu achava que teria apenas três leitoras — minhas amigas de casa —, talvez tenha muito mais. Porque eu me tornei um mosaico das minhas amigas daqui, dessas mulheres que passaram por mim. E espero que, ao final dessas 12 matérias, vocês também me encaixem como uma pecinha no mosaico de vocês, meninas.
Beijinhos,
Tere.
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para todas as mulheres que moldaram meu caminho nesses 4 anos, em especial para Giulia, Maria Mariana e Caroline.