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A febre de sentir



 

Matheus Santi – m.ribeirosanti@yahoo.com.br

Após os primeiros contatos e inicial troca de informações, as entrevistas foram marcadas. Todos se surpreenderam com o tema. Talvez não esperassem ser contatados por esse motivo, com esse viés. “Professores da UFSM que produzem literatura” dizia o corpo das mensagens; este era o tema. “É uma ótima pauta”, comentara um deles. Uma ótima pauta que ainda duvidava de si mesma…

Afinal, sobre o que era a pauta? Professores? Escritores? Literatura? Magistério? Nem o repórter sabia ao certo. Havia uma ideia. Havia as fontes. Havia entrevistas marcadas. “Melhor seguir com as entrevistas e ver no que dá…”, ele pensou e assim o fez. Formulou algumas perguntas, ainda desnorteado pela instabilidade do tema. Agendou as entrevistas e, no dia e hora marcados, pressionado pelo fluxo do tempo que não volta, saiu a realizá-las.

No Departamento de Letras, óbvia opção inicial, conversou com o professor Orlando Fonseca. Na História, alternativa tão óbvia quanto a primeira, contatou o professor Vitor Biasoli. As Ciências Sociais contribuíram com o professor Humberto Zanatta. Por último, Rondon de Castro surgiu da Comunicação. Sabia que havia mais. Havia outros. Mas os limites de possibilidade foram rígidos. Talvez numa outra oportunidade…

As entrevistas começaram pelo início, e pelo início começaram eles. De forma geral, todos principiaram suas experiências nas frases e versos durante a adolescência. Os egos inflados pelas paixões e a certeza de que podiam fazer algo de qualidade trouxeram os primeiros rabiscos, ainda prematuros. A inspiração, a abdução do momento sobrepunha-se à técnica; situação que, hoje, conseguem controlar. Acreditam na inspiração como parte importante, a matéria-prima é o que sensibiliza. Mas procuram a experiência e a organizam, disciplinam. Veem na alta motivação pessoal a fonte da inspiração.

Seguindo o exemplo machadiano (do autor defunto ou defunto autor), o repórter pede que hierarquizem suas atividades: consideram-se professores escritores ou escritores professores? Os pensamentos vagam por um momento e pousam sobre a primeira opção. A profissão garante a sobrevivência. Num país que não valoriza seus escritores, a escolha entre a escrita e o magistério torna-se difícil, ou mesmo improvável. Por outro lado, a sala de aula é mais que uma fonte de renda. Num mundo ideal, em que poderiam viver da literatura, não se enxergam devotados somente a ela. A sala de aula os puxa numa abdução tão forte quanto os insights que os atravessam.

Ainda neste sentido, percebe-se a influência das aulas em suas escritas. Seja indiretamente, através do incentivo de novas leituras, comentários durante as aulas, circunstâncias humanas que servem de matéria-prima, seja diretamente, através da disciplina adquirida pelo rigor da ciência. E num ato recíproco, o reverso também ocorre; seja direta ou indiretamente, em comentários sobre livros e autores relevantes, ou (em âmbito mais pessoal) pela troca de experiências, a escrita influencia o dia a dia na sala de aula.

Com isso, ao emergir nos alunos o conhecimento da prática literária de seus professores, surge certa identificação por parte daqueles que gostam do assunto, certa admiração. Iniciam-se os diálogos sobre literatura e produção literária, os comentários e “truques”, dicas de escrita… Este conhecimento, segundo os professores, mexe com os alunos.

É feito, então, outro paralelo. O repórter pergunta, nas suas opiniões, o que é o ensino. Em primeiro lugar é considerado o estabelecimento de empatia entre o professor e o aluno, para então guiar, tirar do desconhecimento ao conhecimento, ajudar a descobrir as potencialidades. Em resumo, o ensino é visto como uma atividade modelar, de exemplo. O que seria, então, a literatura? E suas respostas são imediatas: uma das expressões da arte, do conhecimento; ou seja, uma impressão de mundo que relata o quotidiano e possibilita a construção de conceitos; a produção com as palavras do que se pode sentir e a perseguição desse sentimento. Conclui-se, com isso, que a literatura ensina e o ensino inspira.

Inspiração… O repórter achou por bem deixar por último a pergunta que sentiu ser a mais pessoal, apesar de ela já ter sido parcialmente respondida. “O que te inspira? ”. Nesse momento, o silêncio. O repórter viu seus olhares perdidos em horizontes interiores, e assim por alguns segundos, até que aqueles homens, com seus grisalhos, tentavam pôr em palavras o que vinham tentando pôr em palavras desde sua adolescência. Zanatta: “A visão de mundo, do mundo”; Fonseca: “A vida, o ser humano”; Biasoli: “Vivências, experiências íntimas, profundas, que precisam de resolução”; Castro: “Melhorar o mundo, a peregrinação da vida”. A resolução… tão sonhada pelos que escrevem. “A resolução é a escrita”, conclui Biasoli. “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir”, conclui Fernando Pessoa.

E assim o repórter se despede, não antes de tornar-se o entrevistado por alguns momentos. Lembrou-se do que um dos professores dissera no início. Realmente, era uma boa pauta. As experiências compartilhadas e assuntos abordados trouxeram-lhe certa satisfação. E apesar de ainda não saber ao certo sobre o que é a pauta, sente que valeu a pena, ou, no jargão, sente que rendeu. Afinal, sente que é preciso diminuir a febre de sentir, e isso lhe dá alguma esperança de resolução…

Bastidores da .TXT – O início dos sintomas

O primeiro desafio talvez tenha sido encontrar a pauta. A revista seria feita em pouco tempo e nenhum assunto me chamava atenção ou interessava. Alguns dizem que devemos deixar a inspiração chegar a seu tempo, outros, que a busca traz a inspiração. Digamos que me encaixo entre esses dois grupos e, por ironia do destino, foi exatamente isso que aconteceu.

Aguçados todos os sentidos para qualquer acontecimento que pudesse render uma reportagem, me vi cego, surdo, mudo, encapsulado numa bolha, impossibilitado de encontrar algo que me desprendesse. Até que um belo dia, desistente de pensar sobre o assunto, fui à livraria (paraíso, assim como a biblioteca, às mentes cansadas). Entre livros e livros, títulos e títulos, obras e obras, namorava alguns, rejeitava a outros, como de hábito, perambulando pelo recinto. A capa acinzentada de um livro recém-lançado chama-me a atenção.

Nada de extraordinário (não confunda-se simplicidade com feiura), um fundo cinza, uma estátua de anjo e o título “A morte como companhia”. Títulos sempre me puxam e bons títulos me abduzem. Escrito por Rondon de Castro, que fora meu professor, portanto, mais um auxílio, a “companhia da morte” trouxe-me a inspiração.

Realizada a reunião de pauta, minha ideia foi lapidada e concluída em: professores da UFSM que produzem literatura. Novos desafios: Quem? O que? Quando? Onde? Como? Por que? Eu tinha uma ideia, agora precisava descobri-la. Precisava encontrar as fontes e contatá-las. Precisava estabelecer alguns limites. Precisava, principalmente, decidir de que forma seria feita. A única coisa que tinha era o gancho, causador da ideia.

A pauta foi se desenvolvendo, em seu próprio ritmo. Se chegou por si ou se foi trazida pela busca do autor, não importa; cada ideia tem seu tempo de preparo para que não saia crua ou queimada. Assim, uma luz puxava outra, até que o planejamento concluiu-se. Restava ver se poderia fazer o que imaginei.

“Pensei em escrever um texto mais literário, posso?”

“Sim, tua pauta pede um texto bem literário. Inclusive seria interessante que tu usasses artes invés de fotos.”

“Sim, pensei nisso e já tenho algumas ideias. Na verdade imaginei três páginas: uma dupla, na qual a primeira seria uma espécie de capa, na segunda, texto, e o desenho de uma máquina de escrever que cobrisse a parte de baixo de ambas, e mais uma sozinha, com a continuação do texto e o desenho de uma pena.”

“Pode ser, mas a organização da revista veremos mais adiante, então não há número fixos de páginas, por ora.”

Recebidas todas as bandeiras verdes que precisava, restava fazer a matéria. Procurei possíveis fontes e encontrei seis nomes. Destes, restaram-me quatro. Dois não consegui realizar contato. Mandei mensagens por Facebook e via e-mail que foram prontamente respondidas. O interesse dos quatro interessou-me mais. Entrevista individuais marcadas. Gravador em mãos. Ouçamos e questionemos.

A recepção de todos foi sensacional. As respostas exalavam sinceridade. É sempre interessante ver pessoas recordando passados que ainda se fazem presentes. Após as entrevistas, todos conversaram um pouco, seja sobre literatura e magistério ou não. Senti que todos foram tocados pelo assunto, inclusive eu… principalmente eu… E o resto, bem, o resto é história, e história vira reportagem.TXT

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