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Maré Tardia, sinestesia, Sem Diversão Pra Mim e movimento DIY



Por: Vanessa Carvalho

A banda capixaba Maré Tardia faz uma verdadeira moqueca de estilos musicais. // Foto: Reprodução

Domingo, 29 de junho de 2025. Acordei com Leviatã, da Maré Tardia, repetindo incessantemente em minha cabeça (em especial o som das guitarras). O tal earworm que os gringos cunharam, traduzido literalmente como “verme de ouvido” ao português, designa aquela música que gruda nos seus ouvidos e se recusa a sair.

O álbum Sem Diversão Pra Mim, da banda capixaba Maré Tardia, lançado no final de abril, tem um som eletrizante que gruda lá nos ouvidos e te faz repetir dias depois “sem diversão pra mim (hoje não!)”. Segundo álbum da banda de Vila Velha, o som mostra um amadurecimento sonoro do grupo. Vozes intercaladas entre Gus Lacerda (guitarra e vocal) e Bruno Lozório (guitarra e vocal), as linhas de baixo de Matheus Canni e a bateria enérgica de Caio “Vazo” Mendonça.

As 10 faixas distribuídas em pouco mais de 30 minutos dão conta de mostrar a potência musical do grupo. Com sons que bebem nas fontes do punk, surf rock, post-punk e vanguarda brasileira, por exemplo. Explorando de forma crua e sem cerimônia os mais diversos temas, as músicas passeiam por anseios, angústias, amores, indagações e o elemento mundano do viver humano.

O processo de produção (da pré até a pós) tem as mãos de todos os integrantes, que se envolvem na escrita, gravação, produção e até distribuição do álbum. O movimento DIY (Do It Yourself – faça você mesmo) na música, cunhado nos anos 1950 e propagado como filosofia nos anos 1970 pelo movimento punk, pode ser percebido como uma das vertentes da Maré Tardia como banda indie rock no cenário capixaba e brasileiro.

A banda, que nasceu em 2019 co-fundada por Gus e Bruno, chega ao seu sexto ano de atividades mais potente com um trabalho autoral impecável e cativante. É fácil gostar da Maré Tardia se você gosta de música brasileira. Alguma música vai conversar intimamente com você, pela letra ou pela melodia. Quando antes você imaginar, estarás a dançar e cantarolar algum trechinho.

A imprevisibilidade do que está por vir na próxima faixa é o elemento que mostra um amadurecimento musical da Maré Tardia e a coloca de vez no mapa brasileiro de bandas para ficar de olhos bem abertos. A única certeza mesmo é de que ainda vem muita coisa boa por aí.

 

Álbum “Sem Diversão Pra Mim”, lançado em abril de 2025, tem a capa ilustrada pelo artista capixaba Gustavo Moraes. // Foto: Reprodução

Dissecando o álbum “Sem Diversão Pra Mim”

Faixa 01. Leviatã

Impossível não ouvir o som das guitarras ecoando dentro da cabeça tempos depois de ouvir o álbum. Foi assim que acordei naquele domingo e percebi de onde eram os riffs que se repetiam e cantarolava inconscientemente. Abre o álbum já dando uma boa prévia do que está prestes a desenrolar nas faixas seguintes.

Faixa 02. Já sei bem

A voz do Bruno começa a amaciar os ouvidos após a potência vocal do Gustavo em Leviatã. O ritmo frenético te coloca pra dançar, nem que seja balançando as mãos de um lado pro outro.

Faixa 03. Sem diversão pra mim

Guitarras potentes, o show à parte da bateria e as vozes intercaladas resumem a música. A faixa que dá nome ao álbum deixa o trechinho “sem diversão pra mim” “hoje não” ecoando por dias. É a primeira música escrita pelos quatro integrantes juntos. Apesar de dar o nome ao disco, diria que não dá a cara.

Faixa 04. Tarde demais

Voz aveludada? Temos. Voz “áspera”/rasgada? Temos. E por “áspera”/rasgada e “aveludada” me refiro à sinestesia das palavras e das vozes. Gosto do contraste de sensações que ‘Tarde demais’ causa. Parece um monólogo de duas versões da mesma pessoa em conflito/debate/discussão.

Faixa 05. Azur

Ouviria essa deitada na praia observando as ondas e sonhando acordada com a vida. Azur seria a trilha sonora do momento. Dá vontade de viver com essa e morar aqui. Arranjo maravilhoso e com um “quê” de surf rock.

Faixa 06. Nadavai

Aqui a dinâmica sinestésica das vozes em ‘Tarde demais’ se repete. As vozes colocam angústia e certo “desespero” repetindo “foi só mais dessa/a última vez”. Repete a dinâmica de um monólogo fragmentado contado por uma pessoa mas que soa como duas versões de um mesmo alguém.

Faixa 07. Ian Curtis

Baixo. Bateria. Post-punk. Sonhar é tão angustiante. Melancolia. Suavidade. Denso. Angústia. Anseios. Vida. Dilemas. Identificação. Solos de guitarra.

Faixa 08. Junkie Food

Eu, que sou fissurada pelo som da guitarra, me senti cativada pelas linhas de baixo do Canni que abrem a música. Talvez a minha top 1 favorita do álbum por ter um pé no noise rock/punk e ser facilmente uma coisa que o Fugazi faria. Gosto do tom destoante e ao mesmo tempo coerente com todas as faixas anteriores. Decadente.

Faixa 09. Não se vá

A música mais “quieta” e inquietante do álbum.

Faixa 10. Nunca mais

Empata com Junkie Food no meu top 1 favoritas do álbum. Deleite do instrumental do início ao fim. Voz incrível do Bruno. Letra impecável. Encerramento da música e do conjunto da obra com um solo fenomenal e uma jam que mostra a potencialidade individual de cada um dos músicos e o produto disso somado e agrupado na Maré Tardia.

 

O álbum “Sem Diversão Pra Mim” e todo o material está disponível em plataformas de streaming. A banda também conta com alguns clipes no canal do YouTube (@MareTardia). Mais informações e para acompanhar os passos do grupo capixaba, acesse o Instagram (@MareTardia).

 

P.S.1: Não querendo vender nosso peixe (porque de peixe/moqueca capixaba entende bem), mas vale muito a pena o play no som da Maré Tardia.

P.S.2.: O cenário do rock capixaba vai bem.

P.S.3.: Ouça: https://open.spotify.com/embed/album/69gy9fo1MRSVHmhRHw4skA

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