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As mudanças do mercado de trabalho e a saúde mental dos universitários



Beatriz Vieira e Leda Evangelista

Já te falaram que para ser “alguém na vida” é preciso ter um diploma universitário? Provavelmente sim. Mas o que ninguém conta é que o caminho para a chegada ao tão desejado diploma pode ser longo e cansativo. Além disso, uma das maiores preocupações é a entrada no mercado de trabalho, que está em constante movimento e isso pode ser assustador para o universitário.

Essa fase da vida do estudante é recheada de desafios e de novas sensações, ali acontece uma troca de papéis. O jovem, que antes era estudante, vai se tornar um profissional para entrar no mercado de trabalho, como comenta a psicóloga da Universidade Federal de Santa Maria, campus Frederico Westphalen, Laís Piovesan. Geralmente, este momento se caracteriza pelo surgimento de sentimentos ambivalentes/conflitantes, como as inseguranças e as expectativas sobre a vida profissional. “É muito frequente a sensação de não estar suficientemente preparado ou então de não ter aproveitado como poderia as oportunidades ao longo do curso”, comenta Piovesan.

Este é o caso de Barluta Sané, estudante do quinto semestre do curso de Biomedicina, na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai (URI). Ba, como gosta de ser chamada, conta que uma de seus maiores medos é se formar sem ter conseguido aprender tudo. “Minha insegurança é justamente essa, de não atingir o que eu queria, de não ter o conhecimento necessário para fazer aquilo, sabe”, confessa a universitária. Ela também aponta sua preocupação de trabalhar em uma área em que não se identifica por não ter certeza sobre o seu emprego no futuro.

A situação do mercado no Brasil

A pesquisadora e socióloga Marilis Almeida, professora da Universidade Federal de Pelotas, explica que o mercado de trabalho vem se recuperando das consequências da pandemia de Covid-19, mas que ele ainda apresenta instabilidade. Por isso, as empresas têm procurado, cada vez mais, empregados que tenham mais experiência prática e teórica. A pesquisadora relembra que, no Brasil, existe uma grande dificuldade para jovens entrarem e permanecerem em um curso superior.

Mas quem são esses jovens? Segundo o site Planalto.gov, são considerados jovens as pessoas entre 15 e 29 anos, o que representa 49 milhões de pessoas dos 214,3 milhões de brasileiros. Cerca de 20% dos jovens no Brasil não estudam e não trabalham, estes são conhecidos como “nem-nem”. Isso acontece porque, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), muitos jovens abandonam os estudos ou nem chegam a frequentar uma escola. A principal justificativa é a necessidade de trabalhar.

Contudo, Almeida pontua que, desde 2014, o mercado vem sofrendo com o desemprego. Ela alerta que outros fenômenos devem ser considerados, como aqueles que gostariam de trabalhar e não conseguem emprego por medo de tentar, pessoas com idade para trabalhar mas que não trabalham e o emprego informal. A socióloga também destaca que, nos últimos anos, a falta de investimento na educação e a desvalorização de algumas profissões acabou por afastar muitos jovens das universidades.

O sonho e a realidade profissional

A indecisão é um fator que influencia na escolha de uma profissão ou de um curso. Como no caso de Ba, que começou a cursar Jornalismo, depois Estética e agora cursa Biomedicina, mas ainda não se achou em nenhuma dessas profissões. A psicóloga Laís explica que isso está ligado ao pensamento de que certas decisões que o jovem toma, em um determinado momento de sua vida, serão para sempre. “As nossas escolhas nem sempre são para a vida toda, elas podem ser escolhidas por um momento e depois não fazerem mais sentido, ele [o estudante]  vai vivenciar aquilo como um grande fracasso e uma frustração”, ressalta.

A especialista ainda conta que a construção da carreira é algo gradual e que leva tempo. Tanto no momento da graduação, quanto no mercado de trabalho, é muito importante que o estudante/profissional mantenha expectativas realistas. Uma coisa muito comum de acontecer é a comparação com profissionais já formados, e uma forma de amenizar isso é se permitir explorar o seu lado pessoal e profissional, lembrando sempre que a construção de cada carreira é individual. Isso quer dizer que é interessante conhecer as possibilidades de atuação e de aperfeiçoamento em sua área.

Outra questão que pode afetar o jovem são as relações sociais, seja com a família, seja com os amigos ou seja com os professores. Alguns estudantes carregam a responsabilidade de dar uma vida melhor aos seus pais. Outros têm dificuldade de se desligar do espaço acadêmico. Esses exemplos demonstram que outros fatores psicológicos devem ser considerados durante a graduação. Por isso é muito importante que as instituições de ensino deem suporte psicológico aos seus alunos.

A URI, universidade de Ba, criou um grupo de apoio para os seus estudantes, coordenado pelas professoras Janara Luzanin e Janaína Corso, do curso de Psicologia. O Programa de Apoio Psicológico ao Universitário (PAPU) abrange todas as demandas psicológicas que os estudantes podem ter, tanto para questões acadêmicas quanto para questões pessoais. “O objetivo dele é realmente, fazer um acolhimento com esse aluno aqui da universidade, promover reflexões, autoconhecimento e, conforme a demanda de cada um, a gente faz encaminhamentos externos”, conta Janara Luzanin, atual coordenadora do projeto. 

Os acompanhamentos são feitos no próprio campus da universidade. Os atendimentos são realizados pelos estudantes do curso de Psicologia, a partir do 6º semestre. Integrar o corpo de atendimento do PAPU é uma forma de fazer estágio, o que pode ser uma forma de ganhar experiência para entrar no mercado de trabalho. Para Luzanine e Corso, a alta procura por ajuda é um sinal de que o projeto está funcionando. Além do PAPU, Corso coordena a Escola de Psicologia, que é aberta à comunidade. 

Trabalhar em estágio é uma grande oportunidade de começar a adquirir experiência antes mesmo de terminar a graduação. A psicóloga Laís pontua que o estudante que realiza um estágio, seja ele obrigatório ou não, consegue ter expectativas mais realistas e uma noção maior sobre como o mercado de trabalho funciona. Da mesma forma, quando o estudante participa de atividades práticas do curso ele tem a oportunidade de encontrar mais possibilidades e alternativas para se encontrar na profissão escolhida.

Frederico Westphalen, RS

*Esta é uma produção laboratorial e experimental, desenvolvida por estudantes do curso de Jornalismo da UFSM Campus Frederico Westphalen. O texto não deve ser reproduzido sem autorização. Contato: meiomundo@ufsm.br.

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