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Rádio Universidade Resiste

Como a emissora continua em meio ao declíno da AM



O rádio alcança semanalmente 80% da população brasileira, segundo a Kantar IBOPE Media, mas enfrenta limitações técnicas: 68% das emissoras utilizam equipamentos com mais de dez anos de uso, de acordo com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT). Além disso, muitas emissoras AM enfrentam desafios logísticos e financeiros para migrar para a faixa FM, um processo iniciado em 2013 com o Decreto nº 8.139, que visa melhorar a qualidade de áudio e competitividade frente às mídias digitais. A migração exige investimentos em novos equipamentos, pagamento de outorgas (que variam de R$ 8 mil a R$ 4 milhões a depender da cidade e potência) e, em grandes centros, depende da liberação da faixa estendida após o desligamento do sinal analógico de TV, concluído em 2023. Esses custos e a demora na aprovação de projetos pelo Ministério das Comunicações e Anatel dificultam o processo, especialmente para emissoras menores. 

O sistema de Amplitude Modulada (AM) surgiu em 1906 e se consolidou no período pós-Primeira Guerra Mundial, com destaque para o grande alcance do sinal. A Frequência Modulada (FM), que surgiu em 1933 e se consolidou nos anos 1960, trouxe qualidade sonora superior, menos interferência e programação mais variada. Com o tempo, o rádio enfrentou novos desafios trazidos pela televisão, pela internet e pelas plataformas digitais. A sobrevivência do meio passou a depender da reinvenção de sua linguagem e formatos. 

Em meio a esse cenário, a Rádio Universidade 800 AM, da UFSM, destaca-se como exemplo de adaptação e compromisso com a comunidade, com operação mantida em AM e alcance ampliado via streaming online. A emissora resiste aos desafios e inova com a transmissão online, que expande sua audiência globalmente. Durante a enchente de maio de 2024, no Rio Grande do Sul, a Rádio Universidade permaneceu no ar enquanto outras mídias sofreram interrupção por falta de infraestrutura digital. O diretor do Núcleo de Rádios da UFSM, Jonathan Ferreira, relembra o período: “A FM ficou fora do ar por 15 dias. Já a AM seguiu no ar e informou a população.” A equipe da universidade organizou uma campanha que arrecadou rádios AM e os distribuiu às comunidades afetadas, o que reforçou sua relevância social. 

A UFSM mantém duas emissoras: a Rádio Universidade, inaugurada em 1968, e a UniFM 107.9, lançada em 2017. Ambas desempenham papel relevante na formação universitária e na prestação de serviço público. A Rádio Universidade e a UniFM nasceram com o objetivo de divulgar as atividades da instituição e, conforme estimativa do Núcleo de Rádios da UFSM em 2020, chegou a ultrapassar um milhão de ouvintes. De acordo com dados fornecidos pela direção das Rádios, a Universidade AM alcança 51 cidades da região, enquanto a UniFM cobre cerca de 20 municípios, com audiência aproximada de 480 mil pessoas. A programação educativa, cultural e científica, apoiada por uma equipe multidisciplinar integrada à comunidade acadêmica, consolida a missão pública das emissoras, que transcendem a lógica comercial.

A programação da 800 AM inclui coberturas de vestibulares, congressos, projetos acadêmicos e eventos institucionais, além de conteúdos de cidadania e divulgação científica. “O rádio público não pode ser pensado com lógica comercial. Ele tem que chegar aonde o mercado não tem interesse em ir”, afirma Ferreira. A emissora conta com 10 servidores, entre jornalistas, sonoplastas e programadores, dois operadores terceirizados e bolsistas dos cursos de Jornalismo,  Jornalismo, Relações Públicas, Produção Editorial, Engenharia Acústica, Música e Tecnologia.


Ao longo de mais de cinco décadas, a 800 AM passou por diversas mudanças técnicas. Discos e fitas foram substituídos por sistemas digitais por computador, sistema esse que foi ampliado com o surgimento da conexão Wi-Fi. O locutor Roberto Montagner destaca que, com o streaming, a diferença de qualidade entre AM e FM deixa de ser relevante. “Hoje qualquer rádio pode ser ouvida online, de qualquer lugar do mundo”, explica. Embora muitas AM tenham migrado para FM, a 800 AM permanece em sua frequência original. “O grande diferencial do AM é o alcance geográfico. Ele chega a lugares que o FM não alcança, especialmente em regiões remotas”, observa Jonathan

Segundo o site Tudo Rádio, apenas três universidades no Rio Grande do Sul ainda mantêm estações AM: a UFSM, a UFRGS e a UCPel. O Atlas da Notícia de 2023 aponta que mais de 26 milhões de brasileiros vivem em “desertos de notícia” — municípios sem veículos jornalísticos locais. Neste contexto, emissoras universitárias, como a 800 AM desempenham um papel essencial ao oferecer informações de interesse público, programação educativa e cultural, além de dar visibilidade a comunidades negligenciadas pela grande mídia.

O pesquisador Luiz Arthur Ferraretto, da UFRGS, define em seu artigo científico “Uma proposta de periodização para a história do rádio no Brasil” que o atual momento da radiodifusão é de convergência, em que o rádio expande sua presença em podcasts, streamings e web rádios. Para ele, o futuro do AM dependerá de sua capacidade de adaptação às transformações tecnológicas e culturais. A Rádio Universidade AM mostra que é possível inovar sem abandonar a missão pública que a originou. Seu papel pedagógico, cultural e social sustenta sua relevância, mesmo em meio às ondas da crise.

Desesrtos de Informação

Quem vive em um deserto de informação enfrenta uma realidade distante e desconexa com o resto do mundo e até mesmo da sociedade, e são vulneráveis a possíveis desastres socioambientais. Um exemplo claro disso foi durante as enchentes de Maio de 2024 no Rio Grande do Sul que deixou centenas de famílias desabrigadas. Durante a tragédia as pessoas afetadas tinham dificuldade para se informar sobre pontos de coletas de doações e locais de abrigo, pois a energia elétrica foi afetada e a internet instável.

Para tentar mitigar este problema, foi lançado no dia 24 de Março de 2025 o Fundo de Apoio ao Jornalismo (FAJ). A primeira iniciativa no Brasil com o objetivo de apoiar o Jornalismo Local. Foram selecionadas até 15 organizações, que receberam entre R$75 mil e R$150 mil por ano durante três anos. Quem empreendia nesse setor sabe que, embora não fosse uma quantia absurdamente volumosa, esse tipo de recurso tem o potencial de transformar completamente organizações pequenas em veículos profissionais e de qualidade.


Repórteres: Renan Silveira, Pedro Felipe de Almeida, João Pedro Amaral

Fotos: Matheus Lanzarin/Acervo Rádios UFSM 

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