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Carancho é uma ave de rapina encontrada em todo o Brasil, conhecida pelo voo poderoso e sentidos aguçados. Há 20 anos, o Carancho Aerodesign, projeto de extensão da UFSM, surgiu com o propósito de desenvolver academicamente estudantes de engenharia nos diversos setores que envolvem a construção de uma aeronave em escala.
Vinculado ao Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) e ao Centro de Tecnologia (CT), a iniciativa conta com cerca de 30 membros de diferentes cursos. Atualmente são acadêmicos de Engenharia Aeroespacial, Mecânica e da Computação, do curso técnico em Eletrônica e alunos do Ensino Médio Integrado do CTISM.
A equipe trabalha como uma empresa e existe uma divisão hierárquica entre capitães, gerentes de setor, membros e trainees, organizados nas seguintes divisões: Aerodinâmica, Desenho Assistido por Computador (CAD), Cargas e Aeroelasticidade, Estruturas, Engenharia de Sistemas, Estabilidade e Controle, Desempenho e Elétrica. Com o objetivo de desenvolver uma aeronave experimental para participar da competição anual de aerodesign da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), os estudantes realizam reuniões semanais para alinhar os setores e produção.
Hora de ganhar os céus
A competição SAE Brasil de Aerodesign é realizada no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, São Paulo. O evento conta com a participação de 80 equipes de universidades brasileiras e estrangeiras.
O regulamento é lançado anualmente, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, e antes mesmo de alçarem voo as equipes já são avaliadas. Em julho, ocorre a entrega de um relatório sobre o projeto. A aeronave precisa estar pronta para voar em setembro e qualquer mudança feita após esse prazo precisa ser justificada. A comprovação é feita por meio de um vídeo.
O Carancho participa da categoria Micro, que prevê aviões de pequeno porte com envergaduras de 1 a 2 metros. Para simular casos de ações humanitárias, como o envio de comidas ou roupas, os protótipos precisam extrair carga por paraquedas. As equipes podem ter até 25 membros.
Impacto na vida acadêmica
O Coordenador do Carancho, Professor Gilmar Fernando Vogel, frisa que os estudantes são incentivados a fazer pesquisas acadêmicas e escrever artigos para a revista Engenharia Automotiva e Aeroespacial da SAE Brasil. Ele afirma que todos os anos os alunos devem produzir trabalhos para a Jornada Acadêmica Integrada da UFSM (JAI).
O capitão técnico da equipe, Kassio Kochann, aluno de Engenharia Aeroespacial, conta: “Tudo o que eu sei sobre os detalhes da construção de uma aeronave é por causa do Carancho”. A capitã administrativa, Maria Eduarda Caldas, também acadêmica de Aeroespacial, diz que o projeto estimula o trabalho em grupo e ensina a lidar com pessoas.
A participação na equipe, oferece oportunidades significativas também na vida profissional. Muitos ex-membros conseguiram empregos em empresas de destaque por meio da visibilidade nas competições. Exemplos são: Airbus, Azul Linhas Aéreas Brasileiras (Azul), Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (Embraer) e Latin American Airlines (LATAM).
O egresso de Engenharia Aeroespacial, Fortunato Neto, foi membro e capitão do Carancho de 2016 até 2019. Desde 2022 trabalha na Boeing – empresa americana considerada uma das maiores do mundo na construção de aeronaves -, o ex-membro diz que participar da equipe trouxe uma perspectiva de engenharia na prática que não é visto na sala de aula. “Isso foi extremamente importante para o meu desenvolvimento profissional e interpessoal de relacionamento. Sem dúvidas foi um diferencial para a minha carreira”, explica.
Futuro à Vista
O processo seletivo para novos membros é aberto todo semestre. São efetivados aqueles que se mostram disponíveis e comprometidos ao longo do tempo. Experiência não é um diferencial. “Queremos que as pessoas novas entrem e aprendam, para passarmos o Carancho como herança”, relata Maria Eduarda.
Gilmar conta que um dos principais objetivos é conseguir levar aeronaves para todas as categorias da competição da SAE, com destaque para a classe Advanced (avançada), o que abrirá portas para a participação de pós-graduandos.
Preparativos para este ano
1º dia – Apresentações orais e recebimento das notas do relatório entregue em julho, que vale de 40 a 50% da nota do projeto.
2º, 3º e 4º dias – Competições de voo. Pesos são acrescentados aos aviões a cada voo para ajudar a avaliar o desempenho.
As competições trazem problemas reais enfrentados pela indústria aeronáutica. Vencem os projetos com melhor concepção e desempenho.
Ao todo, 21 equipes estão inscritas para disputar a categoria Micro. No ano passado, os santa-marienses ficaram na 11ª colocação entre 19 participantes. O último campeão é a MicroRaptor, time da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Reportagem: Alexandre Viera La Bella e Gabriele Araujo Mendes
Contato: alexandre.bella@acad.ufsm.br/gabriele.mendes@acad.ufsm.br