A Ação Água e Sustentabilidade está integrada ao Festival de Arte, Ciência e Tecnologia em sua sétima edição, neste ano os artistas convidados que participaram da mostra são: Alejandra Isler, Alessandra Bochio e Felipe Castellani, Camila Zappe, cAt, Fernando Codevilla, Hugo Fortes, Karla Brunet, Laura Zingariello, Lucas Gervilla.
O Festival acontece de 18 a 28 de Agosto de 2020, online nas redes sociais do LABART, Cento de Artes e Letras, CAL – Prédio 40, UFSM.
FACTORS 7.0 - Água e Sustentabilidade
Os artistas convidados para o FACTORS 7.0 compartilham em suas poéticas a água e a sustentabilidade como conceitos específicos de um argumento curatorial fundado na transdisciplinaridade entre arte, ciência e tecnologia. A água, abundante e limpa, deve ser preservada por meio de ações sustentáveis, pensadas além de fronteiras, de instâncias públicas e privadas, ou da ideia de nação e indivíduo. Preservar pressupõe uma ação conjunta e responsável aliada a uma atuação particular consciente e ética, na e para com a natureza. Nesse sentido, todos os artistas, cada um à sua maneira, tanto literal e direta, quanto transversal e insinuada, discutem o tema em suas obras e se aproximam da Agenda 2030 da ONU para políticas sustentáveis, nos objetivos 4-Educação de qualidade, 6-Água potável e saneamento, 12-Consumo e produção responsáveis e 14-Vida na água. Iniciamos com a obra “Horizontes de sal”, de Alejandra Isler. Uma linha de cristais e um vídeo projetado sobre ela, com partículas de sal e a palavra SAL, parecem movidos pelo vento na instalação. A obra compartilha a experiência in loco no deserto de sal e reconfigura a concepção de horizonte, tanto no uso do material e do virtual para associar natureza e arte, quanto na paisagem revelada como cenário da atuação humana. Sustentável (ou predadora), a interação entre o homem e o meio ambiente pode ser evidenciada no olhar tátil que a obra instala. Em “Transduções # 9”, água, corpos e tecnologia interagem nesta instigante performance audiovisual de Alessandra Bochio e Felipe Castellani, entre câmeras obsoletas e alto falantes. A condutividade da água transporta os sinais elétricos e sonoros pelo ambiente que geram um percurso improvisado no tempo, como parte do ato poético. Por outro lado, conduzem a atuação performática no espaço a reagir às interações provocadas. Nesta obra, os artistas experimentam os limites de um frágil domínio entre água e energia, perigo e controle. No vídeo “Ilhados”, de Camila Zappe, as gotas de d’água despertam o imaginário poético e, como uma lente líquida, permitem vislumbrar o mundo externo através de janelas e horizontes particulares. Mas ao indicar o dia a dia do isolamento social com a pandemia, “Ilhados” também revela pontos de vista emergentes. Sejam das situações artificiais geradas no momento de tensão entre a circularidade sem fim da cena ou da própria obra cujas imagens, em vórtice, convergem para um fluxo, sem saída. “Sopro” e “Toque”, do Grupo cAt, configuram-se como objeto e instalação de um sistema poético interativo, em que a água, o elemento primordial da vida, revela, na transparência, a sutileza entre o som e o silêncio, o movimento e o repouso. As obras, seja para gerar energia, por meio de tecnologias simples como cata-ventos ou sensores táteis, seja para chamar atenção de fontes de energia limpa na interação com o público, discutem a sustentabilidade energética, também na Arte. Em “Ondear”, de Fernando Codevilla, a dinâmica repetida dos pingos de chuva define, na superfície da água, um ritmo visual e sonoro contrastante. De estranhamento, tanto pela coloração metálica que às vezes a imagem assume, quanto pelas ondas que parecem gerar energia acústica; ou de familiaridade, seja no som da chuva na água, ou no movimento concêntrico dos pingos. O vídeo explora com sensibilidade a fluidez de um fenômeno natural para propor padrões audiovisuais inusitados. O vídeo “Amazônia Insomnia”, de Hugo Fortes, revela paisagens de efeitos quase caleidoscópicos, com rebatimentos, sobreposições, reflexos e transparências de imagens dos rios e da floresta amazônica. Neste cenário poético, a sonoridade suave, repetida e marcante, gera um convite à contemplação ativa de um imaginário, tanto na intensidade do movimento espelhado das águas, quanto na pulsação de uma energia que emana das forças da natureza, evocando uma sensibilidade ancestral. Um convite à preservação das culturas nativas. Em “Fronteiras Fluidas”, a água, um mapa e três fronteiras definem a experiência da natação selvagem realizada por Karla Brunet, no lago Prespa, encontro entre Grécia, Albânia e Macedônia do Norte. O vídeo revela imagens e sons que vão desde a paisagem real, explorada no movimento do nado e do mergulho, até imagens poéticas, manipuladas para enfatizar a êxtase do encontro em um território fluido. A linguagem videográfica marca, no tempo, esse momento intimista das relações da artista e a natureza, do corpo e a água, como fronteiras líquidas. A instalação “Estudos imaginários sobre seres possíveis”, de Laura Zingariello, define um espaço híbrido de componentes, orgânicos e inorgânicos, encontrados e recolhidos pela artista para recriar um recife de corais. A obra traz uma crítica contundente à poluição nos oceanos, com materiais sintéticos para estruturar os corais embranquecidos, e dispositivos low tech para luz e movimento artificiais. Nessa interação entre os corais e meio ambiente da exposição, o público contempla a degradação de um ecossistema. Com “Piletas”, Lucas Gervilla traz em videoarte uma série de intervenções sonoras nas piscinas de Epecuén, antes do rompimento de uma barragem e inundação da cidade. Em um lapso espaço-temporal, as “Piletas”, vazias e silenciosas, são preenchidas por uma sonoridade contagiante que invade todo o lugar. Tanto o plano panorâmico da paisagem destruída, quanto os detalhes das piscinas abandonadas, são acompanhados no percurso impactado e crítico do olhar do artista. Cada um dos artistas compartilha nesta exposição a água como elemento problematizador de uma prática visual, sonora, tátil, audiovisual, digital, através de obras e projetos, para sensibilizar de modo poético e crítico, político e criativo, o público que visita a exposição, este ano com exibição online devido a pandemia de Covid-19. Uma tarefa difícil para a curadoria, a expografia e a mediação da sétima edição do Festival. Um desafio, como a mostra online no Instagram, Facebook e Youtube do LABART, que permite o acesso à visualização das seis obras em vídeo, mas as demais somente como vídeo-documento. Sem dúvida, assistir as obras pelo IGTV do Instagram ou pelo Youtube, no celular ou no computador, não é o mesmo que estar diante de grandes telas ou projeções no espaço físico de uma sala de exposições. Entretanto, mesmo assim, conseguimos realizar o FACTORS 7.0, cuja experiência online foi exitosa, sobretudo para pensá-la não como um fim, mas um meio de apoio para outras estratégias curatoriais e expográfica das próximas mostras in loco. É o que temos para 2020!
Curadoria: Nara Cristina Santos e Mariela Yeregui.
Assistente curatorial: Manoela Vares, Flávia Queiroz e Alice Siqueira.
Imagens | LABART