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Represente Sua Voz: Negritude



Nós precisamos falar sobre a solidão da mulher negra.

A construção de identidade e aceitação da beleza preta foi o conceito pretendido. O corpo preto feminino é objetificado e sexualizado; o cabelo crespo é carregado de adjetivos pejorativos e nossos traços são vistos como inferiores. O ensaio visa empoderamento: reeducar o olhar, os próprios e os dos outros no processo de aceitação e autoamor pelo nariz largo, a boca grande e o cabelo crespo no longo processo solitário e doloroso em reconhecer-se bela.No objetivo de retratar e possibilitar um novo olhar a beleza preta feminina, é preciso entender o corpo preto como corpo político, cada escolha estética diz sobre a vontade de existir e resistir. Defender que a estética preta como identidade, (re)configurar o ideal desenvolvido por uma sociedade tradicionalista com dificuldades em aceitar a diversidade cultural, ideológica e racial. O ensaio fotográfico produzido pelo estudante de Jornalismo João Marcelino, intitulado como Poder, cor e raça, é inspirado pela vivência de milhares de mulheres negras que lutam pelo reconhecimento, igualdade e respeito.

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Nossa sociedade é estabelecida por padrões estruturados para serem seguidos. Padrões brancos e patriarcais. E essa padronização afeta todos corpos que são diferentes, principalmente as mulheres negras. Elas, que estão fora dessas mulheres padronizadas que se enquadram na beleza que é vendida e colocada como perfeita: branca, cisgênero e magra, que não cabem no estereótipo da beleza eurocêntrica tida como padrão a ser estabelecido, constantemente são colocadas no lugar de amantes. Não são assumidas, correspondidas e respeitadas pelos companheiros. Seus corpos servem na mesma função racista que na escravidão.

“[…] Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras têm sido consideradas ‘só corpo, sem mente’. A utilização de corpos femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de outros escravos era a exemplificação prática da ideia de que as ‘mulheres desregradas’ deviam ser controladas. Para justificar a exploração masculina branca e o estupro das negras durante a escravidão, a cultura branca teve que produzir uma iconografia de corpos de negras que insistia em representá-las como altamente dotadas de sexo, a perfeita encarnação de um erotismo primitivo e desenfreado.” (HOOKS, 1995, p. 469)

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Segundo pesquisa do IBGE (2018), estima-se que no Brasil 7,8 milhões de lares são geridos por mulheres negras. Deste total, 61% dessas mulheres são mães solo, isto é, não compartilham igualitariamente a maternidade com o pai de seus filhos ou algum companheiro (a). Outro dado agravante, que escancara ainda mais o racismo estrutural em nossa sociedade, é que 63,3% das casas geridas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza. A partir desses dados, nota-se a solidão da mulher negra ao se ver tendo que criar e educar os filhos sozinha, além de ter que trabalhar para garantir a subsistência de sua família. Muitos olham para esta mulher e se dirigem à ela com admiração, ao exclamar adjetivos como “GUERREIRA”. Entretanto, não seria esse adjetivo a naturalização da sobrecarga a qual a mulher negra está sujeita? 

O intuito dessa produção é nos conduzir a um processo reflexivo a partir das seguintes questões: A que condições de trabalho essa mulher está condicionada? Quem se relaciona com as mulheres negras e mães solo? Quem cuida dessas mulheres que cuidam de tudo em suas casas? Quando há tempo para a mulher negra? Quem cuida dos filhos das mulheres negras enquanto muitas delas estão ocupadas cuidando dos filhos de outras mulheres para garantir a sobrevivência dos seus?

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O trecho acima  é um grito de revolta contra as constantes violências as quais a mulher negra foi e é submetida. A propósito, compreendemos que na sociedade patriarcal em que vivemos, toda mulher está sujeita à violência. Entretanto, não podemos negar que quando olhamos para violência sofrida por mulheres a partir da ótica “gênero, raça e classe social”, há especificidades em torno da mulher negra. De acordo com o Atlas da violência de 2019, Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%. Em números absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o crescimento é de 1,7% e entre mulheres negras de 60,5%. Ademais, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, uma perspectiva demasiadamente angustiante para a mulher negra, que teme por si mesma e por seus filhos.

“A mulher do terceiro mundo se revolta: Nós anulamos, nós apagamos suas impressões de homem branco. Quando você vier bater em nossas portas e carimbar nossas faces com ESTÚPIDA, HISTÉRICA, PUTA PASSIVA, PERVERTIDA, quando você chegar com seus ferretes e marcar PROPRIEDADE PRIVADA em nossas nádegas, nós vomitaremos de volta na sua boca a culpa, a auto-recusa e o ódio racial que você nos fez engolir à força. Não seremos mais suporte para seus medos projetados. Estamos cansadas do papel de cordeiros sacrificiais e bodes expiatórios” – Kathy Kendell, 1980

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