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Do centro ao esquecimento

A emblemática situação da CEU I: passado agitado, presente inerte e futuro incerto



Localizado no coração de Santa Maria há mais de 60 anos, está o prédio da Casa do Estudante I (CEU I), conhecida como CEU do Centro. Morada de muitos universitários ao longo do tempo, também é uma das residências do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM que transformou o local em um centro cultural com a Boate do DCE a partir da década de 80, desativada há dez anos. 

A TXT buscou conhecer os espaços da moradia, através de uma visita guiada pelo estudante de Relações Internacionais, e morador da CEU I, Robson da Rosa (foto). “Aqui era o local de encontro dos estudantes”, afirma  o estudante. Robson compartilha que, quando chegou, vivia na CEU lotada e dividia apartamento com mais três pessoas, algo muito distante da realidade de hoje. Ele lamenta a realidade atual da casa não ser a mesma de antes: “Hoje é só memória”. 

A foto na horizontal mostra um menino apoiado em uma janela, com o braço para fora, ele está observando a vista da cidade, onde ao fundo se encontram prédios e montanhas. Na imagem o estudante Robson, está na esquerda e se mostra de perfil encostado em uma janela, olhando para fora. Ele usa óculos e está vestindo um moletom cinza escuro com capuz branco, o cabelo é castanho escuro e está preso em um coque, Ainda ao fundo, vemos uma paisagem urbana da cidade de Santa Maria com prédios e, mais ao longe, montanhas cobertas por vegetação. A luz natural entra pela janela, iluminando levemente o rosto e a mão do homem. Se destacam tons de azul, verde, e creme na paisagem.
Robson na janela

Segundo o Portal da Transparência da UFSM, a CEU I tem capacidade para receber 167 moradores, mas atualmente apenas 72 vagas estão ocupadas. Os moradores relatam problemas de infraestrutura nos apartamentos. Mofo, vazamento de água, cupins, portas e janelas quebradas são alguns dos problemas. Robson, um dos moradores mais longevos da CEU I, questiona o futuro: “O novo sempre vem, será que o novo para a gente é ir para o Campus?”. A visita começa no térreo onde ficam o laboratório de informática e a biblioteca.

Robson apresenta o Laboratório de Informática, um dos poucos locais que os moradores da CEU I têm disponível para estudar. Entre os cerca de sete computadores contabilizados, apenas um funciona. Além disso, no chão branco da sala pequena, se destacam os resíduos de cupim que caem das mesas e armários de madeira. A Pró-Reitora de Assuntos Estudantis (PRAE), Giselle Guimarães, afirma que há um plano de reestruturação do laboratório que não saiu do papel por falta de orçamento. A próxima parada é a biblioteca.

O caminho do Laboratório de Informática até a biblioteca se passa no corredor estreito onde está uma pintura cubista: apresenta três homens que olham para baixo com ferramentas nas mãos, fábricas e campos ao fundo e materiais didáticos na parte inferior (foto). “Acho ela muito significativa porque, se olharmos bem, são trabalhadores do interior que vão estudar na universidade”, observa Robson. Ele é de Vale do Sol e chegou em Santa Maria para realizar o sonho da graduação na UFSM. Logo em frente, está a entrada para a biblioteca.

Robson destaca que a biblioteca é um local de estudo e encontro dos moradores da CEU do Centro. A sala contém estantes com livros e se tornou um espaço de convivência que os acadêmicos usam para se expressar, em uma das paredes se observa um grafite amarelo contornado em roxo escrito “CEU I”. Ao seguir pelo corredor, se encontra a secretaria do DCE.

A fotografia horizontal e colorida retrata a biblioteca da CEU I. Uma sala com várias estantes de livros, mesas e cadeiras. Na parte superior, o teto apresenta pintura em listras largas nas cores azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Logo abaixo, a parede de fundo é lisa e clara, com três estantes de madeira repletas de livros e papéis empilhados, sendo que a estante da esquerda está mais desorganizada, com pilhas irregulares. No centro da sala há várias mesas retangulares brancas alinhadas, cercadas por cadeiras pretas de encosto vazadas. No canto direito, encostada na parede, há uma estante de nichos amarelos e marrons com livros, à frente de uma cortina vertical azul clara. Na parte inferior direita, outra estante verde aparece parcialmente, também carregada de livros. O piso é de madeira desgastada e há uma mesa com tampo de vidro próximo ao canto inferior esquerdo da imagem.

O passado pulsante

A secretaria do  DCE na CEU I tornou-se um verdadeiro museu da organização estudantil da UFSM. Dividida em três salas, a primeira área é o auditório, um salão espaçoso, Robson diz que é o espaço utilizado pelos moradores para convivência. Na sala, se destacam algumas cadeiras, mesas e nas paredes há frases com temas políticos. Um tambor comprido no canto da sala evidencia a utilização do espaço por um projeto de extensão, a única marca da presença da universidade aqui.

Ao adentrar a segunda sala percebe-se o mural que ocupa toda uma parede com cartazes de eventos e propagandas do movimento estudantil, um deles convoca os alunos para a Assembleia Geral de 2010 . A sala parece perdida no tempo, em meio ao entulho, está a placa do auditório: “Auditório Adelmo Genro Filho, inaugurado em 07/06/91”. Já na terceira sala, quase não há como se mover com o volume de entulho. São mesas, cadeiras, pedaços de madeira, arquivos e jornais espalhados pelo chão e muito lixo.

A Boate do DCE e a Catacumba

A Boate do DCE e a Catacumba fazem parte da história da CEU I. Eram espaços destinados às expressões culturais dos estudantes, ambos localizados nos andares inferiores ao térreo. Ao descer a escada estreita primeiro se passa pela Boate do DCE, um salão grande com copa, banheiros e chapelaria. Nas paredes pretas se destacam caricaturas e grafites coloridos, frases de impacto e menções a bandas famosas como Rolling Stones. 

Com um globo espelhado no chão e garrafas de cerveja empoeiradas,  fica evidente que o espaço não é utilizado há algum tempo. Robson conta que as festas da Boate do DCE também eram uma forma de juntar dinheiro para as organizações estudantis da época. É preciso descer mais um pouco até chegar à Catacumba. O espaço é grande e alto, com paredes brancas e um palco. Robson diz que ali aconteciam festas com estilo alternativo, preferencialmente o rock. 

A fotografia é horizontal e colorida, ela retrata a antiga boate do DCE. O ambiente interno está escuro, com móveis de madeira empilhados, a única luz do cômodo vem das janelas de vidro. Na parte superior, a parede de fundo está coberta por tinta preta e grafites, com a sigla “DCE” em letras amarelas e pretas no centro, acompanhada das palavras “CHAPELARIA/CAIXA” em branco. Logo abaixo, há um balcão pequeno com moldura laranja e pichado. À esquerda, vê-se uma porta gradeada aberta, revelando uma sala pintada de laranja e com uma janela branca por onde entra luz. Na frente, ocupando a parte inferior, há mesas ou balcões de madeira virados de cabeça para baixo, recebendo feixes de luz. Ao fundo, a lateral direita permanece na penumbra.

A incerteza do futuro

Ao final do corredor, no 8° andar, está o apartamento de Robson. As moradias da CEU I são pequenas, apresentam dois quartos e uma cozinha, os banheiros ficam no corredor, um para cada apartamento. Ele divide o espaço com outro estudante. Robson, explica que um dos motivos da permanência na CEU do Centro é estar próximo das oportunidades de emprego. Ele destaca o envolvimento com a cidade: “Quando cheguei aqui, eu queria viver Santa Maria, então foi muito legal vir pra cá”.

O estudante não esconde a preocupação com o futuro da CEU I: “Isso é o que mais doi na verdade, saber que essa moradia tem potencial muito grande, tanto para quem é estudante pobre que chega, quanto para a comunidade no entorno”. Robson diz que o abandono da CEU é um projeto, segundo ele, não há mais interesse da universidade no espaço. “Muitas pessoas nem sabem que a CEU I existe e não vão saber porque não querem que saibam”,  afirma.

Atualmente, a CEU I não possui um Restaurante Universitário (RU) próximo da casa. Com a mudança dos cursos da Antiga Reitoria para o Campus as estruturas do Centro foram desativadas. Os moradores recebem um vale-alimentação de R$ 700 , o valor foi conquistado pela luta do movimento estudantil contra o valor anterior, R$ 250 . Além disso, os estudantes que vão até o Campus todos os dias, têm acesso ao vale-transporte do Benefício Socioeconômico (BSE) da Universidade que cobre 50% do valor das passagens.

A Pró-reitora de Assuntos Estudantis, professora Giselle Guimarães, afirma que há planos de reestruturação da CEU I e do RU do Centro que, segundo ela, estão travados por falta de orçamento ou “vontade política”. Ela explica que os alunos têm a liberdade de escolher para qual Casa do Estudante desejam ir e que o motivo do esvaziamento da CEU I é a baixa procura. Além disso, a ida de mais moradores para o Centro implicaria na reestruturação dos gastos nas CEUs, Giselle afirma que a universidade prefere que os alunos permaneçam na CEU II, localizada no Campus de Camobi.

A foto na horizontal mostra um menino apoiado em uma janela, com o braço para fora, ele está observando a vista da cidade, onde ao fundo se encontram prédios e montanhas. Na imagem o estudante Robson, está na esquerda e se mostra de perfil encostado em uma janela, olhando para fora. Ele usa óculos e está vestindo um moletom cinza escuro com capuz branco, o cabelo é castanho escuro e está preso em um coque, Ainda ao fundo, vemos uma paisagem urbana da cidade de Santa Maria com prédios e, mais ao longe, montanhas cobertas por vegetação. A luz natural entra pela janela, iluminando levemente o rosto e a mão do homem. Se destacam tons de azul, verde, e creme na paisagem.

Robson diz não acreditar no interesse pela revitalização do prédio: “Eu acho que isso não vai acontecer, não vão revitalizar a moradia, o esvaziamento é proposital, é um projeto que já vem acontecendo há anos”. Ele destaca o fechamento do RU do Centro como fator chave para os estudantes não se interessarem pela CEU I: “Limitou as pessoas de virem para cá”. Enquanto isso,  o berço da ocupação estudantil da UFSM já não grita com o fluxo de muitos estudantes e o que resta é o sussurro de uma moradia estudantil com metade de seus quartos vazios. 


Repórteres: Ellen Schwade e Thomas Machado

Fotografia: Mathias Ilnick

Contato: ellen.schwade@acad.ufsm.br / thomas.souza@acad.ufsm.br / mathias.dalla@acad.ufsm.br

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