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Inclusão sob medida

Projeto da Terapia Ocupacional usa impressão 3D para criar dispositivos únicos e proporcionar autonomia



Para escutar o áudio da reportagem, clique abaixo:

Impressão da prótese

Reconhecer o que constitui a sua identidade é enxergar as atividades que preenchem o tempo e lhe dão sentido. Cada gesto simples da rotina é carregado por autonomia, significado e pertencimento. Essa é a perspectiva de ocupação que guia o trabalho de terapeutas ocupacionais. Quando o corpo enfrenta barreiras para se expressar, os profissionais entram em ação para devolver essa capacidade e, assim, reconstruir sua independência.

Fazer as unhas, abrir o fecho da mochila, cortar carne, tocar piano e tantas outras ações imersas no cotidiano revelam-se objetivos de pessoas com diferenças funcionais. A Terapia Ocupacional (TO) desenvolve o olhar atento para essas minuciosidades, a percepção sutil torna-se ferramenta clínica. Seu trabalho é moldar estratégias para que seus pacientes possam viver práticas diárias com dignidade.

No curso de Terapia Ocupacional da UFSM, o projeto de extensão Incluir Tecnologias Assistivas (IncluirTA) representa a união entre sensibilidade e técnica. A iniciativa desenvolve dispositivos de tecnologia assistiva para dar suporte a pacientes que, por motivos físicos, mentais ou emocionais, apresentam dificuldades em realizar tarefas do dia a dia. Os recursos produzidos pelo grupo fazem parte do campo da Tecnologia Assistiva (TA), dedicado a desenvolver uma variedade de soluções, das ferramentas mais simples até sistemas complexos. São exemplos disso próteses, órteses, cadeira de rodas, aparelhos auditivos e bengalas, os quais proporcionam participação ativa de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida na sociedade.

As múltiplas possibilidades de criação e inclusão proporcionadas pela área chamaram a atenção da professora Daniela Tonús desde a graduação. Quando o departamento do curso adquiriu uma impressora 3D, a docente viu uma oportunidade de colocar seus estudos em prática. A iniciativa resultou na criação de uma ação extensionista e na incorporação do tema à disciplina de Prática Supervisionada. O Incluir Tecnologias Assistivas iniciou suas atividades no início de 2025 e, junto da coordenadora, trabalham seis extensionistas, um responsável pela modelagem e impressão 3D, o estudante Julio Cesar Lima, e  também a docente do curso de TO, a Dra. Aline Ponte. Para abraçar as demandas da comunidade, o projeto tem parcerias com instituições que trabalham com qualidade de vida e inclusão. Entre elas, destaca-se a Associação Colibri, organização de Santa Maria que promove o bem-estar para pessoas que necessitam de suporte físico ou intelectual.

Quando ouvir é acolher

No primeiro contato com os pacientes, a equipe do IncluirTA busca identificar mais do que limitações físicas. Por meio de um questionário específico aplicado pelas estudantes de TO, as expectativas, motivações e receios de cada caso são revelados. A professora Daniela explica que as prioridades do paciente ficam em primeiro plano: “Eu trabalho uma perspectiva muito do que o paciente me traz como desejo, não do que eu vejo como uma possibilidade para ele”.

A escuta sensível e atenta foi essencial para a idealização da prótese de Fernando Moro, funcionário da Imprensa Universitária da UFSM e  primeiro paciente atendido pelo IncluirTA, encaminhado pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP). Após um acidente de carro em 2023, Fernando teve parte do braço esquerdo amputado, acima do cotovelo. Antes do projeto, utilizava uma prótese fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), contudo, sua adaptação não foi bem-sucedida. “Ela era grande demais, pesada demais. Usei poucas vezes, não me acertei”, reconhece Fernando. Além de instruções básicas, ele não recebeu treinamento para usar o aparelho, o que levou ao quase total abandono.

O trabalho desenvolvido pelo projeto busca produzir tecnologias assistivas únicas, conforme as necessidades diárias de cada paciente. A voluntária e aluna de TO, Maria Eduarda Witschoreck, expressa como esse trabalho de escuta e pensamento clínico contribui para uma produção final mais assertiva. “A Terapia Ocupacional é muito focada nisso, na escuta real do sujeito, das suas necessidades, suas vontades e a realidade do seu contexto”.

No caso do Fernando, o grupo identificou questões relacionadas à produtividade e lazer que mereciam atenção ao elaborar o planejamento da prótese. “Ele tinha uma vida muito agitada – carregava peso, praticava esportes, tocava teclado -, isso são marcas importantes para levar em conta na produção”, explica a coordenadora. A solução foi um dispositivo leve, funcional e adaptado às suas atividades reais.

Análise do planejamento da prótese. | Foto: Mathias Ilnicki.

Conexão entre a mente e a realidade

No IncluirTA, a impressora 3D é a ferramenta que inaugura a possibilidade de criar tecnologias assistivas personalizadas, moldadas com precisão às demandas de cada paciente. O responsável técnico é o estudante do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria da UFSM (CTISM), Julio Cesar Lima. Autodidata em impressão 3D, Julio passou a integrar o projeto ao ser chamado para resolver problemas técnicos no equipamento. “Quando me convidaram, o projeto já estava em andamento, mas faltava alguém para ajudar com os aspectos técnicos da impressão”, afirma o estudante.

Além da manutenção e operação da impressora, Julio lidera a modelagem das peças no software Fusion 360, em um processo que envolve toda a equipe. Ter a oportunidade de trabalhar com uma tecnologia de alto nível enquanto estudante era algo que Maria não esperava: “É um processo demorado e desafiador, não vou negar. Mas é incrível ver o que eu criei no meu computador ser impresso de forma material com potencial de ajudar um paciente de verdade”, completa a extensionista.

Chegado o momento da impressão, entre camadas e fatiamentos, o dispositivo toma forma. A prótese de Fernando ainda não foi testada, mas o servidor da UFSM já demonstra sua satisfação com o projeto: “Acho que vai suprir as necessidades, estou na expectativa. Mas fui muito bem recebido pelas alunas, pelas professoras e fiquei bem agradecido”. O projeto Incluir Tecnologias Assistivas demonstra que tecnologia e cuidado podem caminhar juntos. A escuta às particularidades do cotidiano e a busca por soluções adequadas para cada caso tornam o atendimento um processo construído em conjunto entre paciente e profissionais. No encontro entre a Terapia Ocupacional e a tecnologia assistiva, dispositivos ganham um novo sentido: o de resgatar a autonomia.

Estudo de modelagem no Fusion 360 | Foto: Mathias Ilnicki

Para saber mais sobre o projeto, acompanhe o Instagram: @incluirta


Repórteres: Amanda Borin e Mathias Ilnick

Contato: amanda.borin@acad.ufsm.br / mathias.dalla@acad.ufsm.br

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