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POBREZA MENSTRUAL E SEUS REFLEXOS NO ÂMBITO ACADÊMICO



Abordagens do tema por um prisma socioeconômico na UFSM

Ilustração colorida na horizontal, com o desenho de peças íntimas manchadas de sangue na parte inferior. Na lateral esquerda do desenho, há uma calcinha azul, com uma mancha de sangue ao seu lado esquerdo que forma o símbolo transgênero. Na parte central, há uma cueca Boxer branca, com uma mancha de sangue formando, acima, o símbolo do cifrão. Na lateral direita , há uma calcinha-caleçon lilás, com uma mancha de sangue no interior , na parte superior, forma o símbolo transgênero. O fundo é em rosa pastel com textura de tecido ondulado.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a pobreza menstrual é uma questão mundial de saúde pública e dignidade humana, que surge a partir da limitação do acesso a saneamento básico, serviços de saúde e informação a quem menstrua. Dessa forma, pessoas que menstruam e estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica e privação da liberdade, são as mais afetadas pelo problema.

O ambiente acadêmico, por ser formado majoritariamente por pessoas jovens e em processo de conquista de estabilidade econômica, é um importante campo de estudo para esse tema. A UFSM acolhe milhares de estudantes de todos os cantos do país, que têm, entre si, contrastes de cultura e padrão de vida, o que dialoga diretamente com a questão.

Com base nisso, o fato de absorventes não serem distribuídos como item básico de higiene dentro das unidades de Casa do Estudante Universitário (CEU) da UFSM, onde moram estudantes com auxílio de benefício socioeconômico, é algo a ser avaliado. Os projetos de extensão relacionados ao tema, desenvolvidos na Universidade, são uma opção de ajuda, mas o cenário pandêmico limitou o alcance das atividades práticas. 

No Meu Fluxo: uma corrente do bem

Com o objetivo de defender o direito à dignidade de todas as pessoas que menstruam, surge o projeto No Meu Fluxo, que traz informações a respeito da saúde menstrual e promove o autoconhecimento. O projeto de extensão da UFSM, que conta com a participação de alunas das áreas da saúde e da comunicação, começou a atuar em outubro de 2021, através das redes sociais e de episódios de podcast. A acadêmica de medicina e participante do projeto, Tanize Milbradt, declarou que o principal intuito do projeto é focar em educação e saúde, para levar o acesso à informação a pessoas em situação de pobreza menstrual e tornar o assunto algo natural e desmistificado.

Impactos na saúde íntima

Segundo dados do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violação de direitos” do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), de maio de 2021, sabe-se que o uso de métodos improvisados para a contenção do sangue é algo comum em cenários onde não há garantia de acesso a produtos adequados. Dentre esses improvisos, estão o uso de pedaços de pano usados, roupas velhas, jornal e até miolo de pão. 

A médica Juliana da Rosa Wendt, orientadora do projeto No Meu Fluxo e especialista em medicina de família e comunidade, explica que a utilização desses meios alternativos traz uma série de riscos para a saúde, ocasionando infecções bacterianas e fúngicas. A Doença Inflamatória Pélvica, causada por essas infecções, atinge útero, trompas e ovários, podendo levar à infertilidade e até mesmo à morte.

Além da saúde íntima, a pobreza menstrual prejudica também a saúde mental, uma vez que a pessoa em condições de vulnerabilidade socioeconômica acaba se privando de ir à escola ou ao trabalho durante o período, o que acarreta inúmeras outras problemáticas sociais, por interferir na qualidade de ensino e na manutenção de renda. As consequências trazidas por esse problema não afetam somente pessoas com útero e deveriam ser questão de preocupação pública, já que, a cada pessoa que é privada de ter sua rotina com qualidade e integridade, indicam que falhamos como sociedade.

Todas por uma

A pobreza menstrual é resultado, principalmente, da desigualdade social, visto que quem mais é afetado por esse problema é quem não tem condições financeiras e estruturais para enfrentar um ciclo com garantia de qualidade. Estudantes da UFSM que moram na CEU lidam, na maioria das vezes, com a falta de recursos e com a precarização do espaço de higiene que, por ser em uma moradia coletiva, é dividido com várias pessoas.

A acadêmica do curso de Produção Editorial e moradora da CEU, Patricia Queiroz da Silva, conta que no apartamento onde mora cada pessoa é responsável pela compra de seus próprios itens de higiene e saúde. A estudante desconhece projetos que realizem a distribuição de absorventes e relata que, quando precisou, recorreu a outras moradoras.

Esse cenário expõe que pessoas que moram na CEU e não têm condições de arcar com o necessário para a higiene menstrual dependem da empatia e disponibilidade de outros moradores. O fato de ser difícil conseguir conciliar estudos e trabalho para manter uma renda destaca a importância de um auxílio efetivo para os estudantes em situação econômica delicada, visto que fatores socioeconômicos interferem diretamente no bem-estar e no rendimento acadêmico dos estudantes. 

Menstruação além de gêneros predefinidos

A inclusão de homens transgênero é outro ponto que não pode ser ignorado nesse debate sobre dignidade menstrual. O acadêmico de jornalismo Gabriel Escobar da Silva, relata que, muitas vezes, há carência de informações no atendimento médico disponibilizado a pessoas transmasculinas que fazem uso de hormônios. O jovem frisa também o fato de que pessoas trans que menstruam nunca estão nas campanhas sobre menstruação.

Essa exclusão se nota também no fato de haver uma quantidade limitada de pesquisas e dados relacionados a essa parcela social dentro da questão da pobreza menstrual. O preconceito acaba sendo um dos fatores determinantes para que homens trans não consigam ter o pleno usufruto de seus direitos e a garantia de um período menstrual seguro e digno.

Há ainda muitos outros vieses a serem abordados dentro dessa problemática. Pessoas em situação de rua, população carcerária, crianças e adolescentes em acolhimentos institucionais, entre outras minorias sociais, devem ser incluídas na pauta de combate à pobreza menstrual. A discussão sobre a necessidade de lutar contra a desinformação e a privação de liberdade e pela garantia de qualidade de vida para pessoas que menstruam é algo recente, mas sua importância é atemporal.

Dados e configuração social

Através de pesquisa feita por formulário online, disponibilizado por links em redes sociais, coletamos dados sobre o grau de instrução acerca da menstruação e das questões socioeconômicas e de gênero em que ela se insere. Os resultados da pesquisa, aplicada a 47 pessoas, mostram que 87,2% não conhecem iniciativas na Universidade que visam instruir sobre o assunto e combater a pobreza menstrual e apenas uma pessoa disse saber a quem recorrer no meio acadêmico em situação de vulnerabilidade financeira relacionada à compra de itens de higiene menstrual. Todos os participantes da pesquisa concordaram que o preconceito é algo que dificulta o acesso desse público a itens e a informações básicas. 

Link das respostas da pesquisa:

https://docs.google.com/forms/d/1NEwXuNFFJC7CdjF2PVXqioF09JScs8xAYzJcUmLzeZQ/edit#responses

Reportagem: Kemyllin Dutra

Ilustração: Andressa G. Gonçalves

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