Após um ano de pandemia, as novas variantes do vírus causador da covid-19 são motivo de alerta para especialistas no assunto. Para esclarecer as dúvidas sobre o tema, a Equipe da Agência Da Hora entrevistou dois pesquisadores do tema.
As variantes do novo coronavírus, o SARS-CoV-2 , são versões mutantes do vírus causador da covid-19. O surgimento de variantes na replicação dos vírus é um comportamento comum e esperado pelos estudiosos no assunto. Algumas são, inclusive, prejudiciais para a perpetuação do vírus. Entretanto, em alguns casos, elas representam maior facilidade na proliferação e disseminação dele. Foi o que aconteceu com algumas variantes do novo coronavírus encontradas no Brasil.
Com o crescente número de casos de covid-19 registrados no Brasil, o país vira palco para circulação de novas variantes. Esse cenário acontece por meio das mutações dos vírus, que acontecem durante o processo de replicação viral. O doutor em Genética e Biologia Molecular e coordenador dos cursos de Ciências Biológicas e Medicina Veterinária da FEEVALE diz que a mutação ocorre quando temos uma troca na base do genoma. ‘’No caso do SARS-CoV-2 é um genoma de RNA que tem a troca de uma letra nas bases que compõem o RNA e pode acarretar ou não na troca de um aminoácido, uma outra letra por uma proteína, e a partir daí podemos ter alterações no comportamento do vírus’’, explica Fernando Spilki.
O professor afirma que, à medida que o vírus tem acesso a muitas pessoas, o que pode acontecer é um processo de mutação, que se dá ao acaso. ‘’O que acontece é que quanto mais gente infectada, mais mutações nós teremos’’, destaca.
Para respondermos a algumas das principais dúvidas sobre as novas variantes do SARS-Cov-2, conversamos com o médico André Freitas, doutor em Epidemiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e autor de diversos artigos publicados em revistas científicas. Confira:
De 0 a 10, qual o nível de preocupação que devemos ter em relação às novas variantes?
A variante que mais preocupa é a variante p1, que tem demonstrado um capacidade maior de transmissibilidade. Além disso, vários estudos sugerem que ela é capaz de causar uma proporção maior de formas graves e de casos necessitando hospitalização, além de mais casos que evoluem para óbito. Parece que essa gravidade tem sido observada com maior intensidade nos jovens sem doença prévia.
Quais variantes estão circulando pelo Brasil?
Duas variantes estão predominando, a p1 e a p2, contudo a p2 tem menor transmissibilidade do que a p1, que se originou no Amazonas e de lá se espalhou para todo o país.
Como surgem as novas variantes?
As novas variantes surgem justamente no momento em que se dá a oportunidade, seja por vacinação lenta ou por não se restringir o número de pessoas que o vírus pode infectar. Assim vai se dar esse processo, a transmissão dessas variantes, uma nova via evolutiva.
Segundo André, em seu artigo intitulado Variantes emergentes do SARS-CoV-2 e suas implicações na saúde coletiva, publicado na revista Interamerican Journal of Medicine and Health, as reinfecções pela doença se tornarão ainda mais graves com o aumento da circulação das variantes. Para evitar esse cenário, o médico reforça: “Distanciamento social e a necessidade de acelerar o processo de vacinação, para reduzir a possibilidade de circulação desta e de possíveis futuras linhagens que, ao acumular mutações, podem vir a se tornar mais infectantes, inclusive para indivíduos que já tiveram a doença”.
Mesmo com a vacina, o cenário é crítico, em que os casos aumentam a cada dia que passa. Fernando aponta que a melhor saída diante de tudo isso seria aliar a vacinação com medidas de distanciamento efetivas, que evitassem que as pessoas tivessem contato ou possibilidade de aglomerações, minimizando a transmissão do vírus. ‘’Mesmo em países com uma aceleração maior do que a nossa na vacinação, essas medidas têm sido aplicadas pontualmente. Então precisamos desde distanciamento estratégico em algumas localidades, como até um lockdown durante o processo em que se está imunizando a população’’, frisa o pesquisador.
No mesmo artigo, André ressalta que “O desafio imposto pelo SARS-CoV-2 não termina com a introdução das vacinas, muito ainda deve ser feito nos próximos meses e anos em termos de vigilância epidemiológica, virológica e estudos nas áreas.’’
Reportagem: Camila Amorim e Fernanda Vasconcellos
Edição: Alice Pavanello e Luciana Carvalho