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Bota a cara na paisagem



No Brasil, embora haja a adoção de políticas públicas relacionadas à conservação de paisagens consideradas “belas” e “raras”, segundo publicação do professor Oliveira em 2015, ainda são incipientes as iniciativas voltadas para agenciar as paisagens cotidianas, as de zonas vizinhas às cidades, as abandonadas pela agricultura ou mesmo aquelas invadidas pelos equipamentos turísticos, que vêm degradando as próprias paisagens que pretendem divulgar.

A Convenção Europeia da Paisagem é um modelo interessante a ser seguido. Propondo novas estratégias de gestão, proteção e ordenamento da paisagem, ela conta com a validação da maioria dos Estados-membros do Conselho da Europa. Constitui o primeiro tratado internacional exclusivamente voltado para a paisagem e determina que todos têm direito à qualidade nesse âmbito.

Um exemplo de aplicação das propostas dessa Convenção em grande escala, indicado por Oliveira neste mesmo capítulo, é o Parque De La Deûle, situado em Lille, ao norte da França. Em um território pós industrial e degradado o parque – contemplado com os prêmios da Paisagem da França e da Paisagem do Conselho da Europa – demonstra a possibilidade de “inverter” a tradicional relação entre cidade e natureza, determinando como a cidade deve “avançar”.

Para essa reconciliação dos mundos urbano-rural e “natural”, o parque conta com áreas de lazer ligadas às terras agrícolas, além da padronização de limites dessas propriedades. A proteção de ecossistemas e recursos hídricos e a revitalização de canais de drenagem também foram medidas tomadas para o projeto, assim como a implementação de grandes vias estruturantes interligando os espaços seminaturais e semirrurais às áreas urbanizadas. Desse modo, a paisagem determina as áreas urbanas e o planejamento dos espaços livres da cidade determinam como e para onde ela irá crescer.

Avaliando desde outra escala e tomando como exemplo “nosso terreno mais próximo”, ou seja, o da paisagem das universidades, há o campus do arroz na Universidade de Shenyang. Projetado pelo paisagista e professor chinês Kongjian Yu, popularmente conhecido por seu trabalho em defesa da reconstrução da infraestrutura ecológica e definição de uma nova estética baseada na ética ambiental. Veja mais no site http://www.turenscapeacademy.com/

Levando em consideração os inúmeros hectares de terra fértil dos campus da China e seu baixo aproveitamento – assim como no Brasil, onde predominam grandes vazios gramados normalmente pontilhados por esparsos canteiros de flores – Kongjian Yu desenvolveu um projeto de melhor aproveitamento e funcionalidade para essas áreas: um campo de arroz.

O campo de arroz, além de organizar a paisagem do campus, gerar empregos, alimento e renda, proporciona inclusão ao localizar salas de estudo abertas em meio às plantações. Além disso, a água da chuva é coletada para criar um lago que também serve como reservatório para irrigar o campo de arroz em frente às salas de aula.

Esse plantio de arroz nos dá também a possibilidade de questionar, de forma “técnica” nossa relação de supremacia sobre as plantas. O geneticista Alex Kahmn, em uma conferência pública em 13 de novembro de 2004, que comparava a quantidade de genes do arroz e dos seres humanos expôs um ponto de vista inovador aos seus colegas biólogos: “vocês tinham razão, quanto mais evoluído for um organismo mais genes ele terá. Nós devemos nos render a essa evidência, o arroz é mais evoluído que nós”. Pressionado a explicar o paradoxo, ele observou “tentem – disse Alex Kahn – passar sua vida inteira com os pés dentro d’água, tendo como único alimento o gás carbônico e a luz solar. Com toda certeza, vocês não sobreviveriam a isto. O arroz, porém, sobrevive graças ao seu genoma, muito mais complexo que o do ser humano (pois este último, como os animais móveis, vive em condições fáceis e relativamente ao abrigo das intempéries).” Essa história foi contada no livro Ëloge de la plante (p. 322), com tradução de Ana Rosa de Oliveira.

A planta, por ser fixa, enfrenta as adversidades ao invés de fugir delas, diferente dos animais, que o fazem com tanta frequência. Talvez esteja aí a resposta para um convívio mais respeitoso e baseado no auxílio mútuo entre as espécies. Compreender o papel desempenhado por cada ser vivo, sem desmerecer ou inferiorizar qualquer que seja, poderia ser um início. Afinal, aprender a conviver de forma responsável só é possível quando investimos tempo e interesse em nossas relações.

Para saber mais:

YU, Kongjian (Building Ecological Chinese Cities: The need of a big foot Revolution) Regional Outlook Paper: No. 28, 2011.

http://www.turenscapeacademy.com/

HALLÉ, Francis. Ëloge de la plante (p. 322) – tradução de Ana Rosa de Oliveira.

OLIVEIRA, A. R. Paisagens de resistência: práticas de sustentabilidade e conservação da biodiversidade. In (A vegetação nativa no planejamento e no projeto paisagístico), Rio de Janeiro: RioBooks, 2015, págs. 69 – 73

Imagem Parque de la Deûle disponível em:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parc_de_la_De%C3%BBle_P%C3%A2tures_%C3%A0_wavrin.jpg

Imagens campos de arroz de Turenscape Academy em: https://www.turenscape.com/en/project/detail/324.html

Convenção Europeia da Paisagem: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/euro/ue_convencao_eu_paisagem.pdf

http://www.turenscapeacademy.com/

Texto: Mara Patricia Souza Teixeira, Marina de Oliveira Boschetti e Witor Santos Silva

Supervisão: Professora Cláudia Moraes, disciplina Comunicação, Cidadania e AmbienteEspecial para Íntegra

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