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Filmes e saúde mental

O CineMental busca combater estigmas sociais relacionados a transtornos mentais através da exibição de filmes



Sofrimentos psíquicos de moderados a graves são cada vez mais comuns. De acordo com o Manual Merck de Informação Médica, 20% da população mundial sofre de transtornos mentais alguma vez na vida. Para combater os estigmas que existem com relação aos desequilíbrios da saúde mental, o CineMental foi criado em junho do ano passado para promover a discussão do assunto a partir da exibição de filmes. O projeto era um sonho antigo da médica psiquiatra Martha Helena Oliveira Noal, que coordena a Associação de Familiares, Amigos e Bipolares de Santa Maria (AFAB) e o Espaço Nise da Silveira.  “A comunidade precisa cada vez mais se inserir nos temas da saúde mental de forma clara e realista, quebrando tabus e preconceitos que se perpetuam há gerações”, argumenta a Martha.

 

As exibições, que acontecem na sala 316 do Antigo Hospital Universitário, dão oportunidades para ampliar a visão de mundo dos participantes. “São debates de alto nível, desencadeados após os filmes, onde a troca de saberes permite a integração de estudantes e profissionais de saúde, com seus conhecimentos teóricos e práticos, com a experiência viva de quem passou por circunstâncias representadas nos filmes”, afirma Martha. A maioria dos filmes apresentados têm em comum o deslocamento de pessoas da sociedade por alguma desrazão, contudo “ao final de todos [os filmes] fica o questionamento sobre qual a maior desrazão: se é a dos que adoecem ou daqueles que segregam seres humanos sob o juízo de que não seriam aptos para viverem em sociedade”, aponta Martha.

 

A AFAB é um projeto de extensão do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e já recebeu prêmios nacionais relativos a suas atividades. O Espaço Nise da Silveira coordenado pela psiquiatra foi criado no ano de 2015 para complementar as ações da Associação em relação a capacitação e articulação da saúde mental. Além do CineMental, existem outros projetos promovidos no Espaço, como:

 

  • Projeto Comunidade de Fala: proposto pelo ativista em saúde mental Richard Weingarten, com apresentações de narrativas de usuários de serviços de saúde mental visando a quebra do estigma e preconceitos sociais. Foram realizadas 33 palestras desde 2015.
  • Projeto de Extensão Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio: conta com 32 intervenções desenvolvidas na cidade e região, desde a sua criação em junho de 2014. É realizado em parceria com o Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (NVEH).

 

Para comemorar o aniversário da Associação, que completa 20 anos no mês de maio, foram organizadas atividades, no dia 31 de maio. A celebração começa às 15h, na sede da SEDUFSM (rua André Marques, 665).

 

Confira a lista com seis filmes exibidos com comentários da médica psiquiatra Martha Noal:

 

 

 

Estamira – O documentário mostra como vivem Estamira e seus amigos em um lixão do Rio de Janeiro. “Apesar de se expressar através de seus delírios ao longo de todo o longa, [Estamira] se revela sábia quanto às noções de sobrevivência, resiliência, ecologia, antropologia, fazendo uma crítica social aos tratamentos desumanos e a sociedade de consumo. De “trocadilho” em “trocadilho”, ela vai desconcertando os “copiadores” que se limitam a repetir ações sistemáticas sem reflexão”.

 

 

Uma Mente Brilhante – É apresentada a vida do matemático ganhador do prêmio Nobel John Forbes Nash Jr. “O filme mostra como é possível a superação, mesmo de quadros psiquiátricos graves, com um bom suporte clínico e familiar. A importância de se continuar dando vasão às potencialidades da pessoa em tratamento, mesmo compreendendo que em alguns casos, não se conseguirá atingir o padrão de funcionamento prévio ao adoecimento. É uma aula de reabilitação psicossocial.”

 

 

Heleno Narra a história do jogador de futebol, do auge de sua carreira de sucesso ao declínio e morte num manicômio, esquecido pela família e sociedade. Baseado em fatos reais, desperta a inquietação sobre qual desfecho sua vida poderia ter, se tivesse recebido um tratamento digno e humanizado.”

 

 

Menos que Nada – “Do diretor gaúcho Carlos Gerbase, transita pelos preceitos da psicanálise, da teoria sistêmica e da psiquiatria social com maestria, fazendo um contraponto da psiquiatria ortodoxa com a psiquiatria humanista. Aassepsia e mesmo a ética do cientificismo é posta à prova por outra ciência, tão moderna quanto antiga, das humanidades.”

 

Ciclo de Cinema em comemoração aos 20 anos

 

Em meio às celebrações dos 20 anos, foi sugerido pelo psicólogo, colaborador do projeto de extensão Dione Lemos, que fosse promovido um Ciclo de Cinema pelo CineMental. Então, todas as quintas-feiras do mês de maio foram exibidos filmes, diferentemente da habitual sessão que acontece somente na última quinta-feira de cada mês. Foram selecionadas quatro obras cinematográficas, confira o comentário da médica psiquiatra sobre duas delas:

 

Holocausto Brasileiro – “No filme dirigido pela própria autora do livro homônimo Daniela Arbex, as violações dos direitos humanos chegam ao seu grau máximo. Fome, frio, crueldade e descaso geram o que costumo denominar de ‘as bárbaras cenas de Barbacena’. Filme angustiante em sua dura realidade, chegou aos cinéfilos e profissionais da saúde, como um marco na reforma psiquiátrica brasileira, para que atrocidades como aquelas não se repitam jamais.”

 

Nise o coração da Loucura – “Narra a trajetória da psiquiatra alagoana, pioneira na humanização dos tratamentos psiquiátricos, ao sair da prisão e retornar para o trabalho no Hospital Dom Pedro II, atual Instituto Nise da Silveira. O filme explicita as resistências enfrentadas por Nise, os maus tratos aos quais os pacientes eram submetidos, e o apogeu de sua técnica, com exposições das obras do Museu de Imagens do Inconsciente no Brasil e no exterior, com o aval de Carl Gustav Jung.”

 

Para finalizar o Ciclo de Cinema, o próximo filme a ser exibido pelo CineMental é Nise – o coração da loucura, no dia 25 de maio, às 14h30, sala 316 no prédio de apoio da UFSM (rua Floriano Peixoto, 1750).

 

Para mais informações sobre a programação da AFAB basta entrar em contato pelo telefone (55) 3220-9238 ou acessar a página no Facebook.

 

Repórter: Julia Goulart
Ilustração de capa: Ítalo Paula

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