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Memorabilia: quinquilharias, garimpos e memórias



Por: Vanessa Carvalho

Moedas antigas de diversas partes do mundo fazem a coleção dos numismatas. // Foto: Vanessa Carvalho

garimpar (*)

verbo

  1. trabalhar como garimpeiro; extrair (metais, pedras preciosas), explorando garimpo.
    “está garimpando (diamantes) lá para as bandas de Minas Gerais”
  2. figurativo: procurar meticulosamente.
  3. figurativo: fazer seleção de (coisas valiosas), a partir da coleta ou reunião de determinado material.
    “garimpou os melhores textos na coleção de revistas”

(*) Fonte: Dicionário Oxford online

 

Garimpeiros de objetos dos mais diversos em lojas como antiquários, brechós, bazares, feiras de antiguidade ou leilões virtuais. O ato do garimpar descrito no dicionário Oxford: “procurar meticulosamente”. Às vezes, como em um garimpo, acontece de estar metido em meio à poeira. Acontece. Porém, o nicho de mercado de objetos usados é tão especializado que está organizado segundo os produtos vendidos, além da demanda alta que faz com que tudo esteja em perfeitas condições à venda. Ter um produto antigo original, muitas vezes, é uma relíquia e precisa receber os cuidados como tal.

Dados do Sebrae de 2023 indicam que o Brasil tinha mais de 118 mil brechós ativos, um aumento de 30,97% nos últimos cinco anos. O consumo de produtos de segunda mão é impulsionado por fatores como sustentabilidade e economia, além de possibilitar a aquisição de produtos únicos e com memórias ligadas a ele. O colecionismo também é um fator que leva a busca por lojas de artigos usados. As coleções recebem uma nomenclatura específica no mundo do colecionismo, segundo o tipo de objeto – por exemplo, filatelia para selos de cartas (veja mais no glossário).

O empresário chinês Marshall Wang costuma garimpar gravatas e relógios antigos (vintages) e os encontra em um site Xianyu que vende produtos usados, como um tipo de eBay que funciona na China. Ele conta que a procura pelos itens deve-se à unicidade que eles proporcionam. “Gosto de tecidos e motivos vintage que trazem inspiração e um aconchego nostálgico à minha vida”, explica. Sua posse mais preciosa garimpada no site é um relógio automático da marca Ômega de Ville. Marshall conta: “um ótimo negócio e uma peça subestimada, meio surrado, mas cabe perfeitamente no meu pulso”.

 

Quinquilharias e histórias

Vinil em formato de coração garimpado por Yasmin. // Fotos: Arquivo pessoal/Yasmin Silva

Os motivos para buscar objetos e quinquilharias em lojas de usados variam de fatores como economia e sustentabilidade a questões afetivas. Às vezes a própria ação de garimpar é motivo suficiente pela satisfação que a atividade traz. A estudante Yasmin Silva, em Imperatriz (MA), costuma visitar brechós de roupas, antiquários, sebos de livros pela questão de acessibilidade financeira, reutilização (3Rs) e pela possibilidade de encontrar itens que não estão mais disponíveis facilmente no mercado. “Geralmente gosto de procurar por brechós de roupas, na verdade tudo se iniciou nos brechós de roupas, então vieram os sebos de livros, e os antiquários, quase como se fosse uma espécie de esquema de pirâmide. Esses são meus focos primários, roupas, acessórios, livros e itens que me chamam a atenção, tipo CDs antigos”, conta Yasmin.

Memorabília adquirida por Victor em antiquários e a poltrona que pertencia a seu pai. // Fotos: Arquivo pessoal/Victor Oliveira

O advogado Victor Oliveira de Marataízes (ES) conta que, juntamente com sua esposa, gosta de visitar feiras de antiguidades que acontecem mensalmente em Vitória, além de visitas frequentes a antiquários em busca de utilitários, como móveis e objetos de decoração. A busca envolve até mesmo ir a lugares mais distantes como, por exemplo, viajar aproximadamente 120 km até Campos dos Goytacazes (RJ) para adquirir uma escrivaninha para trabalho e uma penteadeira antigos. A escolha por comprar nesses lugares é motivada pela estética das coisas e pelos sentimentos afetuosos que alguns objetos evocam. Victor conta que agora a procura é de móveis para “montar” a casa como recém casado, mas que o gosto por garimpar é antigo. “Desde a infância, eu já era interessado em coisas antigas. Quando criança gostava de moedas antigas, o que pedia pro meu pai à época, e quando adolescente frequentava muito sebos, de onde tirei a maioria dos meus livros que tenho hoje. Também sou colecionador de LPs e CDs – que comecei comprando quando ainda não eram objetos de memorabilia”, lembra Victor.

O designer Vinícius Cadore, de Porto Alegre (RS), gosta do ato de garimpar. “Eu gosto de às vezes entrar, ficar meia-hora e não achar nada, e tá tudo bem. Acho que tu tá ali, fisicamente vasculhando, é divertido”, conta. Ele gosta de procurar em feiras que acontecem periodicamente na cidade, em antiquários e brechós. Entre suas preferências estão roupas, utensílios de cozinha, discos de vinil e objetos de decoração, sempre atento às boas ofertas. Em uma dessas visitas, Vinícius conta que conseguiu garimpar uma cafeteira moka italiana bem antiga, “ela é dum tamanho individual, é para uma pessoa, serve uma caneca, ela é toda redondinha e ela foi feita na Itália também. E aí essa eu paguei muito barato e tipo foi oportunidade, eu olhei e falei: “Meu Deus, é uma moka”. Eu disfarcei para não mostrar entusiasmo, para o cara não querer me meter a faca. Olhei e perguntei: “Ai, quanto é? É R$ 15”. Eu: “Beleza”. Aí eu segurei e fiquei procurando outras coisas e falei: “Tá, vou levar”.”

A camisa do Mundial de 2006 do Internacional no Japão e os pés de pato garimpados. // Fotos: Arquivo pessoal/Ruann Carlos

O preço acessível e a unicidade das coisas é o que mais atrai o designer Ruann Carlos, de Pelotas (RS). “Ah, eu gosto de comprar pelo preço, óbvio. Mas eu gosto de comprar porque tem coisas tipo que elas são mais, como é que eu diria, únicas. Eu acho que eles têm um valor mais especial assim. Tanto que eu adoro as minhas peças, as minhas roupas e as coisas que eu compro, porque elas são peças únicas, é muito engraçado, tipo, ninguém tem”, conta Ruann. Em suas buscas, seus olhos são atraídos por utensílios domésticos, como louças e objetos de decoração, além de roupas para uso próprio e para manter um brechó virtual que possui no Instagram. A ideia é dar uma vida nova para peças que estão esquecidas em bazares e colocá-las novamente para uso, além de facilitar com o trabalho de curadoria para pessoas que não possuem o “dom” e hábito de garimpar. Às vezes Ruann compra coisas aleatórias, mas que acabam tendo uma utilidade, como um pé de pato que comprou em um verão e acabou sendo utilizado em suas aulas de natação.

 

Coleções e memórias

Vinícius Cadore coleciona discos de vinil e gosta de comprar utensílios para casa. // Fotos: Vanessa Carvalho

 

Dos garimpos e quinquilharias nascem coleções, e os objetos, que já carregam em si histórias, recebem novos significados e memórias com seus novos donos. A estudante Yasmin Silva gosta de colecionar diversos objetos. “Tenho um impulso grande a respeito, geralmente miniaturas de carros, brinquedos pequenos, chaveiros, cartas, desenhos e por aí vai”, lembra. Das coisas que possui, destaca um conjunto de xícaras de um leilão de antiguidades como uma das coisas mais antigas que adquiriu, além de um pijama longo de cetim que comprou há mais de 10 anos e é muito estimado.

O designer Vinícius Cadore tem uma pequena coleção de discos de vinil garimpados em diferentes oportunidades. “Eu tenho uma coleção pequena, mas eu nem tenho toca-discos, para você ter uma ideia, então realmente é uma coleção, porque eu gosto de alguns álbuns específicos”, conta. Cada objeto que adquiriu o faz lembrar de pessoas, ocasiões e situações associados a eles, como uma bandeja de cerâmica que comprou para um jantar com amigos, que traz a recordação do momento específico.

Louças antigas estão entre os itens mais procurados em feiras de antiguidade. // Foto: Vanessa Carvalho

O designer Ruann Carlos gosta de garimpar e colecionar peças de roupa. Como item especial de sua coleção, ele mostra uma camiseta do Mundial do Internacional de 2006 em Yokohama, no Japão. “É um item raro, ele tá escrito até em japonês aqui na frente. É uma camisa que eu não consegui vender, eu peguei ela para o acervo, que no caso são minhas roupas. Eu olhei, peguei a peça, comprei. Eu pensei: “Pára, essa camiseta é muito incrível”. E aí, no início eu pensei: “Vou vender”. E aí em seguida eu pensei: “Pára, não, jamais vou vender essa camisa, eu vou ficar com ela. Eu nem torço pro Inter, mas eu adoro aquela camisa. Adoro usar ela!”.

O advogado Victor Oliveira gosta de colecionar desde os 7 anos de idade, quando começou sua primeira coleção séria de cartões telefônicos usados, tendo mais de mil cartões até o momento. Gosta também de comprar discos de vinil sempre que possível para manter sua coleção. Dos objetos que possui, um dos mais antigos e talvez estimados seja uma poltrona comprada pelo seu pai nos anos 80, “que recentemente reformei pra ficar na minha casa depois que me casei, pela memória do meu pai mesmo, que faleceu recentemente”.

 

Antiquários e ovos de dinossauros

Cartaz do documentário “Ovo de Dinossauro” produzido por Duda Ribeiro.

É certo que antiquários estão repletos de objetos com muitas histórias boas para serem contadas e carregam consigo valor e memórias de seus antigos donos. Porém, algumas histórias conseguem ser ainda mais peculiares, como a do “ovo de dinossauro” do Antiquário Gaúcho que o professor de Jornalismo e Relações Públicas da UFSM, Duda Ribeiro, conta em seu documentário Ovo de Dinossauro, a ser lançado em 2026.

A ideia surgiu quando Duda se formou em Cinema na UFPel. Ele queria fazer um documentário sobre algo típico de interessante que havia na cidade enquanto estava morando em Camaquã, no interior do Rio Grande do Sul. Em princípio, a ideia era documentar a lenda gaúcha das “burras”, que eram os tesouros enterrados por estancieiros durante as revoluções. Como contam os causos, na época os bancos não eram lugares seguros, e os estancieiros teriam o hábito de esconder os tesouros em “burras”, que são potes de barro para serem enterrados em algum lugar.

Essa história era contada por um tio de Duda, mas, devido ao seu falecimento, ele acabou então procurando o antiquário na cidade por indicação de um senhor que também partilhava do interesse de fazer um filme que se passasse em Camaquã. Ao ter contato com o Sr. Maximiliano, notou que ele tinha boas histórias sobre as “burras”, mas a narrativa acabou sendo direcionada para um objeto específico que foi encontrado em uma “burra”, uma pedra perfeitamente oval e que, segundo ele, se trata de um ovo de dinossauro petrificado. Essa história dá nome ao documentário.

 

Glossário de termos

 

As coleções de objetos recebem nomes de acordo com o tipo de item e algumas lojas acabam se especializando na venda de um segmento de colecionismo.

Numismática: refere-se a coleção de moedas. O colecionador é chamado numismata.

Filatelia: coleção de selos de cartas. Quem coleciona é filatelista. É uma das formas de colecionismo mais antiga e difundida.

Cartofilia: coleção de cartões-postais. O colecionador é cartofilista.

Notafilia: coleção de cédulas (moeda-papel). O colecionador é o notafilista.

Discofilia ou vinilofilia: coleção de discos ou vinil. Quem coleciona é discófilo ou vinilófico.

Militaria: coleção de peças militares (roupas, armas antigas, medalhas). Quem coleciona é mitarófilo.

Memorabília: objetos, itens ou artigos colecionáveis associados a pessoas, eventos, lugares ou épocas importantes, e que carregam um valor sentimental ou histórico significativo.

 

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